Goiano de 90 anos cursa medicina e é homenageado pela faculdade
Valdomiro de Sousa superou dificuldades financeiras e um AVC para realizar seu sonho de infância: ser médico. Neste mês, receberá homenagem de láurea acadêmica pelo Centro Universitário Alfredo Nasser
Depois de uma longa trajetória de esforços bem-sucedidos, nada de pendurar as chuteiras e viver só de lembranças. Valdomiro de Sousa enche seus dias com trabalho, estudo e comemorações. Ele está prestes a completar 90 anos e, no mesmo dia, vai ser homenageado com uma láurea acadêmica pela universidade onde cursa medicina, o Centro Universitário Alfredo Nasser (Unifan).
O coordenador do departamento, Marinaldo Soares Leite, conta que o aluno do oitavo período estaria se formando neste semestre, caso não tivesse trancado o curso em decorrência de um problema de saúde. "Ele queria tanto essa formatura, que decidimos realizar essa cerimônia no dia do aniversário dele, como uma forma de reconhecer seu esforço e desempenho", diz o médico.
"É uma honra para mim porque não tem ninguém no mundo que tem uma história como a minha, nem se você procurar na China, no Japão", brinca Valdomiro.
A data, 16 de novembro, merece celebração especial: a cerimônia acontece no ano em que o empresário se recupera de um acidente vascular cerebral (AVC), ocorrido em fevereiro. Para isso, Valdomiro decidiu reunir todos os amigos e familiares numa churrascaria de Goiânia, cidade onde vive e construiu uma carreira inusitada.
E o pai não só começou o curso, como foi até o fim, enfrentando, no meio do caminho, o AVC que lhe deixou com sequelas na fala e nos movimentos. "Deus me deu a felicidade de sobreviver, quase morri, mas agora estou bem, melhorando a cada dia", comemora Valdomiro.
Ana Rita de Faria trabalha como cuidadora de Valdomiro e conta que, após receber alta, ele voltou para casa usando sonda e traqueostomia, substituídas, depois, por uma válvula no estômago. "Sua recuperação foi muito rápida: entre fevereiro e junho, ele passou pelos três processos. Desde o começo, sempre lúcido, ativo, independente", comenta.
Valdomiro ficou apenas um mês sem ir à faculdade durante o período de recuperação. Hoje, dedica-se à fisioterapia e fonoaudiologia todos os dias — quer estar bem para terminar o curso, abrir dois consultórios médicos e clinicar.
"Se depender da força de vontade, ele ainda vai trabalhar como médico, eu não duvido dele, ele é imbatível", aposta Luiz Eduardo Silva, 33, colega de faculdade do empresário na Unifan. "No dia da morte da rainha Elizabeth, ele me ligou e disse: ela foi e eu fiquei, hein? Estou vencendo", lembra o estudante, rindo.
Luiz diz que os alunos adoravam ouvir o colega, sempre calmo e elegante. "Ele conseguia acompanhar todas as matérias porque já tem seu método de estudo, estudou muitas coisas. Medicina é aquele dom que a gente já nasce com ele, e o sonho nunca morre. Seu Valdomiro despertou esse sonho quando pôde, na velhice e não na juventude, porque é um curso muito caro", pondera.
Vitalidade
Valdomiro impressiona não só pelas conquistas, mas pela energia aos 90 anos de idade. "Ele anda só, sobe escada sozinho, faz fisio dentro da piscina, come normal… E mora só! Somos três cuidadores, além dos profissionais da casa e do escritório, mas ele comanda tudo, todos os bens que tem, ele quem gerencia", explica a cuidadora Ana Rita.
O idoso diz que o conhecimento é o que o mantém vivo: "Outros velhos param no asilo e se acomodam lá, eu, se for parar num asilo, vou mandar prender os funcionários", brinca. A cabeça ativa é um dos segredos da longevidade, mas Valdomiro completa o conselho: "faça longas caminhadas para viver bem. Uma vida sem remédio, só com caminhada."
Ana Rita acrescenta a gentileza à lista: "ele é um homem de uma inteligência raríssima, mas simples, trata a gente super bem, é alegre. Na faculdade, toparam fazer a cerimônia de homenagem no dia 16 só porque ele disse que queria que caísse no seu aniversário. Ele é muito mimado porque é um encanto."