Mas
esta parte do corpo, que até bem pouco tempo era considerada apenas um
ligamento do aparelho digestivo, acaba de ser reclassificada.
Ao
fim de um estudo que durou mais de seis anos, cientistas acreditam agora que a
estrutura é, na verdade, um órgão único e contínuo.
Trata-se,
portanto, da mais nova descoberta no corpo humano.
"A
descrição anatômica de cem anos atrás era incorreta. Este órgão está longe de
ser fragmentado; é uma estrutura simples, contínua e única", assinalou J.
Calvin Coffey, pesquisador do University Hospital Limerick, na Irlanda,
responsável pela equipe que realizou a descoberta.
A reclassificação foi publicada em um artigo assinado por Coffey
e por seu colega Peter O'Leary na prestigiada revista científica The Lancet Gastroenterology & Hepatology.
"No
estudo, que foi revisado e aprovado por colegas, dizemos que agora temos um
órgão no corpo que até esta data não era reconhecido como tal", assinalou
Coffey.
O
mesentério é uma dobra dupla do peritônio - como se chama o revestimento da
cavidade abdominal - que une o intestino com a parede do abdômen e permite que
ele se mantenha no lugar.
Dessa
forma, o estudo das funções deste novo órgão pode abrir caminho para novos
métodos cirúrgicos do aparelho digestivo.
Em 2012, Coffey e seus
colegas mostraram os resultados de sua pesquisa com microscópio nos quais
sugeriam que o mesentério tinha uma estrutura contínua, característica
necessária para que fosse considerado um órgão.
Desde
então, os pesquisadores se dedicaram a coletar provas para embasar a
reclassificação dessa parte do corpo humano, que culminaram na publicação do
artigo.
E
embora o funcionamento do aparelho digestivo não mude com a descoberta, a
confirmação de que esta estrutura é efetivamente um órgão "novo" abre
caminho para novos estudos.
"Podemos
categorizar doenças digestivas relacionadas a este órgão", exemplifica
Coffey.
No
entanto, depois de detalhar estrutura e características anatômicas, cientistas
pretendem agora entender melhor a função do novo órgão, além de proporcionar
sustentação e permitir a irrigação sanguínea às vísceras.
"Esse
é o próximo passo. Se entendemos sua função, podemos identificar as anomalias,
e estabelecer quando há uma doença, ou seja, quando o órgão passe a funcionar
de modo anormal", afirma Coffey, em nota enviada à imprensa.
O estudo, afirmam os
especialistas, pode ser a chave para entender melhor algumas doenças abdominais
e digestivas, bem como aprimorar os tratamentos atuais.
Ou
seja, pode permitir, por exemplo, o desenvolvimento de novas técnicas
cirúrgicas menos invasivas, com menos complicações ou com uma melhor taxa de
recuperação do paciente.
Enquanto
a pesquisa não é concluída, uma das mudanças mais imediatas, contudo, será no
ensino da medicina, que passará a incluir o mesentério na lista dos quase 80
órgãos do corpo humano que conhecemos. BBC Brasi