Com Real Deodorense
As fortes chuvas que caem na capital alagoana e nos municípios cujos afluentes deságuam na Lagoa Mundaú alteraram as condições de salinidade e interferiram drasticamente no crescimento do sururu. Responsável pela renda e a alimentação de pescadores e marisqueiras, ele só tem sido encontrado no estado na Lagoa do Roteiro, mas nem todos os que sobrevivem de sua retirada podem partir para a região.
Segundo o pescador Evanildo do Amor Divino, o Baiano, o momento é de crise para o setor. Como o molusco faz parte da cadeia alimentar de muitos ribeirinhos tem pessoas passando fome em plena a capital.
“Desde o início do mês de junho, quando as chuvas aumentaram, que o sururu foi desaparecendo. A cada mergulho para pegá-lo ele já vem morto, só a casca sem nada dentro. Então sentimos muito essa falta dele, e tem gente passando fome porque o Auxílio Brasil foi cortado para as marisqueiras e pescadores solteiros. Não tem defeso e quem vem ajudando a gente é o projeto social Manda Ver que consegue cesta básica”, revelou Baiano.
Sobre a migração da retirada do sururu para a região da Lagoa do Roteiro, isso não é a primeira vez que ocorre. E como nem todos têm condições de partir para essa empreitada, no momento, apenas 20 pessoas se arriscam a seguir em busca de sururu por lá.
Baiano conta que o principal problema é que há um custo a mais, seja com combustível para quem vai de barco ou quem aluga carro para fazer a coleta. Em geral, seguem às terças-feiras. “Os gastos que temos têm que ser repassados para o produto, que acaba ficando caro e, ao mesmo tempo, diminui o ganho do pescador. Mas pelo menos tem saída e é a única forma de não pararmos com a atividade”, completou o pescador.
Ele lembra que quando o sururu também some do Roteiro, a única alternativa é seguir viagem para os estados de Pernambuco e Bahia. Essa alternativa encarece ainda mais a atividade e limita a presença de quem precisa sobreviver da atividade.
ALTERAÇÃO
Segundo o técnico do Instituto do Meio Ambiente Ricardo César, do Gerenciamento Costeiro, o processo de sumiço do sururu em Maceió é parte de um ciclo já conhecido. Ele conta que toda a vez que o volume de água doce aumenta, altera a salinidade da lagoa.
“E o sururu precisa de boas condições de salinidade para a sua reprodução. Toda vez que ocorre uma alteração, ele tende a desaparecer porque não encontra as condições ideais e naturais para se desenvolver. Esse não é um fenômeno novo. Em 2022 já tivemos algo parecido e que provocou até o surgimento de um outro sururu branco”, explicou Ricardo.
Por outro lado, ele conta que há uma expectativa, caso o volume de chuvas diminua, que a partir de setembro a produção de sururu volte ao normal. Isto porque já foi percebido outras vezes. “Em relação a retirada que tem sido feita na região do Roteiro, é claro que um aumento da extração sem o intervalo para que se renove e reproduza pode sim afetar a presença do sururu”, alertou o especialista.