BBC Brasil - Cerveja e vinho normalmente
relaxam. Já os destilados podem fazer a pessoa se sentir mais agressiva, sexy
ou emotiva.
Para esse estudo, divulgado na
publicação acadêmica de medicina BMJ Open,
foram entrevistadas cerca de 30 mil indivíduos com idade entre 18 e 34 anos.
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Os resultados indicam ainda
que a probabilidade de apresentar comportamento agressivo é maior entre os que
potencialmente podem apresentar dependência do álcool, por consumirem uma
grande quantidade com frequência.
As evidências identificadas
pelo estudo podem, segundo os pesquisadores, ajudar a entender melhor o
alcoolismo e o que motiva as pessoas a beberem.
Com o tempo, as pessoas
adquirem tolerância ao álcool e podem acabar bebendo mais para sentir os mesmos
"efeitos positivos", avaliam os cientistas. Mas o aumento no consumo
também atrai os efeitos negativos, explica o professor e pesquisador britânico
Mark Bellis.
As entrevistas para o estudo
foram feitas por meio de formulários online que garantiam o anonimato dos
participantes, recrutados em sites de notícias e nas redes sociais.
Se comparado a outros tipos de
bebidas, o consumo de destilados - como tequila, rum e gim, por exemplo - está
mais associado a comportamentos agressivos, mal-estar, inquietação e choro.
A pesquisa também indica que:
- Vinho tinto faz as pessoas
se sentirem mais letárgicas que vinho branco;
- Beber cerveja e vinho tinto
relaxa mais;
- Mais de 40% dos
entrevistados disseram que beber destilados os fazem se sentir sexy;
- Mais da metade dos que bebem
destilados se sentem energéticos e confiantes, mas um terço se percebe
agressivo quando consome esse tipo de bebida;
- Homens são mais propensos que mulheres a apresentarem comportamento agressivo com todos os tipos de álcool, em especial os que bebem mais.
Variação entre países
As diferenças nas emoções também variam a depender
do país do entrevistado.
Participantes da Colômbia e do Brasil relataram uma
maior associação com as emoções positivas de sentir-se com mais energia,
relaxado e sexy, por exemplo.
Entre as emoções negativas, a Noruega apresentou
índices maiores ligando consumo de álcool e relatos de agressividade. A França,
por sua vez, foi o país com mais reportes de inquietude.
O pesquisadores salientam, porém, que é necessário
cautela para interpretar esses resultados, devido à pequena amostra para cada
país.
Apesar de o estudo indicar associações entre cada
tipo de bebida e mudanças no comportamento, não apresenta uma explicação sobre
o porquê das alterações.
Bellis afirma que o local onde a bebida é consumida
também pode fazer diferença, e que a pesquisa tentou levar em consideração se a
ingestão de álcool acontece dentro ou fora de casa.
"Jovens muitas vezes bebem destilados em uma
noitada, enquanto o vinho é mais consumido em casa, com uma refeição",
observa.
Ele diz ainda que há o fator
"expectativa". "Alguém que quer relaxar vai escolher uma cerveja
ou um vinho."
O professor acredita ainda que as diferentes formas que
bebidas são comercializadas ou promovidas encorajam as pessoas a escolher um
determinado tipo delas na expectativa de se comportar de uma certa forma ou de
sentir algo específico. Isso, segundo ele, pode desencadear sentimentos e
comportamentos negativos.
"As pessoas podem beber
para se sentirem mais confiantes ou relaxadas. Mas também acabam se arriscando
a ter reações ruins."
Segundo os pesquisadores da
universidade britânica King's College London, os resultados do levantamento
indicam que os dependentes do álcool confiam à subtância a função de gerar
sentimentos positivos: têm cinco vezes mais chances de se sentirem com mais
energia em relação às que bebem com menos frequência.
"O estudo mostra a
importância de entender por que as pessoas escolhem beber certos tipos de
bebidas e o efeito que esperam ter ao consumi-las", diz John Larse, da
Drinkaware, entidade sem fins lucrativos que alerta para os riscos e atua para
reduzir o consumo de álcool no Reino Unido.
No país, a recomendação é
ingerir menos de 14 unidades por semana para manter os riscos à saúde em um
nível mais baixo. Isso equivale a 12 doses de destilados, seis pints (473 ml)
de cerveja ou seis taças de 175ml de vinho a cada sete dias.
Especialistas defendem a
adoção de políticas como a que estabelece um preço mínimo para cada grau de
álcool. Isso significa que bebidas com teor etílico mais alto, como uísque,
ficariam ainda mais caras - o que em tese ajudaria a combater o alcoolismo.
A Escócia irá a adotar um preço mínimo, estipulado em 50 centavos de libra (cerca de R$ 2,18) por unidade padrão, que mensura o volume de álcool puro em cada bebida. O País de Gales e a Irlanda também discutem legislação específica para estipular regra semelhante.