Em informações
prestadas ao Ministério Público Federal (MPF) para a assinatura de acordo de
delação premiada, o ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht Cláudio
Melo Filho apresentou valores repassados a políticos com a finalidade de obter
vantagens para a empreiteira.
O depoimento, que veio a público na sexta-feira (9), traz nomes,
valores, circunstâncias e motivação dos repasses. Parte dos recursos foi paga
por meio de doações eleitorais oficiais, mas também há registro de propina e de
caixa 2.
Em alguns casos, como o dos senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Renan
Calheiros (PMDB-AL), o dinheiro era entregue a uma pessoa, mas serviria para
abastecer um grupo dentro do partido. Em outros casos, não é possível
identificar se a doação foi oficial.
Cláudio atuava na relação da Odebrecht com o Congresso Nacional.
Segundo ele, alguns pagamentos eram feitos para garantir a aprovação de
projetos de interesse da empreiteira. Na pré-delação, ele citou 51 políticos de 11 partidos.
Veja os nomes dos polítícos que Cláudio Melo Filho disse que receberam
doações não declaradas, os valores e a situação do pagamento:
– Adolfo Viana (PSDB-BA), deputado estadual. Recebeu R$ 50 mil não
declarados.
– Aécio Neves (PSDB-MG), senador. Pediu R$ 1 milhão para o DEM, não
declarados.
– Anderson Dornelles, ex-assessor de Dilma Rousseff. Recebeu R$ 350 mil
não declarados.
– Antonio Brito (PSD-BA), deputado federal. Recebeu R$ 100 mil não
declarados, R$ 200 mil indefinidos e R$ 130 mil declarados.
– Arthur Maia (PPS-BA), deputado federal. Recebeu R$ 250 mil não
declarados e R$ 350 mil declarados.
– Arthur Virgílio (PSDB-AM), prefeito eleito de Manaus. Recebeu R$ 300
mil não declarados.
– Ciro Nogueira (PP-PI), senador. Recebeu R$ 300 mil não declarados e
R$ 1,8 milhão declarados.
– Colbert Martins (PMDB-BA), ex-deputado federal. Recebeu R$ 150 mil
não declarados e R$ 441 mil declarados.
– Daniel Almeida (PCdoB-BA), deputado federal. Recebeu R$ 100 mil não
declarados.
– Delcídio do Amaral (sem partido-MS), ex-senador. Recebeu R$ 500 mil
não declarados.
– Duarte Nogueira (PSDB-SP), prefeito eleito de Ribeirão Preto. Recebeu
R$ 350 mil não declarados e R$ 300 mil declarados.
– Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-deputado federal. Recebeu R$ 10,5
milhões, não determinado.
– Eliseu Padilha (PMDB-RS), ministro-chefe da Casa Civil. Recebeu R$ 10
milhões a pedido de Temer, não determinado.
– Eunício Oliveira (PMDB-CE), senador. Recebeu R$ 2,1 milhões não
declarados.
– Francisco Dornelles (PP-RJ), vice-governador do Rio de Janeiro.
Recebeu R$ 200 mil não declarados.
– Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), ex-ministro da Secretaria de Governo.
Recebeu R$ 1 milhão não determinados, R$ 1,5 milhão não declarados e R$ 2,380
milhões declarados.
– Gim Argello (PTB-DF), ex-senador. Recebeu R$ 1,5 milhão não
determinados, R$ 300 mil declarados e R$ 1 milhão não declarados.
– Heráclito Fortes (PSB-PI), R$ 200 mil não declarados e R$ 50 mil
declarados.
– Hugo Napoleão (PSD-PI), ex-senador. Recebeu R$ 100 mil declarados e
R$ 100 mil não declarados.
– Inaldo Leitão, ex-deputado. Recebeu R$ 100 mil não declarados.
– Jaques Wagner (PT-BA), ex-ministro. Recebeu R$ 3 milhões não
determinados e R$ 7,5 milhões não declarados. Cláudio Melo diz acreditar que
foram repassados R$ 10 milhões para a candidatura de Rui Costa em 2014, a
pedido de Wagner.
