G1-Al - As adolescentes
iniciam a vida sexual cada vez mais cedo e, muitas vezes, desconhecem métodos
contraceptivos. Especialistas na área da saúde indicam que essa falta de
informação reflete no alto número de gravidez na adolescência registrado em
Alagoas, onde mais
de 25% dos nascidos vivos são de meninas com idade entre 10 e 19 anos.
“A gente vê muito que a sexualidade aflorou bastante na
adolescente, mas muitas vezes ela acredita que não vai engravidar, acha que
nunca vai acontecer. Há um desconhecimento, elas não se tocam, não se olham e
algumas já me disseram ‘eu tive medo de ter engravidado até com um beijo’, é
muito desconhecimento”, lamenta o médico ginecologista Antônio Carlos Moraes.
Ainda de acordo com o ginecologista, falta diálogo. A
família tem que conversar sobre sexualidade com as adolescentes e não deixar a
responsabilidade só para a escola. “A escola vai ter uma participação, vai ter
dados, teorias, mas é importante a conversa da mãe, a conversa do pai".
E foi exatamente o que aconteceu na casa de Rayane Honório.
Como não havia diálogo sobre sexualidade em casa, ela só sabia o que aprendeu
na escola, e acabou engravidando aos 18 anos.
“Eu sabia de todos os riscos, sabia também que podia tomar a
pílula do dia seguinte, só que, há muitos anos, ele [namorado] descobriu que
tinha poucas chances de ter filhos, que só poderia ter se fizesse tratamento,
então não me preocupei muito. Algum tempo depois, fiz o teste de gravidez e deu
positivo”, lembra Rayane.
O casal estava junto há apenas dois meses. “Inicialmente,
fiquei muito triste, não era o que eu estava planejando, pensei em abortar, mas
o preço que eu teria que pagar por isso seria muito maior do que ter a criança.
Então conversamos e decidimos como iríamos fazer as coisas”, explica.
A jovem teve uma gestação de risco, um parto prematuro, e a
bebê passou um tempo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Rayane se casou com
o namorado e hoje cuidam juntos da pequena Geovanna, que está bem e com oito
meses.
O psicólogo Igor César de Almeida, que é orientador educacional
de uma escola em Maceió, acredita que se tivesse havido diálogo com os pais, a
situação seria diferente.
“A sexualidade tratada de pai para filho é uma coisa
relativamente nova. Os pais não comentavam, hoje em dia é que eles estão
tentando pelo menos se aproximar dos filhos nesse tipo de assunto, mas ainda é
um tabu muito grande, porque se remete à questão de crenças e valores”, lamenta
o psicólogo.
Ainda segundo o psicólogo, a idade ideal para abordar o tema
varia de indivíduo para indivíduo e assim que forem surgindo perguntas, os pais
devem iniciar a conversa com linguagem acessível para a faixa etária do filho.
Sexualidade na escola
Valquíria Balbino é diretora de uma escola pública do estado
e explica que a escola acaba sendo o único local onde os adolescentes podem
tirar suas dúvidas e receber orientações sobre sexualidade, já que muitas vezes
os pais não conversam sobre o tema em casa.
A diretora lembra que havia um projeto do governo de
educação sexual nas escolas estaduais, mas que ele acabou sendo descontinuado.
O projeto era composto por oficinas realizadas durante as aulas de biologia.
“A gente descobriu um alto índice de consumo da pílula do
dia seguinte, que não é um método contraceptivo, é um abortivo, e eu ouvi
vários depoimentos de alunas que durante o ano tomavam quatro ou cinco, é um
risco muito grande,” lembra Valquíria.
Sem o projeto específico para o assunto, os estudantes agora
aprendem sobre sexualidade nas disciplinas de biologia e sociologia.
“Na grade de biologia eles veem DSTs, métodos
contraceptivos, que fazem parte do conteúdo de embriologia. Em sociologia eles
trabalham a evasão escolar e a gravidez na adolescência. Aqui, como tem ensino
integral, eles têm um docente orientador de turma. Dentre os conteúdos que ele
aborda está a gravidez inesperada. É o professor que está mais perto dos
alunos, que tem mais afinidade. Ele é o psicólogo, é o pai, é a mãe, é a pessoa
com quem eles podem contar”, conta a diretora.
E mesmo com o assunto em debate na sala de aula, há quem
ignore as informações que recebe. “Os adolescentes têm acesso à informação, mas
pensam que não vai acontecer com eles. Os meninos, principalmente, dizem que
estão com a camisinha no bolso, na carteira, mas é tudo muito rápido, muito
escondido, em qualquer lugar, não tem uma preparação”, conclui a diretora.
Quando acontece da adolescente engravidar, a diretora dá o
suporte necessário para as alunas. Ela lembra ainda que três das quatro
adolescentes que estavam grávidas na escola, no ano passado, conseguiram voltar
a estudar este ano e explica que quando tem alguma aluna gestante, a escola
fica no controle, pedindo o contato dos pais ou do marido, já que elas passam
mal, têm enjoos e desmaiam.
E uma vez que não foi evitada a gravidez, o acompanhamento
pedagógico é mais voltado para evitar que a adolescente deixe a escola sem
concluir o ensino médio.
Depois que deu à luz a Sofia, Elisiane Maria da Silva, 18,
retomou os estudos. Ela já tinha tido um filho um ano antes, e as gestações
seguidas a fastaram temporariamente da escola.
Uma situação comum à família dela. Assim como Elisiane, a
mãe dela engravidou quando tinha 15 anos. Hoje, é a avó que cuida dos netos
para que a jovem frequente as aulas do 1º ano do Ensino Médio todas as noites,
no programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA).
“Eu já sabia que era importante voltar [a estudar], eu
sempre tive isso comigo. E deu pra eu voltar, minha mãe me incentivou muito,
minhas amigas e meus professores também”, explica.