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Saúde
21/11/2017 21:02:23

Pacientes e médicos ainda sabem pouco sobre câncer, diz especialista


Pacientes e médicos ainda sabem pouco sobre câncer, diz especialista
Ilustração

Pacientes acreditam em chazinhos curativos e médicos ainda não têm conhecimento suficiente sobre o câncer, o que atrasa tratamentos. Esse é o panorama oncológico no país, segundo Sergio Simon, que recentemente assumiu a presidência da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc). Simon afirma que a desinformação de pacientes sobre o câncer não é uma característica exclusivamente brasileira e que é difícil fazer com que as pessoas entendam que tratamentos alternativos, como a fosfoetanolamina (conhecida popularmente como "pílula do câncer"), não têm ação significativa sobre a doença e não podem ser usados como terapias principais.

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O novo presidente da Sboc, empossado em novembro, diz também que, além de clínicos gerais precisarem de mais treinamento oncológico, é necessário haver mais multidisciplinaridade na área.

Pergunta - Recentemente a oncologia clínica foi reconhecida como especialidade pelo Conselho Federal de Medicina. Qual a relevância prática disso?

Sergio Simon - A importância prática é que o câncer, a partir de 2030, vai ser o maior responsável por mortes no Brasil. Então ainda precisamos aumentar muito o número de oncologistas no país. Temos pouco mais de 2.000 profissionais para cuidar de 200 milhões de pessoas. É pouco. Como a população está vivendo mais tempo e a incidência de vários tipos de câncer tem aumentado, vamos precisar treinar e certificar um grande número de profissionais.

Faltam oncologistas no país?

Sem dúvida. Há cidades relativamente grandes que ainda não dispõem de um serviço estruturado de oncologia. O acesso à radioterapia é outro problema. Temos filas de espera que ultrapassam seis meses. Evidentemente, é péssimo para o paciente, porque a doença não fica parada.

As faculdades de medicina têm alguma relação com isso?

As faculdades no Brasil ainda não incluíram a oncologia como um currículo específico no currículo médico. Algumas já têm cursos de oncologia estruturados e os estudantes têm pelo menos uma ideia básica da área. Mas acho que o sistema como um todo precisa melhorar. É preciso que os não oncologistas, principalmente os clínicos gerais, saibam mais oncologia do que eles sabem. Muitas vezes o paciente está na frente do médico e não tem os exames pedidos de maneira correta, o que impede um diagnóstico precoce com maior chance de cura.Recentemente você se tornou presidente da Sboc.

Quais os planos da gestão?

Uma das funções da sociedade, provavelmente a mais importante, é a interação junto às entidades governamentais para estabelecer tratamento oncológico de qualidade no sistema público. Para que o acesso seja o menos díspar possível em relação ao sistema privado. As novas drogas são caríssimas e os benefícios que elas trazem às vezes são de menor importância para o paciente.

Essa análise do que vale a pena pagar, o que se traduz num benefício real de sobrevida e qualidade de vida para o paciente, é um exercício difícil. Mas o que não podemos permitir é que várias doenças no sistema público não tenham nenhum tratamento moderno à disposição.

Um exemplo é o câncer de rim e o câncer de pulmão com mutação genética. São doenças que no sistema público de saúde estão totalmente desassistidas.

Totalmente?

Elas têm um tratamento totalmente fora de qualquer padrão internacional. O câncer de pulmão com mutação do EGFR é um câncer que, em geral, ocorre em não fumantes. Essa doença com mutação tem um tratamento bastante específico feito por via oral, que é altamente eficaz, bem menos tóxico, mas é um tratamento ainda caro, da ordem de R$ 4 a R$ 5 mil por mês. A maioria dos pacientes no sistema público nem sequer é testada para a mutação.

Economicamente, é possível atualizar tratamentos sem onerar de forma desproporcional o sistema de saúde?

A análise farmacoeconômica evidentemente pende para um aumento dos gastos. Mas medicações mais modernas são mais eficazes e você precisa levar isso em consideração. Para tratar um tipo de câncer de mama, as pacientes com doença metastática até dez anos atrás viviam em média de 20 meses. Com o tratamento moderno, elas passaram a viver 56 meses.

