Como toda cidade interiorana que celebra a festa anual
dedicada ao seu santo padroeiro, São José da Laje vivia, naquele dia 14 de
março de 1969 a segunda noitada festiva com novena na Matriz Igreja São Carlos,
o reencontro com os amigos nas mesas da festa postadas ao longo da avenida, as
crianças se divertindo no parque de diversões e a certeza que naquele ano a
festa prometia ser uma das melhores já celebradas pela comunidade.
Poucas pessoas tiveram a lembrança de olhar para o alto e
ver uma densa nuvem preta que se formava sobre a cidade e a região. Como era
ainda época de verão, as possibilidades de chuva eram quase remotas. Um chuvisco
ali, outros alguns dias depois, coisas peculiares da região da zona da mata mas
nada que assustasse.
De repente, um chuvisco mais intenso deu inicio o que
seria a maior e mais dolorosa tragédia da região que ceifou centenas de vidas
inocentes e destruiu parte da cidade baixa. O céu parece ter aberto as
comportas e a população assistiu a queda de uma tromba d’água nunca dantes
presenciada, arrastando tudo que encontrou pela frente, destruindo casas,
estabelecimentos comerciais e até uma igreja que tinha em sua torre um galo de
ferro que girava ao comando do vento.
Quem vivenciou aquele fatídico dia 14 de março de 1969
jamais esquecerá. Familias buscando desesperadas nos escombros seus entes
queridos, desespero, fome, flagelo, saudade, dor e a sensação de morte e
incerteza que pairava sobre o ar colorido daquela cidade de gente bonita,
trabalhadora, honesta e hospitaleira. De rico a pobre, de negro a branco, de evangélico
a católico, de idosos a jovens, de crianças a adultos, ninguém foi poupado.
Pessoas ainda creditam o fato como uma ‘vingança’ da
natureza porque a lua teria sido violada (o homem tentava há décadas pousar no
solo lunar). Outros acreditam que foi a resposta dada pelos céus a algumas
pessoas da comunidade que durante o carnaval um grupo de foliões adentrou a ‘Igreja
do Galo’ na hora da missa fantasiado na terça feira de carnaval. Tudo são
lendas, histórias que o povo canta.
A realidade que ficou daquele dia triste foi a dor de
nossos irmãos lajenses e as historias dramáticas contadas pelos sobreviventes.
Alguns traumatizados jamais voltaram a razão; outros morreram deprimidos
afetados pela perda das pessoas que integravam seu mundo. Mas, o sentimento
humano, a força de gente de espirito forte prevaleceu. A Fé do povo de São José
da Laje fez parceria com a vontade de vencer e aos poucos a cidade foi
retomando seu lugar de destaque no difícil, mas não impossível cenário da vida.
Aliás, a vida é célere e o tempo não para. Por isso,
nesta data, abrimos este espaço e apresentamos nossa solidariedade aos irmãos
lajenses o fraterno apoio deste noticioso, esperando desta maneira aguçar o
sentido daquela comunidade não de tristes recordações, mas do exemplo que
emprestaram ao mundo reconstruindo suas vidas a partir dos escombros e
permanecendo, como sempre foi e será, a nossa querida ‘Princesa das Matas’.
<> A Redação da Tribuna União //