BBC Brasil - O
ano eleitoral será agitado não só no Brasil, mas em outros países da América
Latina, onde cidadãos de ao menos seis países irão às urnas para escolher seu
próximo presidente.
A primeira votação será em fevereiro, na Costa
Rica, e a última pode se dar apenas em dezembro, na Venezuela. Nesse meio
tempo, Paraguai, Colômbia, México e, é claro, Brasil também escolherão um novo
mandatário em votações que podem redesenhar radicalmente o mapa político
latino-americano.
Ainda haverá votações para renovar o Legislativo e
governos locais em El Salvador, em março, e no Peru, em outubro, enquanto Cuba
determinará em abril quem sucederá o presidente Raúl Castro, mas em um processo
indireto e diferente do restante dos países da região.
O calendário pode ainda ter algumas surpresas se prosperar em
Honduras o pedido da oposição de anulação da votação que elegeu Juan Orlando
Hernández presidente em novembro. Ou se a crise política peruana levar à
destituição do presidente Pedro Pablo Kuczynski, que sobreviveu em dezembro a
um julgamento de impeachment sob acusações de corrupção.
Mas, levando em conta só as eleições já confirmadas, quem são os
principais nomes na disputa? Quais ideias defendem? E quais fatores podem
definir seu resultado?
Fevereiro: Costa Rica
As eleições presidenciais e legislativas na Costa Rica abrem a
temporada em 4 de fevereiro. Será a 17ª convocada no país da América Central
desde a fundação de sua Segunda República, em 1949. Há 13 candidatos na
disputa.
No momento, os
favoritos são Antonio Álvarez Desanti, do Liberação Nacional, Juan Diego
Castro, do Integracão Nacional e Rodolfo Piza, do Unidade Social Cristã. O nome
do governo, Carlos Alvarado, da legenda de centro-esquerda Ação Cidadã, está em
quarto nas pesquisas, o que aponta para um retorno ao poder da centro-direita.
O alto índice de
indecisos praticamente garante um segundo turno, que, caso confirmado, se dará
no primeiro domingo de abril. Segundo o Centro de Pesquisa e Estudos Políticos
(CIEP, na sigla em espanhol) e o jornal Universidad, 40% daqueles que estão decididos
a votar ainda não têm um candidato.
A mesma sondagem aponta um índice similar de eleitores que dizem
que não irão às urnas ou que ainda pensam sobre isso - o voto é obrigatório no
país, mas a taxa de abstenção ultrapassou 43% nas últimas eleições presidenciais,
em 2014.
Tudo isso é um claro reflexo do descontentamento dos cidadãos
com os partidos políticos atuais em um país que identifica a corrupção como o
principal problema nacional.
Abril: Paraguai
As eleições gerais no Paraguai, previstas para 22 de abril,
serão a sétima desde a redemocratização, em 1989. Além de um novo presidente e
seu vice, os cidadãos escolherão governadores, senadores e deputados, tanto no
parlamento local como no do Mercosul.
A disputa se dá
entre o Partido Colorado, de direita, que tem governado o país por boa parte
dos últimos 70 anos, e a a Grande Aliança Nacional Renovada, aliança de
centro-esquerda entre o Partido Liberal e o Movimento Guasú, do ex-presidente
Fernando Lugo.
O candidato do
Colorado será o senador Mario Abdo Benítez, filho do ex-secretário particular
do ex-ditador Alfredo Stroessner, que governou o país por 35 anos. Ele derrotou
nas primárias Santiago Peña, o favorito do presidente Horacio Cartés.
Enquanto a
Grande Aliança Nacional Renovada tem como representante o liberal Efraín
Alegre, o movimento de Lugo colocou como candidato a vice-presidente o
jornalista Leonardo Rubín.
Por enquanto, o candidato do governo, conhecido popularmente
como "Marito" e vinculado a ala mais conservadora de seu partido, é o
favorito. Mas tanto ele quanto seu principal rival estão prometendo mudanças em
relação ao governo atual, inclusive com duras críticas de Benítez ao presidente
Cartés.
Maio: Colômbia
Após as eleições legislativas em março, a disputa pela
Presidência prevista para 27 de maio dominará todas as atenções no país.
Tudo aponta até agora para um segundo turno, em junho, sem ainda
haver um claro favorito em uma votação que será decisiva para os acordos de paz
com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc.
E a participação
do ex-grupo guerrilheiro, sob a mesma sigla, mas agora com o nome de Força
Alternativa Revolucionária do Comum, certamente torna essas eleições especiais.
Mas a possibilidade de seu líder, Rodrigo Londoño, conhecido como Timoleón
Jiménez ou Timochenko, estar entre os favoritos é baixa.
A posição dos
candidatos em relação aos acordos de paz é até agora o que melhor define os
seis que têm mais chances, segundo uma pesquisa da revista Semana.
De um lado, estão os críticos ferrenhos do processo, o uribista
Iván Duque e a conservadora Marta Lucía Ramírez, com o ex-vice-presidente
Germán Vargas em uma situação mais ambígua. Do lado dos mais favoráveis, há o
principal negociador dos acordos, Humberto de la Calle, o ex-prefeito de Bogotá
Gustavo Petro e o ex-governador de Antioquía, Sergio Fajardo, que lidera as
pesquisas.
