Desde os primeiros meses de guerra na Ucrânia, a Coreia do Norte é suspeita de apoiar militarmente a Rússia, e cada vez mais os indícios sugerem que isso de fato ocorre. Nesta semana, a inteligência da Coreia do Sul fortaleceu a acusação ao alegar que Pyongyang entregou mais de um milhão de cartuchos de artilharia a Moscou, segundo informações da rede Radio Free Asia (RFA).
“O Serviço Nacional de Inteligência (NIS, na sigla em inglês) avalia que a Coreia do Norte se envolveu no transporte de cartuchos de artilharia e outro armamento em aproximadamente dez ocasiões desde o início de agosto, utilizando navios e aviões de transporte russos em apoio ao envolvimento da Rússia no conflito da Ucrânia”, disse legislador sul-coreano Yoo Sang-beom na quarta-feira (1º)
A alegação da Coreia do Sul se segue ao encontro entre os líderes norte-coreano, Kim Jong-un, e russo, Vladimir Putin, tiveram em Moscou em setembro e que já havia gerado especulações de que os dois países negociariam a compra e venda de armas ou munição para fortalecer o arsenal russo na guerra.
Embora Pyongyang e Moscou tenham negado qualquer acordo nesse sentido, manifestaram intenções de fortalecer seus laços militares, incluindo a possibilidade de exercícios conjuntos, discutindo também a ajuda humanitária russa para a nação insular.
Em outubro, as suspeitas de que os dois países negociaram a compra e venda de armas e munições foi fortalecida por imagens de satélite de um pátio ferroviário da Coreia do Norte, localizado a apenas cinco quilômetros da fronteira com a Rússia.
As fotos, coletadas pela empresa civil norte-americana Planet Labs, mostram que a presença de vagões de trem no local era intensa no dia 22 de setembro deste ano, sendo que apenas oito dias antes o pátio estava vazio. A ocorrência foi registrada uma semana depois da visita de Kim a Moscou.
As evidências coletadas pelos sul-coreanos, no entanto, sugerem que os cartuchos de artilharia foram entregues principalmente por via marítima, a partir do porto de Najin, na Coreia do Norte, para os portos russos de Dunai e Vostochny. De lá teriam seguido de trem para regiões ucranianas ocupadas.
“O NIS estima que este método de transferência envolveu mais de um milhão de bombas, quantidade que a agência analisa como suficiente para sustentar o conflito russo-ucraniano por mais de dois meses”, disse Yoo.
Como retribuição, o legislador afirma que Moscou teria se comprometido tecnologia e conhecimento técnico para viabilizar o lançamento de um satélite que pode vir a ser usado por Pyongyang para espionar seus inimigos, sobretudo Seul.
Em agosto, o governo dos Estado Unidos já havia alertado que Rússia e Coreia do Norte, “avançaram ativamente” para firmar um acordo que renderia a Moscou uma quantidade significativa de munição, num sinal de “desespero” dos russos conforme a guerra da Ucrânia avança sem um final no horizonte.
Sufocado pelas sanções impostas pelo Ocidente e enfrentando uma guerra bem mais longa do que imaginava inicialmente, o governo russo passou a recorrer nos últimos meses a fontes alternativas de equipamento bélico. Além de Pyongyang, Teerã tornou-se outro fornecedor frequente.
Fonte A Referência