O presidente do Equador, Daniel Noboa, 36 anos, que está no poder há pouco mais de dois meses, prometeu acabar com a crescente violência no país. Após decretar estado de emergência na segunda-feira (8), o chefe de estado anunciou que o Equador entrava em um conflito armado interno e pediu ao Exército para intervir e neutralizar grupos criminosos.
Mas para Diane Sarrade, professora na Universidade de Bordeaux, especialista no Equador e pesquisadora do Centro ibérico e ibero-americano da Universidade de Nanterre, esta situação "germinava há tempos".
Para ela, as razões da crise atual são muitas. "Infelizmente, o Equador se transformou em alguns anos em um corredor do tráfico de drogas proveniente da Colômbia, do Peru e do México e são muitos os grupos criminosos ligados aos narcotraficantes que disputam o território", diz.
Ela ressalta que durante os governos anteriores, do presidente Lenín Moreno (2017-2021) e de Guillermo Lasso (2021-2023), não foram tomadas medidas para limitar o poder dos grupos armados. Hoje, com a eleição do novo presidente e seu objetivo de aplicar um plano para reduzir o poder do tráfico, estas disputas começam a ser vistas de "maneira muito mais clara".
"O Estado é tomado pela corrupção e manipulado pelos grupos", diz a especialista, "infelizmente existe um 'narcoestado', com estes grupos dominando o poder".
Diane Serrade explica que o Equador não soube evitar a chegada desses grupos armados, a diferença de países como a Colômbia e o México, que "conhecem o problema e sabem lutar contra os traficantes. Já no Equador, o Estado não tem o poder nem a competência para lutar contra o tráfico", diz.
Por isso, o presidente Daniel Noboa pena para aplicar um plano eficaz.
"Essas máfias se instalaram no país exatamente devido a uma sensação de impunidade", explica. Eles podiam realizar o tráfico sem que o Estado incomodasse e sem obstáculos. Então, finalmente, nestes últimos anos, eles construíram um poder enorme porque o Estado não soube enfrentá-los ou melhor, enfrentar o poder gerado pelo dinheiro do narcotráfico", explica.
"A corrupção tem também um papel importante porque com o dinheiro das drogas, alguns funcionários fecharam os olhos para o trafico que se desenvolveu no país", completa.
Geograficamente e economicamente o país apresenta vantagens para os narcotraficantes. A primeira delas é o dólar. O Equador não tem uma moeda nacional e utiliza o dólar americano, que possibilita a lavagem de ativos.
"Graças ao dólar, a economia criminal é mais fácil de desenvolver", diz.
Do ponto de vista logístico, o país também conta com dois portos importantes, o de Guayaquil e de Santa Martha, que permite aos traficantes enviar a droga não somente para os EUA, mas para a Europa também.
Daniel Noboa, eleito com a promessa de trazer de volta a paz para o país, tem a intenção de implementar o plano Fênix, direcionado a dar às Forças Armadas um melhor preparo com as melhores armas para lutar contra o tráfico. "Hoje a realidade é que a polícia equatoriana está menos preparada que os traficantes de drogas, que os grupos criminosos. Então, o primeiro passo do presidente é treinar e armar a polícia, como ele mesmo disse", salienta a especialista.
"A preocupação, em comparação com outros países, é que o Equador tem 22 grupos criminosos ligados ao tráfico de drogas que estão em guerra entre si e eles estabeleceram uma economia criminosa, paralelamente aos sequestros, extorsões", explica. "Por isso, temos um sentimento de insegurança geral, que hoje a população equatoriana começa a sentir. Por isso o objetivo é dar um pouco mais de segurança, muito simplesmente concedendo mais recursos à aplicação da lei", observa.
RFI