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Educação
31/07/2023 21:00:00

Educação sexual na escola: “Ajuda a desenvolver uma compreensão saudável sobre o corpo humano”, afirma terapeuta sexual


Educação sexual na escola: “Ajuda a desenvolver uma compreensão saudável sobre o corpo humano”, afirma terapeuta sexual

Com Cada Minuto

Tratar sobre educação sexual, seja no ambiente familiar ou nas salas de aula, sempre foi um tabu presente em nossa sociedade. Na última terça-feira (25), o Ministério da Saúde anunciou que retomará a educação sexual e a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis como parte do programa Saúde na Escola, criado no ano de 2007. Mas qual a melhor forma de abordar temas como a educação sexual de forma que as crianças não tenham dúvidas sobre o assunto, e que não haja distorção sobre o que é sexualidade e o que é sexo?

Em entrevista ao Cada Minuto, a Terapeuta Sexual, Laylla Brandão, explicou que é fundamental a abordagem do tema para que mais informações sejam fornecidas e adequadas sobre o corpo da criança e do adolescente. Ela explica ainda que, ao ter acesso a essas informações, é possível ajudar a evitar mitos e tabus que podem “levar a concepções erradas que nossa cultura traz”.  

“A educação sexual ajuda as crianças a desenvolver uma compreensão saudável sobre o corpo humano, promovendo o respeito próprio e pelos outros. Isso também contribui para prevenir abusos e situações de exploração, ao capacitar as crianças a reconhecer comportamentos inadequados e buscar ajuda”, explicou Laylla.

Ela completa dizendo que a educação sexual ajuda na preparação da criança para a puberdade e as mudanças físicas e emocionais que se dão nessa fase da vida. “Isso pode reduzir a ansiedade e o medo associados a essas transformações naturais”, ressaltou a terapeuta.

Terapeuta Sexual, Laylla Brandão - Foto: Cortesia 

“Quando ensinada de maneira apropriada, respeitando a idade e a maturidade emocional a educação sexual pode ser uma ferramenta valiosa para promover relações saudáveis, o consentimento mútuo e a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada. Portanto, é uma abordagem essencial para capacitar as crianças a tomar decisões informadas ao longo de suas vidas”, completou.

Mas e quanto aos pais que não aprovam o tema no ambiente escolar, como abordar o assunto da melhor forma possível? Laylla explica que a educação sexual começa justamente no meio familiar, mas que por sermos “adultos sem educação sexual”, a melhor maneira de tratar o assunto é por meio da informação.

“Na verdade, a educação começa pelos pais/cuidadores. Somos adultos sem educação sexual. Poucos tem essa abertura no meio social e cultura familiar. A melhor maneira é informar! É trazer a consciência e percepções próprias. Algo que é complexo e desafiador pois nossas crenças - muitas vezes falsas - impõe limitações dentro dessa compreensão. A psicoeducação sobre sexualidade precisa ser a base dessa conexão entre pais e a educação sexual”, explicou Laylla.

Confira abaixo outros tópicos abordados pela terapeuta sexual:

Existe uma idade específica para começar a abordar o tema nas salas de aula?

– As crianças dirão! São elas que trarão os seus questionamentos. Começa pelas dúvidas do que são as partes do corpo, o que é o afeto e claro, elas reproduzem tudo que veem dentro das suas relações familiares. É preciso iniciar a partir das dúvidas. Cada criança terá seu momento e elas não tem o erotismo do olhar adulto - o que pega muitos pais/cuidadores - usar termos adequados para compreensão clara das crianças, ser aberto e honesto, sem esconder (aqui está o desafio da linguagem adequada), respeito ao nível de compreensão, alimento da confiança de poder perguntar sem ser reprimido ou punido por isso, trazer ao mundo da criança a possibilidade de compreensão sobre a sexualidade.  

Sexualidade não é sexo! Sexualidade é a vivência social, é o auto olhar, é como nos vemos e como nós colocamos no mundo. Falar de sexualidade é falar da própria expressão no meio social. Ela é contínua e cheia de fases que se encaixa a cada idade e conforme seus alcances.

Quais os riscos que uma criança pode correr ao não ter uma boa abordagem sobre esse assunto?

– Vergonha do tema, o não compreender os próprios limites, o não respeito às diferenças e diversidades sociais, vulnerabilidade aos limites próprios- abusos sexuais, emocionais e psicológicos.  

Se os pais não tratam do tema no ambiente familiar, qual o melhor método de tratar do tema com as crianças e jovens?

– A educação  as escolas é o ótimo começo. Pois é nela que crianças e jovens iniciam suas relações sociais e tem como base as informações que levam para vida.  

Quais as práticas de políticas públicas que podem ser adotadas para tratar da melhor forma possível o tema para a sociedade em geral?