Uma mulher poder viver cinco anos em média com doença metastática ao invés de um ano e meio é muito importante.Sabemos que a gestão pública do dinheiro não é muito eficaz. Talvez tenha um trabalho de gestão melhor que precise ser feito, talvez pela centralização de compras para o país inteiro, pela construção de laboratórios centrais específicos para testagem rápida dos tumores. Vi isso no Nepal.

Você viu algo que poderia servir de inspiração para o Brasil?

A testagem de tumores de pulmão para mutação do EGFR é feita para todos os pacientes a um custo muito barato em um laboratório na Índia. O tratamento que aqui sai por R$ 4 mil lá custa US$ 60 por mês, cerca de R$ 200. Se o governo estivesse disposto a sentar com os laboratórios e comprar a medicação para o país inteiro, acho que daria para chegar em preços bem próximos disso.

Mas existe a vontade por parte dos laboratórios de fazer esse tipo de acordo?

Acho que é possível. Um laboratório que faz anticorpos não vendia para o governo, que então decidiu pagar o tratamento em 2014. O preço diminuiu em 70% para a compra centralizada para o governo. Sentar com o laboratório e falar que os pacientes serão tratados e é necessário um preço especial para o sistema público é uma articulação política importante que precisa ser feita.

A população em geral desconhece informações corretas sobre o câncer?

Isso é universal. As pessoas sabem pouco e acabam inventando histórias e fantasias. Chamou a atenção nessa pesquisa [estudo recente da Sboc] que poucas pessoas sabem algo sobre câncer de intestino, um dos mais prevalentes no país. Obesidade é outra coisa importante. As pessoas precisam saber que obesidade e sedentarismo são causas importantes de vários tipos de câncer, como de mama, de endométrio, de pâncreas.

Qual o mito que você mais escuta no dia a dia clínico?

força dos tratamentos alternativos, como chazinhos e a fosfoetanolamina têm uma influência grande sobre a população. Até podem ser usados, mas isso não deve fazer com que o paciente evite tratamentos tradicionais.

Esse tipo de mito de que tratamentos naturais conseguem curar é ruim. Temos uma grande dificuldade de fazer as pessoas entenderem que a fosfoetanolamina não tem atividade em praticamente nenhum paciente. O estudo no Icesp mostrou que é uma droga sem atividade antitumoral e a Assembleia Legislativa faz uma CPI para saber mais sobre a fosfoetanolamina. Virou um problema político e não médico-científico.

NOME E IDADE Sergio Daniel Simon, 68 anos

FORMAÇÃO

FMUSP em 1973, fellowship em Oncologia Clínica no Memorial Sloan Kettering Cancer Center em Nova York e doutorado pela USP

TRAJETÓRIAProfessor na Unifesp (2008-2013), presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc) e membro da Asco (American Society of Clinical Oncology) Com informações da Folhapress

Dois hábitos que o fazem envelhecer

 

São hábitos que tiram saúde por dentro... e por fora. Um recente estudo realizado pelo Instituto Nacional de Saúde Pública da Universidade do Sul da Dinamarca revela que fumar e beber com muita frequência ao longo de vários anos faz com que as pessoas pareçam mais velhas do que aquilo que realmente são.Seis truques para o cabelo crescer mais depressa

Depois de analisarem 11 mil pessoas entre 1976 e 2003, os cientistas concluíram que estes dois maus hábitos não só aceleram o envelhecimento físico da pessoa, como também podem indicar a falta de saúde e contribuir para um maior risco de doenças crônicas, lê-se na Time.

Diz o estudo que o consumo de mais de 28 bebidas alcoólicas por semana por parte das mulheres, por exemplo, aumenta em 33% a probabilidade de ficar com 'anéis' cinzentos em torno da córnea quando comparadas com aquelas que consomem, no máximo, sete bebidas por semana. Este sinal de envelhecimento nos olhos foi também notório nos fumantes de longa data e independentemente do gênero.

De um modo geral, os dados recolhidos mostram ainda que os vincos nas orelhas - que são um sinal de envelhecimento - aumentam entre 26% a 36% quando o consumo de bebidas alcoólicas é elevado.

O estudo diz que a calvície, que é um sinal claro de envelhecimento na grande parte das pessoas, não foi associada ao consumo elevado e álcool e tabaco.

O estudo foi publicado na revista  Journal of Epidemiology & Community Health.

 

 

 



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