13/09/2024 05:57:00

Acidente
08/11/2023 20:00:00

Gaza quer dizer feroz, forte. Há mais de 3 mil anos, Gaza resiste a ataques constantes


Gaza quer dizer feroz, forte. Há mais de 3 mil anos, Gaza resiste a ataques constantes

Gaza já foi chamada de Gazate, cidade valiosa  Gaza quer dizer, nas línguas semíticas, “feroz, forte”. É uma das ocupações urbanas mais antigas do mundo e uma das mais invadidas, destruídas, reconstruídas, continuamente, camada sobre camada da história. Durante milênios foi palco de guerras entre tribos árabes. Foi ocupada por egípcios por quase 350 anos, pelos romanos, pelos mongóis, pelos filisteus, pelos otomanos, pelos mamelucos (de povos do mar), pelos gregos. Alexandre, o Grande, sitiou Gaza. Ele foi bem grande: não deixou nenhum nativo vivo,  os que sobreviveram foram levados cativos. Outro Alexandre, rei da Judeia, mandou matar todos os 500 senadores da cidade – o legislativo daquele tempo e lugar era tudo e só havia Senado.

A glória e a tragédia de Gaza é sua localização geográfica. Esticada na borda curva do Mediterrâneo, espremida entre as cidades mais poderosas do Oriente, Gaza era entreposto e um clarão urbano entre o deserto e o mar. O geógrafo Mocadaci, nascido em Jerusalém no século I, descreveu Gaza como sendo “uma grande cidade situada na estrada para o Egito, na fronteira do deserto”.

Nesses mais de três milênios, a cidade teve períodos de prosperidade, intercalados por guerras entre tribos, povos e impérios da região urbana mais antiga do mundo. No ano 1300, o geógrafo sírio Aldimasqui descreveu Gaza como “uma cidade tão rica em árvores que parece um tecido brocado estendido sobre a terra”. Mas logo vinha outra guerra e a cidade murchava como flor sem água. A natureza não se compadece de Gaza: já foi corroída por uma praga de gafanhoto, arrasada por um terremoto e inundada apesar de não ter nenhum rio em sua mancha urbana. Sobreviveu a duas epidemias devastadoras de peste bubônica.

Cada novo poderoso que dominava Gaza destruía a arquitetura anterior para construir a sua. Templos de deuses gregos foram erguidos e depois derrubados, igrejas transformadas em mesquitas e mesquitas novamente transformadas em igreja e novamente em mesquita. Tudo dependia de quem tomasse o poder.

Tem sido assim nos últimos 3,5 mil anos.

 

Gaza não tem petróleo*, não tem diamante, não tem plutônio, não tem floresta nem rios. Não há outra riqueza na terra palestina, só o que brota da própria terra e o que vem do mar. Padece de falta d’água. Água salubre só de poços profundos. A maior parte da água do aquífero que passa debaixo da cidade é (ou era) transportada para Jerusalém, a 76 km de distância.

Mas Gaza renasceu depois de todas as atrocidades e, até há pouco menos de um mês, era uma cidade funcional, com mercados, universidades, restaurantes, hotéis, praia, parque, teatro, shopping, casas de eventos, comidinhas na rua e uma riqueza de peixes e frutos do mar que os pescadores trazem (ou traziam) todos os dias para o porto.

Até ontem quem buscasse no Google conferir o funcionamento de algum restaurante, recebia o seguinte alerta: “As informações sobre este lugar podem estar desatualizadas. Sempre preste atenção às condições reais, que podem mudar rapidamente”.

Tal qual se vê no Ocidente desde Nova York, e inevitavelmente, em quase todas as cidades e currutelas brasileiras, Gaza também tem (ou tinha) um I love Gaza. O monumento à breguice urbana foi instalado pela Ooredoo, gigante das telecomunicações no norte da África e Oriente Médio, uma das patrocinadoras da Copa do Mundo de 2022. Em árabe, Ooredoo quer dizer “eu quero”. Gaza quer continuar existindo, Gaza é a alma concreta dos palestinos.

* Segundo a Unctad, agência da ONU para comércio e desenvolvimento, pesquisas de 2019 confirmaram a existência de gás e petróleo na costa mediterrânea da Faixa de Gaza, recursos ainda não-explorados.

Fonte Correio Braziliense



Enquete
De 0 a 05 classifique o que você acha da Verde a Concessionária de Água e Esgotos em União dos Palmares
Total de votos: 154
Notícias Agora
Google News