Mudar a data de
vencimento de carnes estragadas, maquiar seu aspecto ou usar químicos para
mascarar seu mau cheiro - até mesmo em produtos usados na merenda escolar.
Esta são algumas
das táticas ilegais que, segundo as autoridades do Brasil, empresas de carne do
país usavam para vender alimentos em mau estado de conservação, incluindo
fornecedoras de grandes frigoríficos.
A Operação Carne
Fraca, que envolve cerca de 30 empresas de carne do país e foi deflagrada nesta
sexta-feira, revelou que as JBS e BRF - que são as maiores do Brasil e estão
entre as maiores exportadores mundiais de carne - também adulteravam a carne
que vendiam no mercado interno e externo.
A operação foi a
maior já realiza na história da Polícia Federal, segundo as autoridades. A
investigação, que mobilizou 1.100 policiais em sete Estados, revelou uma
extensa rede de subornos e propinas nos quais estariam implicados dezenas de
inspetores do governo encarregados de garantir que os produtos cumpriam com as
normas sanitárias.
As empresas negam
que práticas de alteração tenham sido realizadas em seus produtos e dizem que
estão colaborando com as investigações.
Merenda escolar
A
descoberta de que, no Paraná, alunos da rede pública estadual consumiram
salsicha de peru sem carne - preenchida com proteína de soja, fécula de
mandioca e carne de frango - deu início à investigação de dois anos.
"Inúmeras
crianças de escolas públicas estaduais do Paraná estão se alimentando de
merendas compostas por produtos vencidos, estragados e muitas vezes até cancerígenos
para atender o interesse econômico desta poderosa organização criminosa",
disse o delegado da Polícia Federal Mauricio Moscardi Grillo.
As
práticas fraudulentas incluíam alterar os rótulos e as datas de vencimento dos
produtos, injetar água na carne para aumentar seu peso e tratar as carnes com
ácido ascórbico, a popular vitamina C que, em doses excessivas, pode ser
prejudicial à saúde. A PF encontrou produtos com estas alterações em
supermercados.
A liberação da carne vencida e adulterada era feita por
fiscais do Ministério da Agricultura, que recebiam propina dos frigoríficos
para afrouxar a fiscalização.
Segundo
a PF, há provas de que as empresas falsificaram documentos para exportar a
carne para a Europa, a China e o Oriente Médio.
A
Justiça Federal do Paraná determinou o bloqueio de R$ 1 bilhão das
investigadas.
O
Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina e de frango, e o quarto em
carne suína. As exportações em 2016 representaram 7,2% do comércio global do
setor, segundo a agência EFE.
Ligações com a política
Na sexta-feira,
a Polícia Federal cumpriu 38 mandados de prisão, 34 deles para funcionários
públicos, principalmente agentes sanitários. Também foram detidos quatro
executivos de empresas, incluindo o gerente de Relações Institucionais e
Governamentais da BRF Brasil, Roney Nogueira dos Santos, o diretor da BRF André
Luiz Baldissera e o funcionário da Seara, empresa da JBS, Flávio Evers Cassou.
Ao todo, foram
309 mandados judiciais, incluindo condução coercitiva e busca e apreensão.
Mauricio
Moscardi afirmou também que "a investigação deixa bem claro que uma parte
dos valores (das propinas) era revertida para partidos políticos". O
dinheiro, segundo ele, beneficou membros do PMDB e do PP, cujos nomes não foram
citados.
O ministro da Agricultura,
Blairo Maggi, emitiu um comunicado no qual informou ter ordenado a suspensão de
33 funcionários do governo acusados de estar envolvidos no escândalo. <> Agência BBC
Brasil //