– José Agripino (DEM-PI), senador. Recebeu R$ 1 milhão, a pedido de
Aécio Neves, não determinados.
– José Carlos Aleluia (DEM-BA), deputado federal. Recebeu R$280 mil
declarados e R$ 300 mil não declarados.
– Jutahy Magalhães (PSDB-BA), deputado federal. Recebeu R$ 350 mil sem
declaração e R$ 500 mil declarados.
– Lídice da Mata (PSB-BA), senadora. Recebeu R$ 200 mil não declarados.
– Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), deputado federal. Recebeu R$ 400 mil
declarados e teria recebido R$ 1,5 milhão não declarados.
– Marco Maia (PT-RS), deputado federal. Recebeu R$ 1,35 milhão não
declarados.
– Michel Temer (PMDB-SP), presidente da República. Pediu repasse de R$
10 milhões.
– Moreira Franco (PMDB-RJ), secretário do PPI. Pediu recursos para o
PMDB, mas o recebimento foi feito através de Eliseu Padilha.
– Paes Landim (PTB-PI), deputado federal. Recebeu R$ 100 mil não
declarados e R$ 80 mil declarados.
– Paulo Henrique Lustosa (PP-CE), ex-deputado federal. Recebeu R$ 100
mil não declarados e R$ 100 mil declarados.
– Paulo Magalhães Junior (PV-BA), vereador eleito de Salvador. Recebeu
R$ 50 mil não declarados.
– Paulo Skaf (PMDB-SP), presidente da Fiesp. Recebeu R$ 6 milhões dos
R$ 10 milhões negociados por Michel Temer.
– Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado. Beneficiado com os
R$ 22 milhões repassados ao grupo do PMDB na Casa (doações declaradas e não
declaradas).
– Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara. Recebeu R$ 600 mil não
determinados.
– Romero Jucá (PMDB-RR), senador. Beneficiado com os R$ 22 milhões
repassados ao grupo do PMDB do Senado (doações declaradas e não declaradas).
– Rui Costa (PT-BA), governador da Bahia. Teria recebido R$ 10 milhões
a pedido de Jaques Wagner (não determinado).
O que dizem os citados
Em nota divulgada pelo Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer
disse que repudia com veemência o que chamou de "falsas acusações" de
Cláudio Melo Filho. Segundo Temer, as doações feitas pela construtora Odebrecht
ao PMDB foram todas por transferência bancária e declaradas ao Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). A nota diz ainda que não houve caixa dois nem entrega
em dinheiro a pedido do presidente.
Eliseu Padilha afirmou que a acusação é “mentirosa” e que nunca tratou
de arrecadação para deputados ou para que quer que seja. Moreira Franco também
disse que a acusação é mentirosa e afirmou que jamais falou sobre política ou
recursos para o PMDB com Cláudio Melo Filho.
Geddel Vieira Lima disse que acha estranho o nome dele estar na
delação, já que todas as doações da Odebrecht à campanha dele foram declaradas
à Justiça Eleitoral. A defesa de Eduardo Cunha disse que só vai se manifestar
depois que tiver acesso à delação e que ela deveria ter seu sigilo resguardado.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, negou com veemência ter participado
de qualquer negociação com a Odebrecht. Ele disse que nunca recebeu vantagem
indevida em troca de votações na Câmara e que todas as doações recebidas por
ele foram legais e declaradas ao TSE.
O deputado federal José Agripino disse que desconhece e repele as
acusações. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves, afirmou que todos os
pedidos de doações feitos pelo partido em 2014 se deram exclusivamente dentro
da lei.
Renan Calheiros disse que "jamais autorizou ou consentiu que
terceiros falassem em seu nome em qualquer circunstância". O senador
afirmou ainda que "não há chance de serem encontradas irregularidades em
suas contas pessoais ou eleitorais". E que "essas contas já são
investigadas há nove anos sem que nenhuma prova seja encontrada contra
ele".
