O Instituto de Técnico-Científico de Polícia (Itep) está montando uma
'operação de guerra' para identificação dos corpos dos presos mortos durante a
rebelião que durou pouco mais de 14 horas na Penitenciária Estadual de Alcaçuz,
no Rio Grande do Norte. Uma carreta frigorífica foi contratada para armazenar
os corpos, e legistas do Ceará e da Paraíba vão auxiliar no processo de
identificação.
De acordo com o Itep, o órgão está preparado para receber 100 ou mais
corpos, se for o caso. Uma fonte ligada ao governo informou que até a última
atualização desta reportagem pelo menos 25 mortes haviam sido confirmadas.
Oficialmente, o governo do RN diz apenas que há "mais de dez mortos".
Os corpos serão levados da penitneciária para o Itep nos rabecões e nos
carros de perícia. "Estamos com todo o aparato pronto para receber os
corpos e trabalhar na identificação", informou Thiago Tadeu, chefe de
gabinete do Itep.
A rebelião na Penitenciária Estadual de Alcaçuz acabou após 14h20.
Os detentos, que se rebelaram às 17h deste sábado (14) (horário local, 18h em
Brasília), se renderam às 7h20 deste domingo (15) após a Tropa de Choque da
Polícia Militar entrar nos pavilhões. Segundo a Secretaria de Segurança, não
houve troca de tiros.
A rebelião começou com uma briga entre presos dos pavilhões 4 e 5.
Segundo o governo, a briga estava restrita aos dois pavilhões. O pavilhão 5 é o
presídio Rogério Coutinho Madruga, que fica anexo a Alcaçuz. Há separação entre
presos de facções criminosas entre os dois presídios.
Um helicóptero da PM auxiliou na operação, que envolve Choque, Bope e
GOE (Grupo de Operações Especiais). Às 6h20, era possível ver fumaça negra nos
pavilhões e ouvir bombas de efeito moral do lado de fora da penitenciária.
Alcaçuz fica em Nísia Floresta, cidade da Grande Natal,
e é o maior presídio do estado. A penitenciária possui capacidade para 620
detentos, mas abriga cerca de 1.150 presos, segundo a Sejuc, órgão responsável
pelo sistema prisional do RN.
Enquanto os veículos entravam no complexo penitenciário, pessoas que
estavam na porta aplaudiam e vaiavam os policiais. Há familiares de detentos,
que ontem à noite tentaram furar o bloqueio policial, sem sucesso. Eles dizem
que presos que não estão envolvidos na rixa entre as facções estão pedindo
socorro. Com panos brancos, eles acenaram e pediram paz.
Durante a madrugada, o tenente-coronel Marcos Vinícius, que comanda o
Bope, disse ao G1,
por volta das 2h, que não houve negociação entre PM e presos. A madrugada foi
tranquila, sem tiros nem tumultos aparentes. O complexo ficou sem energia
elétrica desde a noite de ontem. Muitos tiros foram ouvidos e era possível ver
muita fumaça do lado de fora do presídio ontem.
Ontem à noite, o secretário estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc),
Wallber Virgolino, afirmou que a determinação era retomar o controle do
presídio. "A ordem já foi dada: retomar o controle de Alcaçuz e evitar
rebeliões em outras unidades", afirmou Virgolino, que diz ter chamado
todos os agentes penitenciários que estavam de folga. O estado possui cerca de
800 agentes penitenciários.
O
motim
A rebelião começou por volta das 17h de sábado (horário local, 18h em Brasília.
Segundo a presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários, Vilma Batista,
homens em um carro se aproximaram do presídio antes da rebelião e jogaram armas
por sobre o muro.
A
Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed) diz em
nota que as mortes são "resultado de uma briga entre facções rivais".
Já o governo do estado afirma que "'estão sendo levantadas informações
acerca do envolvimento de facções criminosas".
Auxílio
Em entrevista ao Jornal Nacional, o ministro da Justiça, Alexandre
de Moraes, disse que o combate ao crime organizado dentro dos presídios será
intensificado. Sobre a rebelião, o ministro afirma estar "aguardando,
eventualmente, o pedido de algum auxílio". "Obviamente, em havendo
esse pedido, o auxílio será imediato”, afirmou Moraes.
"O
sistema está superlotado há muito tempo. Eu costumo repetir que não há passo de
mágica pra solucionar um problema crônico no Brasil. É um problema que, governo
após governo, vem se ampliando", afirmou. "Nós temos aproximadamente,
hoje, 650 mil presos. Com um deficit de quase 300 mil vagas. Obviamente, isso
acaba tornando o sistema um barril de pólvora".
O
governador do Estado, Robinson Faria, afimou ter entrado em contato com o
ministro, para que o governo federal acompanhe a situação do Estado.
A Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed)
emitiu nota afirmando ter montado um Gabinete de Gestão Integrada (GGI) para
executar as ações a serem empregadas na rebelião do presídio de Alcaçuz.
"Já estão no local o Batalhão de Operações Especiais (Bope), o
Batalhão de Choque e a Força Nacional para evitar mais confrontos e controlar a
situação. Há registro de mortes resultado de uma briga entre facções
rivais", afirmou a secretaria.
Rebeliões
e fugas
A última rebelião em Alcaçuz foi registrada em novembro de 2015.
Houve quebra-quebra após a descoberta de um túnel escavado a partir do pavilhão
2. “Assim que acabou a visita social, por volta das 15h, os presos se
amotinaram”, disse o secretário de Justiça da época, Cristiano Feitosa.
Mais de 100 presos conseguiram escapar do presídio no ano passado,
em 14 fugas. A maioria deixou o presídio por meio de túneis escavados a partir
dos pavilhões ou por buracos abertos no pé do muro, sempre sob uma guarita
desativada ou sem vigilância.
Força
Nacional
Na segunda-feira (9), o Ministério da Justiça prorrogou por mais 60 dias a
presença da Força Nacional de Segurança no Rio Grande do Norte. Os policiais
enviados pelo governo federal estão atuando no patrulhamento das ruas e podem
atuar na segurança do perímetro externo das unidades prisionais localizadas na Grande
Natal.
A Força Nacional chegou ao estado em março de 2015, durante a série de
motins no sistema prisional do estado, e o prazo de apoio poderá
ser novamente prorrogado, caso haja necessidade.?
Calamidade
pública
O sistema penitenciário potiguar entrou em calamidade pública no mesmo
mês, em março de 2015. Na ocasião,
foram gastos mais de R$ 7 milhões para recuperar 14 presídios depredados
durante motins, mas as melhorias foram novamente destruídas. Atualmente, em várias
unidades as celas não possuem grades e os presos circulam livremente dentro dos
pavilhões.
Segundo a Secretaria de Justiça e da Cidadania (Sejuc), órgão
responsável pelo sistema prisional do estado, o Rio Grande do Norte possui
33 unidades prisionais, que oferecem 3,5 mil vagas, mas a população carcerária
é de 8 mil presos - ou seja, o déficit é de 4,5 mil vagas.
Acre
e Amazonas
Na quinta-feira (12), presos apontados pelos setores de inteligência do Acre e
do Amazonas como líderes de facções criminosas chegaram à penitenciária federal
de Mossoró,
na região oeste do Rio Grande do Norte.
Ao todo, foram 19 detentos que foram trazidos em uma operação especial para o
presídio potiguar - 14 do Acre e 5 do Amazonas. <> G1 RN //