Como o processo de construção da reforma do ensino médio foi
atropelado e pouco participativo, há muitas dúvidas sobre sua implementação e,
principalmente, sobre o tempo que isso levará – apesar da urgência em elevar a
qualidade da formação dos jovens do país.
As teorias que embasam a reforma são positivas,
como a flexibilização do currículo por meio de uma educação mais personalizada,
ou a ampliação da jornada escolar. Falar em áreas do conhecimento no lugar de
disciplinas e incentivar possibilidades múltiplas no currículo são alguns dos
caminhos possíveis parar motivar os alunos. Na sociedade do conhecimento
interligado, das redes cooperativas, do ciberespaço e da inteligência coletiva,
não podemos mais manter uma escola com matérias tão fragmentadas e isoladas.
Mas é preciso que os conteúdos essenciais de cada
área não sejam deixados de lado. Como isso ocorrerá na prática é um enorme
ponto de interrogação. Além disso, as mudanças na educação não se fazem por
decreto nem tomando conceitos consagrados e transformando em lei. Isso sem
falar em pontos bem questionáveis, como a escalação de professores leigos, sem
preparação específica para lecionar.
Há um problema de fundo: a distância que se abre
entre escolas públicas e particulares. As medidas são as mesmas, mas por razões
óbvias, as privadas terão mais facilidade e rapidez para implementá-las. Isso
pode acentuar as desigualdades educacionais, em vez de reduzi-las.
Agora vamos a um ponto que causa perplexidade: a
reforma do ensino médio depende da Base Nacional Comum Curricular - BNCC. Ela
definirá os temas essenciais de cada área e as competências a desenvolver. No
entanto, por incrível que pareça, essa base ainda é disciplinar, enquanto que a
reforma do ensino médio pressupõe interdisciplinaridade. E enquanto a reforma
fala de ensino técnico e profissional, esses conteúdos ainda não são
considerados na BNCC de forma integrada com o currículo básico.
A questão é de timing: nos termos da Lei, o
cronograma de implementação da reforma deverá ser feito pelos sistemas de
ensino “no primeiro ano letivo subsequente à data de publicação da BNCC”. Já o
processo de implementação, por sua vez, deverá ocorrer “a partir do segundo ano
letivo subsequente à data de homologação da BNCC”. Ora, segundo o MEC, a BNCC
está prevista para 2018. Noves fora, o novo ensino médio só estaria valendo em
2020 – isso se tivermos gestores comprometidos e recursos suficientes.
Justamente por isso, não é exagero afirmar que a geração que está hoje nesse
período escolar não sentirá mudanças no dia a dia.
Para além da tradicional lentidão nas políticas
educacionais, não podemos deixar de lado a alta vinculação que existe entre
medidas como essas e os partidos e gestores políticos que as implementam. Uma
troca de governo costuma colocar em risco muitas das ações realizadas.
Celeridade e constância, senhores, é o que mais
precisamos, mesmo que a mudança proposta esteja longe da perfeição. Enquanto os
especialistas travam um embate de teorias educacionais sobre o que pode ou não
dar certo, as inovações ainda estão longe de virar realidade para estudantes e
professores que fazem a educação brasileira, com seus acertos e mazelas, entre
luzes e sombras, acontecer na prática. <> G1 // Andrea Ramal