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História
15/02/2025 22:00:00

Os mistérios que cercam a morte de JK

Os mistérios que cercam a morte de JK

A Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), ligada ao Ministério dos Direitos Humanos, realizará uma reunião para aprovar uma nova análise do caso que resultou na morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek (JK), o 21º presidente da história do Brasil. O episódio, ocorrido em 22 de agosto de 1976, continua cercado de incertezas e teorias conspiratórias quase 50 anos depois.

**O acidente**

Na tarde de domingo, 22 de agosto de 1976, o Opala em que JK estava, dirigido por seu motorista e amigo Geraldo Ribeiro, atravessou o canteiro central da Rodovia Presidente Dutra, no quilômetro 165, invadiu a pista contrária e colidiu frontalmente com uma carreta. Ambos morreram no local. As investigações oficiais da época, realizadas durante a ditadura militar, concluíram que se tratava de um acidente comum, causado pela perda de controle do veículo ao tentar ultrapassar um ônibus.

**Teorias e suspeitas**

Desde então, diversas teorias sugerem que a morte de JK pode ter sido resultado de um atentado político. As suspeitas incluem sabotagem mecânica, envenenamento ou até mesmo um tiro que teria atingido o motorista. A destruição de provas, como o carro e os corpos, além do contexto político da época, alimentaram essas especulações.

"O mistério persiste porque houve destruição de provas e falta de cuidado nas investigações, o que levantou muitas suspeitas", afirma o historiador Victor Missiato, pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp). "Vivíamos em um regime militar, o que dificultou os esclarecimentos."

**Reabertura do caso**

A decisão de reabrir as investigações parte de um inquérito do Ministério Público Federal (MPF), realizado entre 2013 e 2019. Embora o MPF não tenha concluído que houve ação externa para provocar o acidente, descartou a colisão com um ônibus, como afirmavam as investigações originais. Um laudo pericial de 222 páginas, elaborado pelo engenheiro Sergio Ejzenberg, apontou falhas graves nas investigações iniciais e destacou que a causa da perda de controle do veículo nunca foi explicada adequadamente.

"Excluída a participação do ônibus, restou inexplicada a causa da passagem do Opala para a pista oposta", escreveu Ejzenberg. Ele também criticou a destruição do carro, que estava guardado em uma delegacia, o que inviabilizou a investigação sobre uma possível sabotagem.

**Contexto político**

JK, presidente entre 1956 e 1961, era uma figura proeminente na política brasileira. Conhecido por construir Brasília e pelo slogan "cinquenta anos em cinco", ele foi um dos articuladores da Frente Ampla, movimento de oposição à ditadura militar. Sua morte ocorreu em um período conturbado, marcado pela Operação Condor, uma aliança entre governos ditatoriais da América do Sul para perseguir opositores políticos.

"JK era um nome forte para a redemocratização do Brasil", diz o cientista político Paulo Niccoli Ramirez. "Sua existência era um apelo ao retorno da democracia, e sua morte levantou suspeitas de que poderia ter sido um atentado."

**Conclusões e próximos passos**

A Comissão Nacional da Verdade, em 2014, concluiu que não havia evidências suficientes para comprovar uma conspiração. No entanto, a reabertura do caso pela CEMDP busca esclarecer as falhas nas investigações originais e examinar novas evidências. A reunião desta sexta-feira pode marcar o início de um novo capítulo na busca por respostas sobre a morte de JK.

"É fundamental investigar mais para saber se foi realmente um acidente ou uma morte encomendada", afirma Ramirez. "O esclarecimento desse caso é importante para a história do Brasil e para a memória de Juscelino Kubitschek."

Enquanto isso, familiares, historiadores e pesquisadores aguardam ansiosamente por novas descobertas que possam lançar luz sobre um dos maiores mistérios da história política brasileira.



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