Imagine
que você está dando uma volta emocionante numa montanha-russa que tem duração
de dois minutos, com uma subida lenta de 62 metros, seguida de uma queda livre
de 4 segundos, com velocidade máxima de 120 km/h. Ao fim do percurso, você
ainda deve estar com um turbilhão de sentimentos confusos que nem mesmo
consegue entender, devido ao sobe e desce e infindáveis curvas provocadas pelo
brinquedo.
Pois
é exatamente a mesma coisa que acontece com alguém que sofre de transtorno do
humor bipolar (THB), uma doença caracterizada por variações ligeiras de humor,
com fases de depressão e euforia, intercaladas com períodos de normalidade.
Segundo
o psiquiatra Audenis Peixoto, um indivíduo para ser considerado com transtorno
bipolar (TB), obrigatoriamente tem que apresentar a mania, cujo quadro clínico
afeta o humor e as funções vegetativas como o sono, a cognição, a
psicomotricidade e o nível de energia.
O
pensamento torna-se mais rápido, podendo evoluir para a fuga de ideias. O
discurso é caracterizado por prolixidade, pressão para falar e irrelevância. As
ideias costumam ser de grandeza, podendo ser delirantes. Geralmente a crítica
está prejudicada e os ajuizamentos emitidos se afastam da realidade do
paciente.
“Esses
prejuízos são causados pelo pensamento acelerado e do humor eufórico que o
paciente passa a demonstrar, uma vez que ele não tem como mensurar as
consequências dos seus atos. Nos casos mais graves, principalmente, é
necessário hospitalização”, explicou Peixoto.
Embora
não seja obrigatório no quadro clínico do transtorno bipolar, a depressão pode
trazer consequências graves à saúde do portador da doença, porque o paciente
deprimido tem como base o humor em seu nível mais baixo. Segundo Peixoto, o
sintoma inicial da bipolaridade é a depressão, mas também há casos da mania
isolada, em que o paciente tem o episódio maníaco e já é diagnosticado com a
enfermidade psiquiátrica.
“Quando
o paciente apresenta os sintomas da mania ou hipomania, a consideração para o
diagnóstico é a bipolaridade. A depressão geralmente passa despercebida,
porque, para a maioria das pessoas o quadro clínico varia de leve a moderado,
comprometendo menos a capacidade da pessoa.
Geralmente
a depressão é sentida quando aparece angústia, sofrimento psíquico e muita
ansiedade. É importante saber que a irritabilidade é um sintoma muito comum e
nunca representa uma característica de personalidade”, alerta.
Por
outro lado, a existência de um caso de transtorno bipolar numa família aumenta
a possibilidade de que a enfermidade se manifeste em outros membros. O
transtorno bipolar pode aparecer pela primeira vez em qualquer idade: seja ela
na criança, no adolescente, no adulto ou no idoso.
Não
se pode deixar de considerar também que, além da predisposição e
vulnerabilidade geneticamente determinadas, certas situações contribuem para a
eclosão ou precipitação do problema, tais como a carga maior de estresse, a má
qualidade do sono e o consumo de substâncias lícitas e ilícitas que interferem
no humor.
Na
opinião do psiquiatra, uma das maiores dificuldades para se enfrentar o
transtorno bipolar é o fato de o paciente não aceitar a doença e recusar-se a
buscar tratamentos. Se aceitasse que tem um problema psicológico e se
dispusesse a entendê-lo e tratá-lo, alcançaria uma solução rápida e segura.
“Quando
há uma boa relação médico-paciente, conseguimos ‘abrir seus olhos’, fazendo com
que ele perceba isso e queira realizar o tratamento mais adequado”’, afirma,
informando que o paciente bipolar tem uma grande vantagem quando comparado ao
paciente com transtorno bipolar, pois compreende de forma repentina e intuitiva
de que está acometido da doença mental.
As
pessoas portadoras de patologias do humor, como transtornos bipolares e
depressivos, estão mais vulneráveis a outros problemas de saúde. Entre estes, é
de particular importância o uso problemático de substâncias como álcool,
cocaína, crack, maconha, anfetaminas e muitas outras drogas, incluindo o
tabaco, que podem ser ingeridas nestes padrões.
Para
o psiquiatra, o chamado uso problemático pode trazer “prejuízos objetivos à
pessoa, como dependência, abuso nocivo, contaminação pelo HIV, agravamento de
outras doenças já existentes na pessoa. Além disso, os indivíduos que ingerem
álcool em excesso ou consomem drogas, os sintomas depressivos e maníacos
tornam-se mais graves e menos responsivos ao tratamento com medicamentos,
especialmente ao lítio, importante estabilizador de humor”.
De
acordo com Peixoto, a dependência de álcool aumenta significativamente as
tentativas de suicídio, bem como as internações hospitalares passam a ser mais
frequentes.
Tratamentos
O
transtorno bipolar não tem cura, mas pode ser controlado. O tratamento inclui o
uso de medicamentos, psicoterapia com o paciente e a família, e mudanças no
estilo de vida, tais como o fim do consumo de substâncias psicoativas (cafeína,
anfetaminas, álcool e cocaína) e adoção de hábitos alimentares saudáveis.
Segundo
o psiquiatra, os estabilizadores de humor, especialmente o carbonato de lítio,
tem-se mostrado útil para reverter os quadros agudos de euforia e evitar a
ocorrência das crises, sobretudo na fase maníaca. No entanto, os
antidepressivos devem ser utilizados com cuidado, porque podem provocar uma
guinada rápida da depressão para a euforia, ou acelerar a incidência das
crises.
“Quando
acontece o episódio maníaco, o tratamento medicamentoso é para a vida toda.
Neste caso, a única escolha é a alteração da dosagem. Mas, de um modo geral, o
tratamento traz uma boa resposta aos pacientes. Muitos chegam a melhorar em uma
semana. Dessa forma, o cuidado e a manutenção vão depender não só dos remédios,
mas também do cuidado da família, que é imprescindível”, explica. “Quanto mais
episódios o paciente tem, maior a gravidade da doença.”
Manter
uma rotina de exercícios físicos aeróbicos é fundamental para os portadores de
transtorno bipolar. A recomendação é fazer, pelo menos, meia hora por dia, três
vezes por semana.
O
ideal é a prática ao ar livre, pois o sol estimula a produção de serotonina, substância
que ajuda a regular o humor. Durante o exercício, o cérebro recebe maior
irrigação sanguínea. A região do hipocampo, responsável pelas reações
emocionais, é estimulada a liberar mais desse neurotransmissor, o que causa a
reação de bem-estar. Extra Alagoas //