O desmatamento é a forma mais grotesca e óbvia de destruição da Amazônia; mas não é a única. Tão preocupante quanto o desmatamento é a degradação florestal, que também impacta severamente a biodiversidade e pode emitir tanto carbono (ou até mais) quanto o corte raso da floresta, segundo um
outro artigo de revisão, também publicado nesta edição da
Science.
O termo “degradada” refere-se a áreas nas quais a estrutura e os processos ecológicos originais da floresta foram corrompidos de alguma forma, ainda que a maioria de suas árvores permaneça em pé. Por exemplo, áreas que foram afetadas por queimadas, secas extremas, corte seletivo ilegal (quando apenas árvores de maior valor comercial são derrubadas, abrindo clareiras na mata) e/ou expostas ao chamado “efeito de borda”, uma espécie de degradação que acomete florestas adjacentes a áreas desmatadas. São perturbações antrópicas (causadas pelo homem) que deixam a floresta mais seca, reduzem a quantidade de biomassa (matéria orgânica) e aumentam a mortalidade de árvores, resultando em perda de biodiversidade e maiores emissões de carbono, entre outros problemas.
O artigo faz uma ampla análise das causas e efeitos dessa degradação florestal na Amazônia, e ainda apresenta algumas projeções de como esse cenário poderá evoluir nas próximas décadas. “Esses dados já existiam na literatura científica, mas nunca tinham sido colocados juntos”, disse ao Jornal da USP o pesquisador David Lapola, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), autor principal do estudo.
Os pesquisadores calculam que 38% das florestas remanescentes (não desmatadas) da Amazônia estão degradadas, quando se considera os quatro tipos de perturbação: fogo, estiagem, corte seletivo e efeito de borda. O item mais pesado — e polêmico — dessa conta é a seca. Os autores reconhecem que nem todos os eventos de seca extrema na Amazônia podem ser classificados inequivocamente como um fator de degradação antrópica, ligado ao aquecimento global (pois eles também podem ocorrer naturalmente de tempos em tempos). Quando esse fator é excluído da análise, a área total degradada cai para 5,5% do bioma amazônico. “Esperamos abrir uma boa discussão na comunidade científica a respeito disso”, afirma Lapola.
Calcular as emissões de carbono resultantes desse processo também é complicado, pois as perturbações se sobrepõem e interagem entre si no tempo e no espaço. Hectare por hectare, o desmatamento emite muito mais carbono do que a degradação, pois a perda de biomassa é muito maior. Por outro lado, como as áreas degradadas são muito grandes, o total emitido por elas acaba sendo equivalente ou até maior do que o emitido pelo desmatamento, podendo chegar a 200 milhões de toneladas de carbono por ano, segundo os pesquisadores.