BBC Brasil - O valor da moeda virtual Bitcoin disparou no segundo semestre desse ano. Em meio a oscilações bruscas entre novembro e dezembro, cada moeda chegou a valer mais de U$ 18 mil ( R$ 59 mil) – um aumento considerável, já que o câmbio no início de 2017 era de 1 bitcoin para U$ 1 mil.
Nesta semana, a moeda virtual começou uma migração para o mercado financeiro tradicional ao passar a ser oferecida no mercado futuro da bolsa de Chicago, a CBOE (Chicago Board Options Exchange).
Mercados futuros são ambientes em que se negociam contratos de compra e venda de ativos financeiros para datas futuras – o objetivo é lucrar com a arbitragem. Também é uma forma de quem negocia se proteger contra o excesso de volatilidade nos preços.
as afinal, o
que é o Bitcoin e o que está por trás do alvoroço mundial em torno da moeda?
O
que é o Bitcoin?
O Bitcoin é
basicamente um arquivo digital que existe online e funciona como uma moeda
alternativa.
Ele não é
impresso por governos ou bancos tradicionais, mas criado por um processo
computacional complexo conhecido como "mining" (mineração).
Todas as
moedas e todas as transações feitas com elas ficam registradas em um índice
global – conhecido como "blockchain", uma espécie de banco de dados
descentralizado que usa criptografia para registrar as transações.
Dessa forma,
os arquivos não podem ser copiados ou fraudados e as transações não podem ser
rastreadas.
Existem
cerca de 16,5 milhões de bitcoins em circulação, e cerca de 3,6 mil novos são
criados todos os dias.
Como outras
moedas, ela não tem um "valor inerente": seu preço é determinado pelo
quanto as pessoas estão dispostas a pagar por ela.
"Ela
não é reconhecido oficialmente, você não pode pagar impostos ou usar para
quitar débitos", diz o economista Garrick Hileman, pesquisador de
criptomoedas e professor da Universidade de Cambridge.
Porque
o Bitcoin subiu tanto neste ano?
Alguns
economistas dizem que é uma clássica bolha especulativa: investidores eufóricos
pagando por um ativo muito mais do que ele é válido por medo de ficar de fora.
Eles colocam
o entusiasmo com o bitcoin na mesma categoria da bolha da Internet do ano 2000
ou da bolha no mercado imobiliário americano que levou à crise de 2008.
Outros
afirmam que o crescimento é resultado da passagem do Bitcoin para mercado
financeiro tradicional – como, por exemplo, sua entrada no Mercado Futuro de
Washington.
"Boa
parte disso é especulação, mas há sinais de que o Bitcoin tem de fato sido
usado", diz Hileman.
Ele diz que
havia entre três e seis milhões de pessoas no mundo usando a criptomoeda em
abril.
"Hoje
esse número já está provavelmente em 10 ou 20 milhões pessoas, então é uma base
de usuários que só tende a crescer" afirma.
O fato da
moeda ter começado a ser usada por grades instituições financeiras também
aumentou seu valor, afirma o especialista.
Como
comprar Bitcoin?
Hoje existem
centenas de diferentes tipos de criptomoedas, mas o Bitcoin ainda é a mais
conhecida. Para recebê-la, o usuário deve ter um endereço de Bitcoin – uma
série de até 34 letras e números. Esse endereço funciona como uma espécie de
caixa postal através da qual as moedas são enviadas.
Não há um
registro dos endereços, o que permite que usuários protejam sua anonimidade.
Carteiras
virtuais armazenam os endereços e podem ser usadas para gerenciar o dinheiro.
Elas operam como contas de banco privadas – com o detalhe de que, se as
informações são perdidas, as moedas referentes àquela carteira também se
perdem.
As regras de
funcionamento da moeda determinam que apenas 21 milhões de bitcoins podem ser
criados – e esse número está cada vez mais próximo. Não se sabe o que vai
acontecer com o valor das bitcoins quando o limite for atingido.
É
possível usar bitcoins para comprar produtos?
Um aumento
de 900% no valor de uma moeda normal, como o dólar americano, teria um impacto
grande no poder de compra de consumidores e nos negócios que aceitam a moeda.
Não é o caso
do Bitcoin, já que a maioria dos donos das moedas não as usam para comprar
coisas.
O seu uso
como uma moeda normal é até possível – a anonimidade garantida pelas moedas
virtuais tem atraído pessoas querendo fazer compra e venda de mercadorias
ilegais pela internet.
E um pequeno
– mas crescente – número de empresas consolidadas têm permitido que seus
clientes comprem mercadorias e serviços com a moeda.
Há desde
multinacionais como a Microsoft até pequenas empresas que usam a moeda como uma
espécie de novidade chamativa, como um restaurante japonês em Cambridge e uma
galeria de arte em Londres.
Mas, segundo
Hileman, a grande maioria dos usuários entra nesse universo para fazer
investimento. "Eu estimaria algo em torno de 90% dos usuários", diz
ele. "Então hoje seria mais apropriado dizer 'cripto-ativo' do que
'criptomoeda'."
Pontos
preocupantes
"No
momento, o Bitcoin existe praticamente sem nenhuma regulação", diz o
advogado Bradley Rice, especialista em regulação financeira do escritório
britânico Ashurst.
Ele tem sido
muito usado na deep web, que não pode ser acessada por um navegador de internet
normal.
Também há
preocupações em relação à volatilidade da moeda, o que levou tanto a China
quanto a Coréia do Sul a proibirem o lançamento de novas moedas virtuais.
Em setembro,
a autoridade financeira do Reino Unido alertou investidores que eles poderiam
perder dinheiro se comprassem novas moedas virtuais recém-criadas por algumas
empresas, conhecidas como "inicial coin offerings", ou ofertas
iniciais de moedas.
Mas a
tecnologia por trás do Bitcoin é vista como infalível por algumas das maiores
instituições financeiras.
"É por
isso que alguns dos reguladores finaceiros na Europa estão tendo uma postura de
'esperar para ver'", diz Rice.
O
Bitcoin é uma bolha financeira?
Não faltam
veículos especializados em finanças e especialistas dizendo que a euforia em
torno do Bitcoin é uma bolha.
"Podem
haver bons motivos para compra Bitcoin", disse recentemente um artigo da
revista The Economist. "Mas o motivo principal no momento é o fato de que
os preços têm subido."
A alta abrupta no câmbio – o valor do Bitcoin dobrou em menos de um mês – tem levado a argumentos de que ele é volátil demais, que o seu crescimento exponencial é insustentável e que uma queda é inevitável.
No entando, o Bitcoin já tinha sido declarado "morto" algumas vezes, diz Hileman. "Ele tem mostrado resiliência e retornado algumas vezes depois de quase morrer."
No entanto, o especialista prevê uma nova queda em um "futuro não muito distante". "Segure firme se você é dono desse tipo de moeda", conclui.