O candidato progressista taiwanês Lai Ching-te, 64 anos, apontado pela China como um “sério perigo” por suas posições a favor da independência de Taiwan, venceu a eleição presidencial realizada neste sábado (13), de acordo com resultados oficiais praticamente definitivos. "Um novo capítulo se abre na nossa democracia", disse o presidente eleito, apesar das insistentes ameaças de Pequim, que reivindica soberania sobre a ilha.
“Quero agradecer ao povo de Taiwan por escrever um novo capítulo na nossa democracia”, disse Lai Ching-te, em seu discurso para celebrar a vitória. “Dissemos à comunidade internacional que entre a democracia e o autoritarismo, estaremos do lado da democracia”, afirmou. “Graças às nossas ações, o povo taiwanês resistiu com sucesso aos esforços das forças externas para influenciar estas eleições”, declarou Lai Ching-te aos seus simpatizantes. “Estamos convencidos de que apenas o povo taiwanês tem o direito de escolher o seu próprio presidente", frisou, acrescentando que está determinado a defender Taiwan das ameaças e intimidações contínuas da China.
Poucos minutos mais cedo, seu principal opositor, Hou Yuh-ih, da sigla Kuomintang, que defendia a aproximação com Pequim, admitiu a derrota diante de apoiadores.
“Respeito a decisão final do povo taiwanês” e “felicito Lai Ching-te e Hsiao Bi-khim (vice na chapa) pela sua eleição, esperando que não desapontem as expectativas do povo taiwanês”, declarou Hou Yuh-ih, diante de seus simpatizantes.
De acordo com 98% das urnas apuradas, o presidente eleito Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (DPP), que ocupava até então o cargo de vice, obteve 40,2% dos votos. O opositor Hou Yuh-ih, 66 anos, ficou em segundo lugar na votação, com 33,4% dos votos. O terceiro candidato à presidência, Ko Wen-je, de 64 anos, do pequeno Partido Popular de Taiwan (TPP), que se apresentou como antissistema, ficou em terceiro lugar na disputa, com 25,3% dos votos.
Durante a apuração, os mesários das cerca de 18 mil seções eleitorais proclamaram em voz alta cada voto depositado nas urnas. A contagem foi aberta ao público.
Durante todo o dia, longas filas se formaram diante das seções eleitorais. Milhares de taiwaneses residentes no exterior voltaram à ilha para votar, uma vez que o voto fora de Taiwan foi proibido. Em 2020, a participação foi próxima dos 75% neste território de 23 milhões de habitantes, localizado a 180 quilômetros da costa chinesa e aclamado como modelo de democracia na Ásia.
Ao votar, o vencedor Lai Ching-te havia pedido aos eleitores "para mostrar a vitalidade da democracia taiwanesa”. “Todos deveríamos valorizar a nossa democracia e votar com entusiasmo”, declarou o candidato em um colégio no sul da ilha.
O opositor Hou Yu-ih afirmou, por sua vez, pediu a união dos taiwaneses qualquer que fosse o resultado da eleição.
Os interesses do presidente chinês, Xi Jinping, em Taiwan vão além do aspecto nacionalista de sua política expansionista. Vários fatores envolvem a rivalidade econômica com os Estados Unidos, pois Taiwan produz 92% dos semicondutores ultramodernos utilizados pela indústria em todo o mundo e geograficamente oferece um acesso mais rápido para os navios chineses alcançarem o Pacífico.
Durante toda a semana, Pequim aumentou a pressão diplomática e militar sobre o território autônomo. Na quinta-feira (11), cinco balões chineses cruzaram a linha mediana que separa Taiwan da China continental, segundo o Ministério da Defesa taiwanês, que também avistou dez aviões e seis navios de guerra na área. No último ano, a China fez 1.800 investidas militares ao redor da ilha.
Neste sábado, jornalistas da AFP observaram um avião de combate chinês sobre a cidade de Pingtan, a mais próxima de Taiwan. Na rede social chinesa Weibo, a hashtag “Eleições em Taiwan” foi bloqueada pela manhã. Pequim apelou aos eleitores para que fizessem “a escolha certa” e o Exército chinês prometeu “esmagar” qualquer anseio de “independência” dos taiwaneses. Entretanto, as ameaças não parecem ter intimidado os eleitores, que votaram ao longo do dia sem maiores incidentes.
RFI