A professora vencedora do prêmio de Educador do Ano,
Elisângela Dell-Armelina Suruí, sofreu um ataque a tiros na noite de quarta
para quinta-feira. De acordo com a educadora, ela e seu marido estavam em uma
moto na rodovia que liga a cidade de Cacoal, em Rondônia, à reserva Terra
Indígena Sete de Setembro, quando foram surpreendidos por outra moto com duas
pessoas. Nenhum dos dois se feriu.
“A moto emparelhou com a nossa na rodovia e o passageiro tirou a arma.
Quando ele começou a atirar, eu e meu marido caímos no chão. Tentamos nos
esconder enquanto eles desciam da moto para ir atrás da gente. Eles só
desistiram de nos matar porque meu cunhado estava em outra moto logo atrás e
eles o avistaram”, afirma Elisângela. Os homens dispararam três tiros.
Após o ataque, ela e o marido, Naraymi Suruí, pediram abrigo em uma casa
perto da estrada e telefonaram para a polícia. Eles fizeram boletim de
ocorrência na delegacia de Cacoal e, por segurança, ficaram hospedados na
residência de uma conhecida na cidade. Na tarde de quinta, também registraram o
caso na Polícia Federal de Ji-Paraná.
Caso antigo
A professora liga o atentado a ameaças feitas por madeireiros que estavam
retirando ilegalmente árvores castanheiras da região demarcada como terra
indígena. “É época de colheita de castanhas na aldeia. Fomos até a floresta e,
chegando lá, encontramos um grupo cortando as árvores da região”, conta.
Segundo Elisângela, o cacique local, que é pai de Naraymi, pediu que
os intrusos se retirassem, mas eles não deram ouvidos. “Quando voltamos, uma
semana depois, tinham quatro caminhões carregados com as castanheiras. O
cacique ficou muito nervoso, pegou uma vara e acertou em um dos integrantes.
Com o facão, ele danificou um dos caminhões”, afirma. Quando os madeireiros
estavam saindo da região, um deles afirmou que mataria o cacique e sua família.
O advogado que está encarregado do caso, Celson Ricardo Carvalho de
Oliveira, afirmou que o atentado não ocorreu apenas por causa da briga – mas
por um caso mais antigo. De acordo com ele, muitos índios permitiam que
garimpos e madeireiras ilegais entrassem em suas terras por não ter outra fonte
de renda. A polícia acabava prendendo estes indígenas por acreditar que
eles os levariam às companhias que estavam realizando a extração ilegal.
Como uma forma de barrar este tipo de atividade e proteger os indígenas,
foi criada a Coopaiter, uma cooperativa que legaliza a comercialização dos
produtos extraídos nas aldeias, sendo vendidos pelos próprios índios. “A
cooperativa pretende dar ferramentas aos indígenas para que eles produzam e
lucrem com as terras. Isso fez com que a população local começasse a fiscalizar
muito mais a atividade ilegal destes intrusos – e foi assim que as ameaças por
parte deles começaram”, conta.
Investigação
De acordo com o advogado, o motorista da moto e o passageiro foram
identificados pelo marido de Elisângela como integrantes de uma família
conhecida de Cacoal. Segundo informações, os dois suspeitos prestaram
depoimento na tarde de quinta na Polícia Federal de Ji-Paraná e não foram
presos. Carvalho de Oliveira acredita que, no decorrer das investigações, a PF
deve descobrir o destino da madeira extraída na floresta.
A delegacia onde o boletim de ocorrência foi feito não quis se manifestar
sobre o caso.
Prêmio Educador Nota 10
A professora Elisângela foi a grande vencedora do Prêmio Educador do Ano, promovido pela Fundação Victor Civita no final de outubro. O projeto que a fez ser selecionada como a melhor professora brasileira em 2017 foi um caderno de alfabetização na língua materna dos índios de sua aldeia: o paiter suruí. Para conhecer o trabalho de Elisângela na Escola Sertanista Francisco Meireles, clique aqui.