O motoboy Marcos Brito, de 21 anos, é morador de Itaquera, na Zona Leste de São Paulo, e sonha em cursar administração pública, mas não sabe ainda se será possível por causa da questão financeira. A realidade dele é a de milhões pelo Brasil.
Se você não conseguiu uma vaga em faculdade pública pelo Sisu e vai tentar uma vaga em faculdade privada, saber a renda familiar líquida e botar no papel os custos todos são os primeiros passos para fazer a graduação caber no bolso, segundo especialistas ouvidos pelo g1.
Se ainda assim a conta não fechar, bolsas de estudo e financiamentos podem ser um caminho, mas é preciso ficar atento às condições. (Veja mais abaixo.)
Em casa, Marcos tem feito os cálculos. Desde que terminou o ensino médio, em 2018, ele trabalha em tempo integral. O irmão dele também trabalha e complementa a renda da família, composta ainda pela sobrinha de 4 anos.
O motoboy chegou a fazer o Enem 2023, mas não conseguiu uma vaga em universidade pública pelo Sisu. Apesar dos dois salários em casa, ele avalia que seria difícil pagar as mensalidades em uma faculdade privada. Por isso, considera tentar uma bolsa ou financiamento.
A preocupação dele também é a de muitas famílias. Em 2022, por exemplo, a renda domiciliar per capita média era de R$ 1.625, segundo dados mais recentes do IBGE. Com isso, a prioridade é entrar no mercado de trabalho, e a busca pelo ensino superior vem só depois.
E essa ginástica financeira para conseguir fazer uma faculdade é parte da rotina de muita gente. Em 2022, das quase 9,5 milhões de matrículas em cursos de graduação no país, 78% foram realizadas em instituições de ensino privadas.
Segundo Carol Stange, educadora e consultora financeira, não é comum no Brasil que os gastos todos com faculdade sejam considerados, o que pode comprometer a etapa de ensino. Apesar disso, a especialista explica que existe, sim, um cálculo possível, inclusive para famílias com renda limitada.
Abaixo, veja o que considerar na hora de calcular e quanto da verba familiar investir em uma graduação.
Como a renda familiar é composta — Foto: Freepik
Antes de tudo, é preciso entender como a renda familiar é composta. Imagine uma família de cinco pessoas, formada pelos pais, um irmão mais velho e dois mais novos.
Saber a renda familiar líquida e a renda per capita é importante para ter uma ideia de como e quanto da renda mensal deve ser gasta.
Apesar disso, ela explica que é possível fazer a seguinte divisão se a renda familiar permitir:
“Não há regra. A depender da estrutura familiar, a divisão pode ser de 60%-20%-20%, ou mesmo 40%-30%-30%. O importante é que esteja dentro da realidade daquela família”, diz a especialista.
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Quando se trata da faculdade, a educadora financeira diz que tende a considerar que 5% da renda familiar é uma boa fatia. Esse valor estaria incluso nas despesas fixas. “Daria até para pensar em 10%, mas seria uma forma de tentar simplificar algo que não é simples”, diz.
Não há uma fórmula universal, pois algumas variáveis podem impactar esse cálculo:
“Se um membro da família quer cursar medicina, pode fazer sentido comprometer o custo como se fosse um aluguel, de 20% a 30% da renda familiar, por um período de curto a médio prazo, porque depois o retorno financeiro pode acontecer, como um investimento mesmo”, explica Stange.
No entanto, esse cálculo é quase impossível para aquelas famílias limitadas à renda per capita de R$ 1.625. Em uma família de 5 pessoas, isso representa uma renda bruta de R$ 8.125.
O cenário mudaria se o curso de interesse fosse ciências contábeis. Neste caso, talvez o cálculo de 5% a 10% da renda fique mais próximo da realidade.
Outro elemento que pode impactar a verba familiar são os custos extras relacionados ao curso superior. Além da mensalidade, é preciso considerar também os gastos com equipamentos, material escolar, viagens e eventos da área - variáveis que, por si só, vão depender do curso escolhido.
Alguns cursos teóricos podem exigir do estudante participações regulares em eventos que discutam temas relacionados à graduação. Em contrapartida, cursos práticos podem carecer de equipamentos, alguns muito específicos, que demandem certo investimento financeiro.
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No Brasil, existe uma gama de opções que podem ser consideradas pelos alunos e suas famílias quando se trata de acesso ao ensino superior.
Algumas delas são simples e diretas, enquanto outras podem ser mais complexas e exigir certo comprometimento financeiro a médio prazo.
No âmbito do governo federal, existem três programas que auxiliam nesta etapa:
Além dos programas do governo, existem ainda outras opções oferecidas pelas próprias universidades ou por instituições financeiras, como:
Atenção: pesquise todas as condições das alternativas listadas acima antes de contratar uma delas.
G1