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Com a crise econômica e a diminuição de clientes
dos planos de saúde, o número de paulistanos que retiram remédios na rede
pública da capital cresceu 30% neste ano, passando de 4,1 milhões nos oito
primeiros meses de 2015 para 5,4 milhões no mesmo período deste ano, segundo
dados da Secretaria Municipal de Saúde obtidos com exclusividade pelo jornal O
Estado de S. Paulo.
A alta demanda
agravou o quadro de falta de medicamentos básicos em algumas unidades e obrigou
a secretaria a rever o planejamento de compras de cada uma das mais de 500
farmácias municipais. O problema é alvo de inquérito do Ministério Público
Estadual.
De acordo com a
pasta, o aumento da procura por medicamentos gratuitos se deve a duas
principais razões: o crescimento do número de pessoas atendidas nas Unidades
Básicas de Saúde (UBSs), onde ficam a maior parte das farmácias, e a migração
de pacientes da rede privada para a pública. Somente na cidade de São Paulo,
330 mil pessoas deixaram de ter plano de saúde entre 2014 e 2016, segundo a
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
"Embora
esses medicamentos básicos não sejam ofertados pelos planos, muita gente que
começou a se consultar no SUS ficou sabendo quais remédios estão disponíveis de
graça e passaram a usar esse serviço. Tem aqueles pacientes também que
continuam na rede privada, mas que, para poupar um pouco de dinheiro nesse
momento de crise, passaram a retirar os remédios nas farmácias dos postos.
Tivemos um aumento de receitas vindas da rede privada", afirma o
secretário municipal da Saúde, Alexandre Padilha.
Segundo o
secretário, 32% das prescrições recebidas nas farmácias da Prefeitura neste ano
vieram de médicos particulares ou de unidades de outros municípios. No ano
passado, esse porcentual era de 26%.
Mudança
Foi no último
mês de junho, quando cancelou o plano de saúde, que a técnica de enfermagem
Patrícia de Oliveira, de 37 anos, passou a buscar atendimento e medicamentos na
rede pública. "Eu tinha um convênio que custava R$ 437, mas fui avisada
que subiria para R$ 690. Não dava mais para pagar", conta. No mês
seguinte, ela passou mal e precisou ir a um médico da Assistência Médica
Ambulatorial (AMA) próxima de sua casa, na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte.
"O médico me passou buscopan e dipirona e já peguei no posto mesmo para
economizar. Tive a sorte de encontrar, porque minha mãe sempre retira os
medicamentos na farmácia do posto e tem alguns que vivem faltando", conta
ela.
Na última
quinta-feira, 25, Patrícia levou a mãe, a aposentada Antonia Costa de Oliveira,
de 65 anos, à AMA por causa de uma crise de bronquite. "Dessa vez não
tivemos tanta sorte porque um dos remédios, o prednisona, está em falta. Vamos
ter que comprar agora, mas está uns R$ 30, não é tão barato", reclama
Patrícia.
Para Mário
Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(USP), o aumento da demanda por remédios pode também estar relacionado ao
crescimento da oferta de consultas. "Houve uma expansão da atenção básica
nos últimos anos. Se as consultas aumentam, a retirada de medicamentos
também", diz.
Dos cinco
remédios mais retirados, quatro são indicados para o tratamento de doenças
crônicas, como hipertensão e diabete. As zonas leste e sul, as mais populosas
da capital, são as responsáveis pela maior demanda de remédios. Do total de
pacientes atendidos nas farmácias municipais neste ano, 25,6% eram moradores da
região leste e 24,4%, da sul.
A secretaria
lançou em 2015 o aplicativo Aqui Tem Remédio, que indica os medicamentos
disponíveis em cada unidade. O app já é o mais usado da Prefeitura, com 300 mil
acessos. Com informações do Estadão Conteúdo.