Mas ainda há um longo caminho a percorrer, e possíveis alianças
entre esses candidatos e outras figuras na disputa, como o ultraconservador
Alejandro Ordóñez, podem mudar esse panorama, em que temas como economia e
corrupção devem ganhar importância.
Julho: México
Também não há um claro favorito para as eleições mexicanas de 1º
de julho, ainda que o esquerdista Andrés Manuel López Obrador lidere quase
todas as sondagens.
Ele já esteve próximo de ser presidente em duas ocasiões: em
2006, foi derrotado por Felipe Calderón com uma diferença de 0,56% dos votos,
e, em 2012, perdeu para o atual presidente, Enrique Peña Nieto.
Mas, desta vez,
Obrador, ex-chefe de governo da Cidade do México, já não conta com o apoio do
Partido da Revolução Democrática. Ele é agora candidato de uma coalização
liderada por seu Movimento de Regeneração Nacional, o Morena.
Seu principal
rival pode não vir a ser o nome do governo, José Antonio Meade, do Partido
Revolucionário Institucional (PRI), mas Ricardo Anaya, candidato da Frente pelo
México, uma insólita coalizão entre o conservador PAN e o esquerdista PRD.
Apresentado como
alguém de fora da política por não se militante do PRI, Meade tem contra si a
baixa popularidade do governo de Peña Nieto, do qual foi secretário de Fazenda,
Desenvolvimento Social e Relações Exteriores.
A seu favor,
estão os recursos e a máquina do seu partido, que, de uma forma ou de outra,
ganhou quase todas as eleições presidenciais no México desde 1929, com exceção
das vitórias de Vicente Fix (2000) e Felipe Calderón (2006).
A esperança de Anaya é capitalizar o anseio por mudanças que
parece vir de um setor importante do eleitorado. Ele ainda tem a seu favor o
apoio dos empresários que temem a vitória de Obrador, retratado por seus
críticos como um "Hugo Chávez mexicano" em potencial.
Outubro: Brasil
O primeiro turno brasileiro será em 7 de outubro e a provável
segunda etapa, no dia 28 do mesmo mês, mas a primeira grande decisão desta
eleição pode ser dar em 24 de janeiro - e ela não caberá aos eleitores, mas à
Justiça.
O julgamento em
2ª instância do recurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que
pode confirmar sua condenação por corrupção, indicará se o líder das pesquisas
até o momento poderá ou não disputar - embora recursos possam ser apresentados
posteriormente - no que parece ser a intenção de seus advogados.
E uma eleição
com Lula como candidato seria radicalmente diferente de uma sem ele.
Uma volta do PT
ao poder depois de tantas acusações de corrupção contra seus principais nomes
parece impensável, mas não se o popular ex-governante for seu representante - e
isso ainda pode facilitar a criação de coalizões de direita em um panorama até
agora marcado pela fragmentação.
Nesta ponta do
espectro político, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) aparece em segundo lugar
nas intenções de voto e em primeiro no caso da ausência do petista. O
governador paulista, Geraldo Alckmin, se posiciona para ser o candidato do
PSDB.
O descontentamento dos brasileiros com políticos de todas as
tendências parece ter aberto caminho para o surgimento de novos nomes, como o
do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), e o apresentador Luciano Huck.
Mas, em ambos os casos, após grande especulação eles disseram que não
disputarão.
Acusações de corrupção afetam não só o PT, como também a maioria
dos partidos que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff, assim como da base
do presidente Michel Temer.
Dezembro: Venezuela?
É a grande incógnita. O presidente Nicolás Maduro garantiu que
haverá eleições presidenciais em 2018, "como manda a Constituição",
mas a data ainda não foi anunciada e não há garantia de que o Conselho Nacional
Eleitoral esperará até o mês de dezembro, como dita a tradição.
Por várias
razões, o calendário eleitoral venezuelano passou por diversas mudanças nos
últimos anos, como ocorreu com a eleição do próprio Maduro, em abril de 2013,
enquanto o país ainda processava a morte de Hugo Chávez e as eleições buscavam
dar mais legitimidade ao homem que o ex-presidente havia escolhido como seu
sucessor.
A oposição passa
por um momento ruim e está dividida, o que pode fazer com que Maduro adiante as
eleições novamente para tirar proveito dessa oportunidade.
Mas as dúvidas
não se limitam a datas. A polêmica Assembleia Nacional Constituinte determinou
que partidos que não tiverem participado das recentes eleições municipais não
poderão disputar a Presidência. E, no momento, várias decisões juidiciais
impedem a cadidatura de importantes nomes da oposição.
Enquanto Maduro
também começa a ver emergir potenciais oponentes dentro do próprio chavismo,
como Rafael Ramírez, ex-presidente da estatal de petróleo PDVSA, ainda há
dúvidas quanto à imparcialidade e à confiabilidade das autoridades eleitorais,
um motivo destacado pela União Europeia em novembro passado ao anunciar sanções
à Venezuela.
Parece pouco
provável que a oposição, que se dedicou por muito tempo a forçar um referendo
para revogar o mandato de Maduro, vá abrir mão da chance de medir forças com o
presidente, apesar da situação difícil em que se encontra.
Depois de anos
de protestos nas ruas e uma brutal crise econômica, tudo indica que os
venezuelanos finalmente terão a oportunidade de decidir se prosseguem com a
Revolução Bolivariana ou se viram a página, quase 20 anos depois.