Alagoas tem mais de 40% da população inadimplente, de acordo com informações do Serasa. Entre as faixas etárias, os dados são os seguintes: 26 a 40 anos, 34,2%; 41 a 60 anos, 34%; e 60 anos ou mais, 34%. Os inadimplentes no estado acumularam dívidas que chegam a 4,3 bilhões de reais, resultando em uma média de gastos de mais de 4 mil reais para cada um.
Além disso, de acordo com o levantamento, as dívidas lideram-se principalmente nos cartões de crédito e bancos, correspondendo a 36,94% da população inadimplente, seguidas pelas financeiras, com 21,03%, e contas de água, luz e gás , com 18,11%.
Ao Cada Minuto, a mentora financeira Thayse Clímaco afirmou que a inflação e as altas taxas de juros contribuem para a inadimplência em Alagoas, mesmo com o declínio recente. Outros fatores são o desemprego e a diminuição da renda também.
“Entretanto, preciso ressaltar que a falta do controle financeiro, o gastar mais do que ganha, também é um fator que contribui muito”, disse.
Sobre os cartões de crédito e os bancos liderarem a inadimplência, Thayse explica que isso ocorre devido à facilidade de acesso ao crédito.
"É comum ver jovens solicitando cartões assim que completam 18 anos e, logo em seguida, acumulando dívidas. Também é comum observar pais, que já não têm mais crédito disponível, usando o nome dos filhos para obter cartões e, infelizmente, não efetuam os pagamentos. O crescimento dos bancos e cartões digitais também tem facilitado esse cenário”, explica.
A mentora afirma que muitas pessoas utilizam o cartão de crédito como uma extensão de sua renda, gastando mais do que podem efetivamente pagar. "Na realidade, o cartão de crédito é apenas um método de pagamento."
Quando uma pessoa não consegue quitar o valor total da fatura, acaba pagando apenas o mínimo. Isso resulta em taxas de juros mais elevadas. "Mesmo sabendo dos juros, muitas pessoas continuam a usar o cartão no mês, o que leva a uma fatura no mês seguinte que não podem pagar nem mesmo o valor mínimo. Elas optam por parcelar a fatura ou entram no parcelamento automático, e esse ciclo se repete constantemente”, comenta.
Dívida de R$ 30 mil
Isso aconteceu com uma vendedora de 32 anos que preferiu não revelar sua identidade. Ela compartilhou que possuía uma loja de calçados em seu bairro, em Maceió, mas devido à pandemia, a loja acabou falindo. "Para manter o negócio funcionando de forma online, comecei a adquirir mercadorias usando cartões de crédito, mas as vendas não estavam indo bem, o que acabou me prejudicando."
Quando ela percebeu, estava com uma dívida no montante de R$ 30 mil. A solução, de acordo com ela, foi encerrar o cartão definitivamente, ter seu nome negativado e procurar emprego no comércio. "Não é o que eu gostaria que tivesse acontecido, mas hoje reconheço que não soube administrar o dinheiro adequadamente, tomei decisões precipitadas e acabei com restrições em meu nome. Estou empenhada em reorganizar minha situação financeira."
Comércio e serviços são impactados
O doutor em economia e professor da UFAL, Anderson Henrique, explicou que, de acordo com a pesquisa do Serasa, após uma redução nos últimos meses, ocorreu um aumento no endividamento, e Alagoas está situado na média em comparação com os estados do Nordeste. "Não se encontra entre os estados com maior endividamento, mas também não está entre os que apresentam níveis mais baixos de endividamento."
Sobre os setores mais afetados pela inadimplência, o professor explica que os mais impactados são os setores de comércio e serviços, os quais estão diretamente vinculados ao uso de crédito para operar.
"O aumento da inadimplência implica no aumento do número de pessoas que serão registradas em órgãos de proteção ao crédito ou terão seu acesso ao crédito reduzido. Esse grupo de pessoas deixa de consumir bens básicos no comércio e serviços, uma vez que não consegue, por exemplo, parcelar suas compras."
Ele também destaca que programas como o "Desenrola Brasil" e o de Renegociação de Dívidas do Serasa têm buscado reduzir os indicadores, e essas campanhas podem contribuir para a diminuição da inadimplência em Alagoas.
Organização financeira
A mentora financeira reforça que a base para que uma pessoa consiga sair do endividamento é a organização financeira.
É comum que a pessoa que se encontra nessa situação, a qual afeta não apenas sua vida financeira, mas também a emocional, se sinta pressionada a concentrar-se no pagamento das dívidas e tenha a tendência de fazer parcelamentos ou assumir novas dívidas para quitar as atuais”, diz.
Ela diz que por não aprender a forma correta de gerenciar o dinheiro e não alterar a mentalidade e comportamento financeiro, a pessoa, mesmo que consiga superar a inadimplência, pode acabar retornando a essa situação no futuro.
Por isso, ela deixou um guia rápido para ajudar no processo:
1. Organize suas finanças (recebimentos e pagamentos ao longo de no 6 meses),e libere orçamento para o pagamento das dívidas;
2. Faça mais dinheiro vendendo itens que tem em casa (móveis, eletrodomésticos, eletrônicos);
3. Faça mais dinheiro com renda extra;
4. Faça o levantamento de todas as dívidas;
5. Organize as dívidas definindo as prioridades de pagamento;
6. Construa uma reserva para quitação de dívidas com o dinheiro que você fez sobrar com a organização financeira e com a renda extra;
7. Monte um plano de ação, execute E ACOMPANHE.
Fonte Casda Minuto