Mães, esposas,
filhas, avós. Em círculo, elas expõem suas vidas, contam detalhes do submundo
das drogas, com histórico de prostituição, abandono familiar, culpa e muita
dor. Dezoito mulheres convivem hoje na comunidade acolhedora Casa Betânia, no
Benedito Bentes, em Maceió. Elas lutam para combater um inimigo em comum: as
drogas.
Todas as
quartas-feiras, elas se reúnem na parte externa da casa cercada por muito verde
para a terapia em grupo seguida de meditação guiada pelo psicólogo Josaias
Soares. É neste momento em que elas colocam para fora as angústias, as dores,
os traumas e as perdas causadas pela dependência química.
É o caso
M.N.C.A., que conheceu o crack numa rodinha de amigos e ficou dependente da
droga por quase 14 anos. “O crack me afastou da família, dos meus filhos, da
minha terra. Por vergonha, saí de Recife e vim para Maceió. Morei num cabaré,
onde me prostituí para sustentar o vício”, conta ela.
Cansada da
exploração sexual, M.N.C.A foi parar nas ruas, mas continuou se prostituindo.
“Para a mulher, acredito que é mais delicado, pois mesmo quem nunca se
prostituiu, se vê obrigada a enveredar por esse caminho. Cheguei a ficar cinco
noites sem dormir, só usando crack. Certo dia, conheci um rapaz, que me falou
sobre o tratamento. Até então eu não sabia que existia”, revela.
“A partir daí
comecei a perceber a circulação de carros com o nome Anjos da Paz pela cidade.
E por meio do meu companheiro fiquei sabendo que eles também acolhiam mulheres.
Decidi ir ao Centro de Acolhimento e fui encaminhada para a Casa Betânia, onde
passei seis meses”, detalha.
Após tratamento,
M.N.C.A. foi para uma casa de apoio, onde ficou quase dois anos longe das drogas.
“Mas tive uma recaída, que serviu para eu perceber melhor meus erros. Agora,
estou mais focada. Quando meus filhos souberam que voltei para cá, foi a melhor
coisa. Quero muito tê-los por perto, conhecer meus netos e fazer faculdade de
psicologia”, disse ela, ao enfatizar que pretende cuidar de dependentes
químicos e moradores de rua.
Aos 42 anos,
J.F.L perdeu tudo por causa do crack
J.F.L, de 42
anos, teve acesso ao crack por meio de amigos. Foram cinco anos de uso abusivo
da droga. A vida, que antes era dedicada ao trabalho e à família, desmoronou de
vez com a chegada do entorpecente.
Ao chegar na
Casa Betânia no dia 1º de dezembro do ano passado, J.F.L. deixou para trás uma
vida devastada e sonha com a sua reconstrução ao lado das quatro filhas e seus
dois netos.
“A droga nos
escraviza e nos afasta de quem amamos de verdade. O crack criou um abismo entre
mim e minhas filhas. Perdi a oportunidade de acompanhá-las durante a
gravidez.”, lamenta.
Após o uso do
crack, J.F.L. percebeu que sua filha mais nova começou a perder o interesse
pela escola e a apresentar comportamentos que antes não faziam parte do perfil
da adolescente. “Era uma menina elogiada, estudiosa e dedicada. Por causa de
mim, ela perdeu o ano na escola. Saber que eu fui a responsável por
prejudicá-la, me causa muita dor, me abala muito”, descreve.
“O que me motiva
a ficar aqui é: primeiro, por mim mesma como mulher.
Segundo: por
minhas filhas, meus netos e minha mãe que tem deficiência física”, destaca.
“Não quero mais
correr os riscos das drogas, das ruas. É humilhante, perdemos a noção das
coisas, somos obrigadas a nos prostituir para manter o vício. O que eu digo
hoje para todas as mulheres que enfrentam problemas semelhantes: procurem
acolhimento, porque faz toda diferença. Aqui eu me fortaleço a cada dia”,
afirmou.
Abandonada pela
família, jovem busca forças para superar a dependência
Com histórico
recorrente de abandono familiar, D.S. internou-se quatro vezes em diferentes
instituições de acolhimento. A luta dela é também para combater a dependência
do crack.
A mulher de 35
anos já morou em diversos abrigos e viu nas drogas uma forma de escapar da dura
realidade vivida na Vila Brejal, onde residia, na periferia de Maceió.
As recaídas
frequentes eram potencializadas com a ajuda dos vizinhos traficantes, que
chegavam a oferecer a pedra de crack de graça. Mergulhada nas drogas e vivendo
nas ruas, ela também se prostituía para ter acesso à droga.
Hoje, na
comunidade acolhedora Casa Betânia, D.S. luta para nunca mais recair e busca motivação
em seus sobrinhos, um deles muito amado por ela. “Tenho esse meu sobrinho como
um filho. Não desejo para ele o que aconteceu comigo. Por isso busco forças
para permanecer na sobriedade e nunca mais ver droga nenhuma na minha frente”,
relatou.
A assistente
social Lilian Almeida é quem cuida das mulheres na comunidade acolhedora. Ela
explica que a Casa Betânia tem capacidade para 20 mulheres dentro do quadro de
vagas gratuitas da Rede Acolhe, vinculada à Secretaria de Estado de Prevenção à
Violência (Seprev), além de cinco vagas sociais.
“Aqui, elas
encontram acolhimento residencial por seis meses, podendo ser prolongado por
mais dois meses. O tratamento é pautado num projeto terapêutico que tramita por
encontros cujos profissionais norteiam as acolhidas”, explica.
Quem precisar de
acolhimento voluntário para se afastar das drogas, basta procurar um dos
centros de acolhimento da Rede Acolhe, localizados em Maceió e Arapiraca. As 37
comunidades credenciadas pelo Governo do Estado acolhem homens e mulheres,
adolescentes e adultos. Para mais informações, a Seprev disponibiliza o call
center 0800-280-9390. <> Cada Minuto //