O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, disse "que todos os
recursos arrecadados em suas campanhas foram recebidos de acordo com a lei e
aprovados pela Justiça Eleitoral". Ele ainda disse que "nunca
autorizou ninguém a negociar recursos em seu nome em troca de favorecimento à
qualquer empresa".
Romero Jucá, líder do governo no Congresso, negou que recebesse
recursos para o PMDB e disse que está à disposição da Justiça.
O ex- assessor de Dilma, Anderson Dornelles, também negou as acusações.
Ele disse que nunca se reuniu na sede da Odebrecht nem solicitou ou recebeu
qualquer ajuda financeira. Negou ainda que tenha autorizado qualquer pessoa a
fazer isso em nome dele.
O senador Ciro Nogueira disse que as doações recebidas pelo partido
foram legais e sempre devidamente declaradas à justiça eleitoral.
A assessoria do deputado Heráclito Fortes disse que ele recebeu
contribuições legais e já aprovadas pela justiça eleitoral, sem qualquer
vinculação com propina.
Os deputados Paulo Henrique Lustosa e Daniel Almeida negaram
recebimento via caixa 2 e disseram que todas as doações para suas campanhas
foram legais. O deputado Paes Landim disse que todas as doações que recebeu
foram declaradas oficialmente e que jamais houve troca de favores entre ele e a
Odebrecht.
A defesa do ex-senador Delcídio do Amaral disse que as informações são
especulativas, não oficiais e sem credibilidade.
O vice-governador do Rio, Francisco Dornelles, enviou uma nota
afirmando que todas as doações eleitorais recebidas pelo Partido Progressista
foram feitas de acordo com a legislação eleitoral e aprovadas pela Justiça.
O prefeito eleito de Manaus, Arthur Virgílio, do PSDB, negou que
tivesse recebido doação por caixa 2. Ele disse que todas as doações da
Odebrecht foram declaradas à justiça eleitoral.
O deputado estadual da Bahia Adolfo Viana disse que não conhece Cláudio
Melo Filho e que todas as doações que recebeu foram declaradas à Justiça Eleitoral.
Duarte Nogueira, prefeito eleito de Ribeirão Preto, afirma que todas as
doações recebidas em suas campanhas eleitorais de 2010 e 2014 – por empresas
ligadas ao grupo Odebrecht ou repassadas pelo Diretório Estadual do PSDB –
foram regularmente declaradas e aprovadas pelo TSE.
O ex-deputado Colbert Martins (PMDB-BA) nega que tenha recebido
quantias não declaradas da Odebrecht ou de qualquer outra empresa. “Tudo que
tem nas minhas contas eleitorais foi declarado. Nenhum tipo de omissão foi
feita. As contas foram apreciadas e aprovadas. Tudo que eu recebi eu declarei”,
afirma.
O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, disse que nunca pediu e nem
autorizou ninguém a pedir qualquer contribuição de campanha que não fosse
regularmente declarada em suas prestações de contas e afirmou que todas elas
foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.
Segundo o jornal "O Globo", o ex-deputado Inaldo Leitão disse
em um perfil nas redes sociais que nunca teve relação de negócios com a
Odebrecht e que não atuou em interesse da empresa.
O G1 está tentando contato com os deputados
federais Antonio Brito e Arthur Maia, os ex-senadores Gim Argello e Hugo Napoleão,
com o governador da Bahia, Rui Costa, e o vereador de Salvador Paulo Magalhães
Junior.
O ex-ministro Jaques Wagner e os deputados federais Marco Maia e Lúcio
Vieira Lima não retornaram os contatos da TV Globo. A produção do Jornal
Nacional não conseguiu contato com os deputados federais Paulo Magalhães e
Jutahy Magalhães. Também não conseguiu contato com José Carlos Aleluia, nem com
a senadora Lídice da Mata. G1 //