O grupo Hamas estaria disposto a prorrogar a trégua na Faixa de Gaza por quatro dias, segundo informações divulgadas pelo movimento extremista nesta quarta-feira (29). O acordo para trocar reféns israelenses e prisioneiros palestinos está previsto para terminar nesta quinta-feira.
A trégua entre Israel e o Hamas entrou em seu sexto dia nesta quarta-feira e os mediadores internacionais tentam garantir um cessar-fogo "duradouro". O secretário de Estado americano, Antony Blinken, deve retornar a Israel e à Cisjordânia nesta semana.
"Nosso principal objetivo no momento, e nossa esperança, é alcançar uma trégua duradoura que leve a novas negociações e, em última análise, ao fim da guerra", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed Al Ansari. "Estamos trabalhando com o que temos. Podemos estender a trégua por um dia cada vez que o Hamas for capaz de garantir a libertação de pelo menos 10 reféns", acrescentou.
Os chefes dos serviços secretos norte-americanos e israelenses estiveram em Doha na terça-feira para discutir com o primeiro-ministro do Catar a "próxima fase" de um potencial acordo entre o Hamas e Israel.
"Apoiamos a extensão desta pausa e das futuras pausas, se necessário, para permitir o aumento da ajuda e facilitar a libertação de todos os reféns", disseram os ministros das Relações Exteriores do G7 em um comunicado conjunto.
A extensão da trégua por 48 horas, até quinta-feira, deverá permitir a libertação de 20 reféns do Hamas e mais 60 prisioneiros palestinos, disse o Catar, o principal mediador das negociações.
Todos os dias, desde sexta-feira, o Hamas liberta uma dúzia de mulheres e crianças sequestradas durante o ataque de 7 de outubro contra Israel, em troca da libertação de três vezes mais prisioneiros palestinos. Doze reféns (dez israelenses e dois tailandeses) e 30 prisioneiros palestinos foram libertados na noite de terça-feira.
Segundo a imprensa israelense, o governo de Israel recebeu, na terça-feira, a lista de reféns que o Hamas deve soltar nesta na quarta-feira, mas essa informação não foi confirmada oficialmente.
O acordo de trégua, negociado com o apoio do Egito e dos Estados Unidos, já levou à libertação de 60 reféns israelenses e 180 palestinos detidos em prisões israelenses. Vinte e um reféns estrangeiros, a maioria tailandeses que vivem em Israel, foram libertados fora do acordo.
As autoridades israelenses estimam que cerca de 240 pessoas foram sequestradas e levadas para Gaza em 7 de outubro. O ataque sem precedentes do movimento islâmico palestino matou cerca de 1.200 pessoas em Israel, a grande maioria civis.
Em retaliação, Israel prometeu destruir o Hamas e cercou a Faixa de Gaza, que vem sendo bombardeada e é alvo de uma ofensiva terrestre das tropas israelenses desde o dia 27 de outubro. De acordo com o Hamas, cerca de 14.854 pessoas, incluindo 6.150 menores de 18 anos, morreram nos ataques israelenses.
Há poucos relatos até agora sobre as condições de vida dos reféns em Gaza, mas detalhes sobre o cativeiro começam a vir à tona. A avó de Eitan Yahalomi, um menino de 12 anos libertado na segunda-feira (27), disse que ele foi trancado em uma solitária por 16 dias.
"Os dias em que ele estava sozinho foram horríveis", disse Esther Yaeli ao site de notícias israelense Walla. "Depois disso, Eitan parece muito retraído." Na terça-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, voltou a prometer que "libertaria todos os reféns" do Hamas, classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, União Europeia e Israel.
"O exército israelense está pronto para retomar os combates. Estamos aproveitando os dias de pausa para nos prepararmos", disse o chefe de gabinete israelense, Herzi Halevi.
Nos territórios palestinos, os prisioneiros libertados por Israel na Cisjordânia foram recebidos com entusiasmo pela população.
Em Jerusalém Oriental, ocupada e anexada por Israel, Ahmed Salaima, um ex-detento palestino de 14 anos, se reuniu com sua família na noite de terça-feira, mostraram imagens da AFP. Ele é o prisioneiro palestino mais jovem a ser libertado desde que a trégua entrou em vigor.
"Não posso agradecer a Deus o suficiente pela libertação do meu filho", disse seu pai, Nayef Salaima, que disse ter "perdido todo o contato" com ele quando a guerra começou.
A extensão da trégua em Gaza permitiu que novos caminhões de ajuda humanitária entrassem na Faixa de Gaza, sitiada e bombardeada há sete semanas pelo exército israelense. Mas, apesar da chegada de centenas de caminhões desde 24 de novembro, a situação continua "catastrófica", disse o Programa Alimentar Mundial (PAM), acrescentando que "há risco de fome".
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) há um aumento de algumas doenças contagiosas no enclave, incluindo 45 vezes mais casos de diarreia em crianças pequenas do que o normal.
De acordo com um funcionário da Casa Branca, a quantidade de ajuda humanitária que chega por estrada na Faixa de Gaza agora totaliza 2.000 caminhões carregados de alimentos, combustível, medicamentos e equipamentos necessários para operar a infraestrutura de dessalinização da água do mar.
A Faixa de Gaza está sob um bloqueio terrestre, marítimo e aéreo israelense desde 2007 e sitiada por Israel desde 9 de outubro. Além disso, cerca de 1,7 milhão de seus 2,4 milhões de habitantes foram deslocados pela guerra. Mais da metade das casas na Faixa de Gaza foram danificadas ou destruídas, segundo a ONU.
Milhares de palestinos, deslocados no sul da Faixa de Gaza, aproveitaram a trégua para voltar para suas casas no norte, a região mais devastada, ignorando a proibição do exército israelense de assumir o controle de várias áreas no local.
(Com informações da AFP)
RFI