As pesquisadoras já sabiam que o soro de animais em restrição calórica tinha efeito protetor para ilhotas pancreáticas, células beta primárias e linhagens celulares secretoras de insulina in vitro, a partir de trabalhos anteriores do grupo. A obesidade aumenta a incidência de disfunções relacionadas à idade, incluindo a desregulação das células beta, levando à secreção inadequada de insulina. “Nosso laboratório está há muitos anos interessado em mecanismos envolvidos em proteção de efeitos do envelhecimento associados a ser obeso ou não ser obeso. E restrição calórica é um modelo animal que previne a obesidade. Não é um modelo de ultra magreza”, ressalta Alícia Kowaltowski.
Elas haviam descoberto também que a incubação por apenas 24 horas com soro de animais moderadamente obesos alimentados à vontade levava a uma piora imediata no funcionamento das células beta, prejudicando a secreção de insulina. “Sabíamos que isso ocorria de forma independente de nutrientes, mas não sabíamos o porquê, quais fatores moleculares estariam envolvidos”, conta Ana Paula Munhoz. Elas tinham uma pista, no entanto: em células vasculares, o aumento da capacidade de transporte de elétrons mitocondriais promovido por restrição calórica estava associado à sinalização de eNOS ativada por adiponectina, que é um hormônio relacionado ao peso corporal.
A partir destes dados, as pesquisadoras investigaram o que acontecia com células beta incubadas com plasma de pessoas magras e obesas e com soro de ratos submetidos a uma dieta de restrição calórica de 60% em comparação com animais alimentados ad libitum, que com o tempo desenvolvem obesidade, resistência à insulina e outras características da síndrome metabólica. As amostras de plasmas de um grupo de homens e mulheres, magros e obesos, sem patologias, foram obtidas do biobanco criado pelos pesquisadores Vilma Martins e Tiago Goss, do A.C. Camargo Cancer Center. Um dado interessante foi que o plasma de mulheres, que têm níveis mais elevados de adiponectina, apresentou efeitos melhores do que o plasma de homens. As pesquisadoras também quantificaram esse hormônio nas amostras e realizaram experimentos com soro de camundongos nocaute incapazes de produzi-lo, fornecido pela pesquisadora Francielle Mosele, da Universidade Estadual Paulista (Unesp).