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Meio Ambiente
25/05/2023 22:00:00

Chegada de El Niño ameaça ainda mais Amazônia e pode elevar temperatura global a 1,5ºC


Chegada de El Niño ameaça ainda mais Amazônia e pode elevar temperatura global a 1,5ºC

Quando a temperatura do planeta já está em alta e um fenômeno climático natural causa ainda mais elevação, o resultado pode ser devastador. Este é o temor de climatologistas que acompanham de perto a reaparição do El Niño, caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas do oceano Pacífico equatorial, e que deve se instalar com uma intensidade ainda não determinada ao longo dos próximos meses.

O fenômeno já se manifesta na costa do Peru e do Equador e tende a desequilibrar o clima global, com aumento das secas em algumas regiões e das chuvas, em outras. Na circunstância atual, em que a temperatura média global já está 1,1ºC acima dos níveis pré-industriais, até um El Niño fraco, de 0,5ºC, se torna preocupante.

O climatologista Alexandre Costa, pesquisador da Universidade Estadual do Ceará e integrante do IPCC (painel de cientistas da ONU sobre mudanças climáticas), lembra que os oceanos concentram 93% do excesso de temperatura gerado pelos gases de efeito estufa. O El Niño ‘libera' parte deste calor para atmosfera, em vez de armazená-lo.

"Em se tratando de um aquecimento anômalo na maior bacia oceânica do planeta, o calor acumulado nas camadas inferiores do oceano aflora e chega à superfície”, explica. "O aquecimento global não se reflete com um aumento linear da temperatura: ele costuma ser aos saltos, quando as condições favorecem – justamente quando o oceano libera mais o calor acumulado para atmosfera. E isso acontece particularmente em condições de El Niño. O que acontece é que grandes El Niño são capazes de contribuir com aumento de temperatura global de 0,3 a 0,4ºC”, salienta.

El Niño também está mudando

É por isso que, se ele vier de moderado a forte em 2023 e 2024, seria capaz de instaurar um novo patamar mais elevado da temperatura global, ressalta Costa. "Uma coisa é quase certa: nós devemos ter um novo recorde de temperatura média global em associação a esse El Niño. Segunda coisa possível: que pela primeira vez a gente chegue ao patamar de 1,5°C de aumento, que é justamente o limiar de segurança preconizado pela ciência do clima e visto como o máximo desejado pelo Acordo de Paris”, destaca Costa.

Características do fenômeno El Niño já são percebidas na costa do Peru e do Equador, que registram chuvas atípicas para o período.
Características do fenômeno El Niño já são percebidas na costa do Peru e do Equador, que registram chuvas atípicas para o período. Getty Images/Science Photo Libra - JUAN GAERTNER/SCIENCE PHOTO LIBR

As interações entre o fenômeno e o aquecimento global, provocado pelas emissões de gases de efeito estufa, são objeto de estudo dos cientistas. O renomado climatologista José Marengo, também membro do IPCC e coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), afirma que, como a temperatura média global está aumentando, uma anomalia de meio grau provocada pelo El Niño se torna mais intensa do que já foi no passado.

"Os El Niño estão cada vez mais diferentes. É um fenômeno natural, que continua a acontecer, mas tem algumas diferenças com os El Niño dos anos 1980 ou 1970, quando o planeta era menos quente”, compara.

Risco de Amazônia mais seca

O fenômeno modifica a circulação atmosférica na escala global, em especial nos trópicos. A região da Amazônia se torna particularmente vulnerável a essas alterações, ao receber ar seco que retarda e limita a ocorrência de chuvas.

Numa floresta tropical úmida, isso significa risco maior de queimadas. O pico dos incêndios costuma ocorrer em setembro –  justamente quando a Organização Meteorológica Mundial prevê que o El Niño deve estar mais intenso.

“O que já temos observado é que nas regiões do leste e do sul da Amazônia, a estação de menos chuva está ficando mais longa e a estação chuvosa, começando mais tarde. E se a estação ‘seca' é mais longa, o risco de incêndios é maior”, salienta Marengo. "Se existem queimadas e possibilidade de mais queimadas, as prefeituras, o estado e o governo federal já deveriam estar de prontidão, com bombeiros prontos para atuar. Mas para ser sincero, ninguém nos chamou até agora para falar sobre o El Niño que está vindo."

Alexandre Costa relembra que em anos de El Niño forte, a seca elevou a mortandade das árvores da floresta que, ao se decomporem, emitiram ainda mais CO2. O ciclo acentua o risco de a Amazônia, em especial no sul e no leste, deixar de ser um sumidouro de carbono para se tornar fonte emissora – portanto, gerando ainda mais impacto negativo nas mudanças do clima.

Os dois especialistas também chamaram atenção para o risco de aumento de temporais e enchentes no sul e sudeste América Latina, podendo atingir essas regiões no Brasil. “É preciso melhorar os sistemas de alertas e prevenção de desastres antes da chegada das chuvas”, adverte Marengo.

rfi

 



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