Sério, qual é o
problema de fevereiro? Por que ele não pode ter 30 ou 31 dias como um mês
comum? A história explica. Dizem por aí que Rômulo, o fundador de Roma (que
talvez seja só uma lenda), precisava de uma maneira para organizar os inúmeros
festivais e atividades de sua república. Daí surgiu a ideia de criar um
calendário, baseado nesses eventos, que desse conta dessas necessidades.
Os astrônomos
antigos já tinham uma noção de equinócios e solstícios - logo, das estações. Os
primeiros são em dezembro e em junho, marcando o início do verão e do inverno,
respectivamente. É quando Sol em seu movimento aparente atinge a maior
declinação a partir da linha do equador, fazendo com que a noite seja maior que
o dia no inverno e o inverso no verão. Os equinócios acontecem no outono e
primavera, quando estamos no meio termo e o dia e a noite tem durações mais
próximas. O ciclo completo dura 365,242 dias - lembra algum período para você?
Além disso,
astrônomos observavam as fases da Lua: Nova, Crescente, Cheia e Minguante. Cada
uma durava pouco mais de 7 dias e o ciclo completo dura 29,5 dias.
Os romanos criaram um calendário lunar, com dez meses com
duração de 30 ou 31 dias, começando em Março e terminando em Dezembro. Mas esse
ano não contemplava o calendário Solar, marcado pelas estações - e muito
importante para a agricultura. Basicamente, eles pulavam o inverno que, no
Hemisfério Norte, começa a partir de dezembro e dura os primeiros meses do ano.
E isso começou a ficar confuso.
Foi então que Numa Pompilius, segundo rei de Roma, teve
uma ideia. Como números pares eram considerados de mau agouro na Roma antiga,
ele removeu um dia de todos os meses com 30 dias. Ou seja - abril, junho,
sextilis (o agosto), setembro e novembro ficaram com 29 dias. Ele queria que o
calendário cobrisse 12 ciclos da Lua, chegando ao número de 354 dias. Mas 354 é
um número par - ops! Então ele arredondou o número para 355 dias, ganhando 57
dias extras. Ele dividiu esse número em dois novos meses e os colocou no fim do
calendário. Sim, janeiro (de 29 dias) e fevereiro (de 28) já foram organizados
depois de dezembro em um calendário anual.
Fevereiro ganhou 28 dias. Sim, é um número par - mas os
romanos deixaram esse passar. Por que? Fevereiro, na época o último mês, era considerado
um período de má-sorte. Então eles queriam que ele acabasse o quanto antes.
Logo, não se importaram em deixar esses dias a menos.
Ainda assim, o calendário de Numa Pompilius não coincidia
com as estações. Depois de alguns anos, as estações não estavam em sincronia
com seus meses e uma nova reforma se fez necessária. Aí fevereiro foi dividido
em dois: 23 dias - e o resto. Aí para evitar a falta de sincronia entre o
calendário e as estações, ano sim ano não esse 'resto' de cinco dias recebia um
acréscimo de 27 dias. Se você odeia o ano bissexto esse esquema parece ainda
mais confuso, certo? Dessa forma a cada quatro anos os 1465 dias passados
poderiam ser divididos em quatro partes de 366,25, que se aproxima mais do
ciclo solar.
Se o calendário fosse organizado dessa forma as estações
estariam mais próximas da realidade. Mas aí entra a política: pessoas
incumbidas de cargos na república romana queriam estender seus mandatos, ou expulsar
concorrentes. Então esses dias extras acabavam sendo adicionados mais por
pressões da sociedade do que pelas estações, como no plano normal, e tudo
voltou a ser confuso.
Quando Júlio César chegou ao poder em 49 a.C. as coisas
já estavam completamente fora de sincronia. Por sorte ele havia passado um
tempo no egito, onde os calendários de 365 dias eram populares. E então em 46
a.C. ele fez uma nova reforma no calendário romano. Moveu janeiro e fevereiro
para o começo do ano e adicionou 10 dias ao ano para chegar ao total de 365
dias. O mês Quintilis passou a se chamar Julius (Julho) e ganhou um dia extra,
31, em homenagem ao então imperador. Fevereiro ficou com 29 dias. Três décadas
mais tarde, em 8 a.C, o nome do oitavo mês, Sextilis, foi trocado para
Augustus, para homenagear o importador César Augusto. Mas Augustus tinha só 30
dias enquanto Julho tinha 31. O imperador da época determinou então que seu mês
tivesse 31 dias, para ficar em pé de igualdade com césar. Setembro ficou com 30
dias depois dessa mudança.
E, como o ano é um pouco maior do que esse número
redondo (0,242 dia, para sermos exatos) ele também
adicionou um dia extra a cada 4 anos. No entanto, eles o adicionaram entre os
dias 23 e 24 de fevereiro. Muito tempo depois uma nova reforma teria sido feita
para oficializar o dia extra no fim de fevereiro - dia 29 nos anos bissextos.
<> Revista Galileu // Via Digg