Com a chegada de 2017, o Fórum Econômico Mundial
(WEF, na sigla em inglês) divulgou a edição anual do estudo que procura
antecipar os principais riscos e desafios globais para os próximos 12 meses.
O documento, intitulado Global Risks Report (Relatório
de Riscos Globais, em tradução livre), avalia tendências e serve de bússola
para a formulação de políticas e estratégias de governos e empresas.
Ele
foi divulgado uma semana antes do início da reunião anual do Fórum em Davos, na
Suíça, que conta sempre com a presença de acadêmicos e líderes empresariais e
políticos do mundo inteiro.
Confira quais são as cinco maiores
ameaças para o mundo em 2017, segundo a "bola de cristal" do WEF:
O relatório lembra que 2016 foi o ano
mais quente da história, com temperatura global 1,14ºC acima da observada antes
da Revolução Industrial.
Sugere que as mudanças climáticas
trazem consequências sociais graves, como imigração - segundo o estudo, 21,5
milhões de pessoas tiveram que emigrar desde 2008 por eventos relacionados ao
clima.
A entidade defende o cumprimento do
Acordo de Paris, fechado em 2015 e que pressupõe a participação de todas as nações
- não apenas países ricos - no combate ao aquecimento global.
"Muitos riscos causados por não
se fazer nada a respeito do clima irão transbordar para ameaças sociais e
geopolíticas. Veremos crescente imigração por riscos ambientais", afirmou
Margareta Drzeniek-Hanouz, chefe do setor de Competitividade Global e Riscos do
WEF.
Motivadas por catástrofes naturais e
também por conflitos violentos, as ondas migratórias deverão se exacerbar em
2017, aponta o Fórum de Davos.
O relatório identifica ainda o risco
de essa tendência ser explorada por políticos populistas, em busca de votos e
aprovação popular.
"A imigração se
mostrou ser um assunto político extremamente bem-sucedido entre os populistas anti-establishment,
gerando uma ameaça eleitoral em vários países", afirma o texto, que
enumera desafios decorrentes do avanço de "tensões culturais".
"A imigração cria tensões
culturais: há necessidade de dar espaço para a tolerância religiosa sem abrir a
porta para o extremismo. Há a necessidade de encorajar a diversidade que traz
inovação sem alimentar ressentimento", aponta.
A organização reconhece que, assim
como ocorre com a globalização, há setores da sociedade que não experimentam os
benefícios gerais à economia proporcionados pela imigração.
"Os desafios humanitários
continuarão a criar ondas de pessoas - e nos países onde há baixos índices de
fertilidade e número de aposentados crescendo a imigração será necessária para
trazer novos trabalhadores."
Desastres naturais de grande escala
são uma ameaça real à infraestrutura produtiva global, aponta o Fórum de Davos.
O relatório cita um estudo da
Universidade de Oxford (Inglaterra) que simulou o impacto destrutivo de uma
enchente na região costeira da China, que concentra produção para exportação.
Mais de 130 milhões de pessoas seriam
afetadas em um eventual desastre, comprometendo a cadeia internacional de
comércio.
"Interdependência entre
diferentes redes de infraestrutura está aumentando o escopo de falhas sistêmicas
(…) que podem se acumular e afetar a sociedade de formas imprevisíveis",
prevê o relatório.
Ataques terroristas têm motivado um
reforço na vigilância estatal sobre cidadãos, mas tais ferramentas muitas vezes
são usadas com fins políticos, alerta o relatório, que diz ver a tendência com
"preocupação".
"Em alguns casos, problemas de
segurança e protecionismo (…) têm sido usados como razão para reduzir
dissidências. Em outros casos, restrições às liberdades são efeitos colaterais
de um pacote de segurança bem intencionado, (mas) essas tendências preocupantes
estão aparecendo até mesmo em democracias."
O Fórum de Davos projeta uma
"situação potencialmente explosiva" em países que coíbem a liberdade
de expressão em nome do combate ao terrorismo.
"Ferramentas tecnológicas estão
sendo utilizadas para aumentar a vigilância e o controle sobre cidadãos e
erradicar críticas (aos governos). Restringir novas oportunidade a formas
democráticas de expressão e mobilização e, por consequência, toda uma gama de
direitos, gera uma situação potencialmente explosiva."
Outra ameaça citada pelo Fórum de
Davos são as fraudes cibernéticas, que podem avançar diante de legislações
frágeis e falta de ações conjuntas entre governos e setor privado.
Em entrevista à BBC Brasil, o
presidente da empresa de análise de risco Marsh, John Drzik, que atuou na
elaboração do relatório, diz que criminosos estão cada vez mais próximos das
vítimas, pois aparelhos eletroeletrônicos domésticos estão sendo conectados à
internet.
"A introdução de novas
tecnologias deixará isso potencialmente ainda mais perigoso. Será possível
invadir aparelhos domésticos como termômetros eletrônicos" exemplificou.
Drzik citou ainda a ameaça de ataques
patrocinados por governos e orientados por interesses comerciais.
"Precisaremos de coordenação
entre países na esfera internacional e entre governo e iniciativa privada para
desenvolver respostas de governança", afirmou.
O relatório também sugere ações para
enfrentar as ameaças à economia global, concentradas em quatro frentes:
Entre 1900 e 1980, a desigualdade
social recuou nos países ricos, mas entre 2009 e 2012 a renda dos 1% mais ricos
nos Estados Unidos, por exemplo, cresceu mais de 31%, lembra o relatório.
O documento defende a adoção de
mecanismos de distribuição de benefícios econômicos, e cita o Bolsa Família,
iniciativa federal de transferência de renda no Brasil, como medida eficiente
na mitigação da desigualdade social.
Décadas de mudanças econômicas e
sociais rápidas aumentaram o fosso entre as gerações e amplificaram conflitos
de identidade pelo mundo, aponta o WEF.
O desafio diante de um cenário muitas
vezes agravado pelo debate desinformado e pautado por emoções, aponta a
entidade, é construir pontes que conectem diferenças culturais e preservem
direitos individuais.
A automação da mão de obra respondeu
por cerca de 86% dos empregos perdidos na indústria nos EUA entre 1997 e 2007,
aponta o documento, que procura isentar a integração dos mercados globais pelo
problema.
"Movimentos populistas tendem a
focar a culpa pela perda de empregos na globalização (…) embora a evidência
aponte a tecnologia como principal fator. As manufaturas nos Estados Unidos não
regrediram. O país está produzindo mais do que nunca, apenas emprega menos
trabalhadores", afirma o relatório.
Diante de transformações na natureza
do trabalho, conclui o documento, novos empregos colaborativos precisam ser
criados para minimizar a desocupação humana.
O Fórum defende a importância de se
resgatar a relevância de organismos de governança global, como as Nações Unidas
e entidades de promoção do comércio internacional.
A tendência de valorização nacional e
desvalorização internacional enfraquece os laços de confiança entre povos e
nações, aponta o órgão.
A cooperação internacional também é
fundamental, diz o WEF, para manter o aquecimento global dentro do limite de
dois graus centígrados, cortando as emissões de carbono em 40-70% até 2050 e
eliminando-as completamente em 2100. BBC Brasil //