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Blog: O Acendedor de Lampiões
04/08/2025 às 08:22

Estudo em Alagoas detecta microplásticos em placentas e cordões umbilicais: “Muito provável que alguma alteração exista”

Estudo em Alagoas detecta microplásticos em placentas e cordões umbilicais: “Muito provável que alguma alteração exista”

Uma pesquisa inédita realizada em Alagoas revelou a presença de microplásticos em placentas e cordões umbilicais de gestantes no estado, acendendo um alerta sobre a exposição fetal a essas partículas ainda durante o período gestacional. O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), foi publicado em uma edição especial da revista Anais da Academia Brasileira de Ciências, dedicada à poluição por microplásticos.

Embora os impactos diretos sobre os bebês ainda não sejam totalmente conhecidos, os pesquisadores ressaltam que a simples presença dessas partículas em uma fase tão delicada do desenvolvimento humano já sugere um possível risco. Estudos em animais e células apontam para alterações que, mesmo em nível molecular, podem afetar a saúde a longo prazo.

O professor Dr. Alexandre Borbely, do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) da Ufal e orientador da pesquisa, explicou que os microplásticos foram encontrados circulando no sistema fetal por meio da corrente sanguínea do cordão umbilical. Isso indica que essas partículas transpassaram a barreira placentária e alcançaram o organismo em formação. “Ainda não sabemos se elas se acumulam em órgãos como cérebro ou coração, mas o risco existe”, afirmou.

A pesquisa analisou placentas e cordões umbilicais de 10 mulheres e encontrou 228 microplásticos no total. A maioria dos fragmentos era composta por polietileno, material comumente utilizado em sacolas plásticas e embalagens descartáveis, e que também é o mais encontrado nos resíduos sólidos das orlas e lagoas de Alagoas.

Os dados brasileiros foram comparados a um estudo anterior feito pelo mesmo grupo com gestantes do Havaí, nos Estados Unidos. Em ambos, a taxa de contaminação foi de 100%, mas em Alagoas os microplásticos eram ligeiramente maiores e mais abundantes. Houve também diferenças quanto aos aditivos químicos presentes: enquanto nas amostras havaianas predominavam poliéster e PET, em Alagoas o polietileno se destacou com menos variedade de aditivos.

Para detectar as micropartículas, os pesquisadores digeriram cerca de 40 gramas de placenta ou cordão em hidróxido de potássio por sete dias. O material restante foi analisado com microespectroscopia Raman, técnica que permite identificar a composição química dos microplásticos.

Além do alerta científico, o estudo reforça a importância da ciência desenvolvida localmente, mesmo diante de cortes de verbas e dificuldades enfrentadas pelas universidades públicas. O professor Borbely defende que, embora seja impossível evitar completamente a exposição aos microplásticos, é possível reduzi-la por meio de mudanças no consumo e da cobrança por políticas públicas mais rigorosas.

Ele recomenda evitar o uso de plásticos descartáveis, não esquentar alimentos em recipientes plásticos, reduzir o consumo de água engarrafada e pressionar representantes políticos por legislações que limitem o uso indiscriminado de plástico na indústria. “Só com regulamentação e controle da cadeia produtiva conseguiremos diminuir a exposição ambiental e, consequentemente, a nossa exposição”, concluiu.



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