– Psicoeducação nas escolas- palestras, informativos, trabalhos grupais. A mídia tem grande peso nesse momento. A veiculação com mais naturalidade do tema é uma grande porta de psicoeduca

E o que pensam os profissionais da educação? Para o presidente do Sindicato dos Professores de Alagoas (SINPRO-AL), professor Eduardo Vasconcelos, questões como os abusos ressaltam a importância da educação sexual dentro das salas de aula, e que é fundamental mostrar para as crianças formas que ela tenham de se protegerem e pedir ajuda – se assim for preciso.

“A importância, primeiramente, está relacionada ao cuidado com a questão dos abusos. Então, é importante, de forma lúdica, de uma forma leve, mostrar para as crianças e também para os adolescentes que, na verdade, há formas de se proteger, de perceber, e de pedir ajuda para minimizar a quantidade de abusos que, infelizmente, é muito alto”, disse Eduardo Vasconcelos.

“Os profissionais devem ser extremamente capacitados, que não é o caso dos professores. E principalmente na rede pública, tanto municipal como estadual, e privada também. 

Professor Eduardo Vasconcelos, presidente do SINPRO-AL - Foto: Sandro Lima 

O professor chama a atenção, também, para as escolas de ensino integral, que podem ajudar ainda mais nesse processo educacional e no desenvolvimento das crianças e dos adolescentes.

“Então, até o ensino integral, acaba ajudando com natação, judô, ballet, inglês, porque o ensino integral é isso, que é você ter várias possibilidades de desenvolver várias habilidades e competências em várias áreas do conhecimento. Essas crianças tem maior possibilidade de sociabilidade, de desenvolver essa maturidade, e principalmente de estar em ambientes “mais seguros”. Diferentemente das crianças e adolescentes que estão extremamente vulneráveis à violência sexual, abusos. Então, isso poderia ser constituído por uma equipe multidisciplinar e ser até acompanhada pelo professor, pela professora. Mas não os da linha de frente, que não estão formados para isso”, explica o presidente do SINPRO-AL.

E no ambiente familiar, como o tema que será abordado nas escolas deve ser discutido com os pais sem haver quaisquer dúvidas ou conflitos? Para o professor, é necessário um alinhamento para que o profissional da educação não seja exposto e nem hostilizado.

“Com respeito às famílias, sabemos que vivemos em uma sociedade mais fatiada que uma pizza onde há desde o mais progressista ao extremo conservador. Então, isso deve ser muito bem acordado para não gerar choque, não expor o profissional da educação, seja ele qual for, não só o professor. Isso deve ser avisado e conversado para fazer o alinhamento, porque gera conflitos”, detalhou Vasconcelos, que usou como exemplo o tema abordado fora do Brasil e dos desafios do assunto no país.

“E com certeza a gente sabe que, na verdade, a educação sexual vem sendo trabalhada em outros países de uma forma extremamente eficaz, eficiente. E a intenção não é sexualizar, que leva o lado da educação sexual para o lado da ideologia política. Até política, porque infelizmente a gente vive nesse “azul encarnado”, como se fosse uma cavalhada no interior. Mas é algo que, querendo ou não, pode proteger as crianças e os adolescentes”, afirma o professor.

Para Girlene Lázaro, secretária de assuntos educacionais do Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas (SINTEAL) e dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), abordar a educação sexual nas escolas é um direito que deve ser inserido no currículo que possa desenvolvido na educação formal. Para ela, é um dever do Estado brasileiro oferecer garantias para a aplicação legal das leis.

“É um dever do Estado brasileiro garantir a aplicação legal das leis, diretrizes e bases na educação do país. Quando se nega esse direito, está se negando saberes, conhecimento. Ou seja, com esse dever renegado, o direito ao saber e ao conhecimento é deixado de lado, e isso traz um prejuízo enorme para o desenvolvimento de uma criança, um adolescente. A educação sexual parte de um currículo integrador onde as crianças e os adolescentes vão se conhecer, também, como ser parte de um todo dentro da sociedade. E que seu corpo é um corpo que tem funções e que ele precisa conhecer os aspectos e como se desenvolve durante o crescimento. Sexualidade faz parte do desenvolvimento do ser humano, sem discriminação, preconceito e a escola é o melhor lugar para que essa educação seja ofertada, porque é um espaço formador”, explica Girlene, que afirmou que o apoio da família também é fundamental nesses casos.

Girlene Lázaro, Secretária do SINTEAL e dirigente da CNTE - Foto: Assessoria 

Veja outros trechos da entrevista com Girlene Lázaro:

CONHECIMENTO POR MEIO DA EDUCAÇÃO SEXUAL

Girlene Lázaro: “Assim como a educação, de uma forma geral, ela tem que estar trazendo conhecimento que possa servir para a vida de todos nós, a educação sexual também nos traz elementos do conhecimento do nosso corpo, da nossa sexualidade, onde a gente vai desenvolver o respeito a nós, ao próximo e nos preparar para evitar abusos, violência e negações de direitos".

 



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