Sem sal,
inexplorada, pouco criativa, rara, sem surpresas, nula.
Entre muitas
definições escritas em papéis brancos espalhados pelo chão, essas foram as
escolhidas num exercício entre mulheres em um encontro sobre sexo após a
maternidade para definir a própria vida sexual.
Quando sequer
comentávamos sobre essa roda de conversa com outras mães as reações eram quase
sempre as mesmas e as piadas também. "Sexo? Isso existe? É de
comer?".
Estava aí um
assunto que a maioria das mães nem sequer queria comentar; no máximo colocar
uma brincadeira vazia ou outra, é claro.
Mas como pensar
naquilo, como tantos outros (em especial, eles, os filhos) vinham tão na frente
na nossa fila de prioridades?
Parece que
depois da maternidade o tal do "prazer" vira utopia, pensar em si
então, problema restrito apenas para sonhadores incuráveis. Por que depois que
nos tornamos mães esquecemos disso?
O sexo muda
tudo, já diziam os bons conselheiros de plantão. E com a maternidade ele muda
muito.
Bem, pra começo
de conversa, a gente muda. Nosso corpo que acabou de gerar e nutrir um ser
nunca mais será o mesmo. Mesmo tendo passado por um parto, uma experiência
carregada de sexualidade, a gente precisa de um tempo para processar, para
separar e voltar a pensar como ser único de novo.
Além disso,
existe o óbvio: a barriga flácida, os seios cheio de leite, um períneo
diferente. Um corpo novo, que a gente só conhece depois de ser mãe.
Então, o
processo de voltar àquela vida sexual ativa de antes já começa cheio de nuances
quase sempre difíceis de ultrapassar.
Depois vêm as
noites maldormidas, o cansaço, a falta de ânimo ou tempo, e sexo vai ficando lá
atrás.
Nos conformamos
com as noites de sábado reservadas para esses encontros amorosos mais
trabalhados, nas rapidinhas pós um dia exaustivo, e nas ocasiões especiais.
Sexo matinal? Tá
mais fácil acordar cedo e correr uma maratona do que conseguir acordar juntos e
antes das crianças, sem serem interrompidos.
Na lista de
prioridades, o sexo mais parece uma daquelas coisas que a gente tem que fazer,
tem que lidar, para as coisas fluírem. Porque se a gente não faz, vixe, aí sim,
vira um problema.
Passado o óbvio
e todas esses contras para deixar o sexo fluir tem uma variável muito
importante nessa história: não somos mais as mesmas... Talvez a gente não goste
mais das mesmas coisas, estamos nos redescobrindo, revendo nosso corpo, o que a
gente gosta e o que não gosta.
A maternidade
também traz um novo olhar sobre tudo na vida; de repente a gente não quer
gastar mais tempo com besteiras, só faz o que vale a pena, nossas horas são
preciosas. E vamos ser sinceras: o sexo precisa ser maravilhoso também, a gente
não pode ir lá, fazer e pronto. Tem que valer a pena. E se a gente não
conversar isso com quem está do nosso lado, a coisa desanda.
Comunicação é
fundamental, dizer "não" é preciso. Não tá a fim? Não faz.
Mas dizer
"sim" também ajuda e pode trazer mais oportunidades de descoberta e,
não contem a ninguém, aquela coisa que tá lá longe daquela nossa lista de
prioridades depois das milhões de coisas que temos que fazer no nosso dia a
dia: prazer.
Mas, onde
estamos indo com isso? Calma, tudo bem, isso não é regra, há exceções, é claro.
Um viva para as
mulheres que já se conhecem tanto, já foram lá fundo nelas mesmas que depois da
maternidade se encontraram ainda mais.
Mas o fato é que
não há como sair ilesa dessas transformações, elas acontecem e devem ser
bem-vindas.
Ajuda se a gente
falar sobre sexo, sobre como a gente quer que ele seja, como ele é,
especialmente, com o parceiro ou parceira.
Melhora se a
gente tem mais consciência desse novo corpo e o quanto ele é poderoso, pode ser
que ele nunca seja o mesmo, mas ele sente de forma intensa e libertadora.
Sexo é só sexo,
pronto. Não precisa de muita coisa, vai lá e se joga.
Se a gente se
entrega e se descobre, o sexo depois da maternidade também pode ser intenso,
libertador, criativo, frequente, surpreendente, constante.
E aí você vai
poder escolher outras definições entre todas aquelas jogadas no chão naquele
encontro. <> http://www.huffpostbrasil.com/