Exatos cinqüenta anos após
o golpe militar que ocorreu em 31 de março de 1964 que derrubou o presidente João
Goulart conhecido como Jango e impôs a ultima ditadura ao país que perdurou até
o final da década de 80, a reportagem deste site conversou com o hoje Advogado atuante
e ex-Vereador por União dos Palmares, Dr. Elaine Lopes de Oliveira, de 67 anos,
que a época do movimento militar era o presidente da União dos Estudantes
Secundários de Alagoas (UESA), e que na nossa cidade funcionava no inicio da
Rua Santa Maria Madalena, órgão estudantil filiado a União Nacional dos Estudantes.
Ao seu modo, o causídico
foi contando retalhos do que se passou logo após eclodir o movimento
revolucionário em nosso município que a nível regional teria sido comandado
pelo Presidente da Assembléia Legislativa de Alagoas, de saudosa memória Dr.
Antonio Gomes de Barros que era um destacado político alagoano, nosso
conterrâneo.
Relata Dr. Elaine: ‘No dia
28 de março, sob o pretexto de exercícios militares na Serra da Barrriga,
tropas do Exercito sitiaram a cidade que na época não era servida pela BR-104.
Os soldados acamparam no antigo Matadouro (que era a Estrada para Maceió), na
Rua do Jatobá (que era o acesso para São José da Laje e Pernambuco) na Praça
Basiliano Sarmento próximo da Câmara Municipal e da Prefeitura, e na Estação
Ferroviária. Quando amanheceu o dia 31, os soldados estavam entrincheirados,
como se esperassem uma reação da população ou de guerrilheiros, o que nunca
aconteceu. As comunicações eram feitas através do código Morse e que quem as
usava era o Correios e a Estação Ferroviária, pois na época a população não
tinha telefones domésticos’.
‘Quando os rádios
noticiaram o Golpe de Estado, o temor tomou conta da comunidade, mesmo porque
ninguém nunca havia visto a tropa do exercito entrincheirada. Por volta das
11:00 horas da manhã, fomos informados que os palmarinos Divanilton Portela e
José Cícero Sarmento (ambos falecidos) que moravam na Casa do Estudante na Rua
das Arvores em Maceió foram perseguidos, mas conseguiram fugir um para Sergipe
e outro para Pernambuco. Pela condição de líder estudantil, também fui suspeito
de ser subversivo, porém, uma correspondência que ia enviar para o Diretório
Nacional da UNE não foi postada. Quando as correspondências foram abertas, não
havia nada contra mim por isso não fui preso’ relata Dr. Elaine.
A sede dos Trabalhadores
Rurais de União dos Palmares era na conhecida Rua das Pedreiras. No inicio da
noite, fazendeiros liderados pelo ‘seo’ Pedrosa (pai do ex-prefeito José
Pedrosa), Lula Pinto e outros fazendeiros que juntaram seus trabalhadores,
colocaram todo o material de escritório na rua e puseram fogo em tudo. Era e
revolta dos fazendeiros contra as ‘Cédulas Rurais Pignoratícias’ que era um
mecanismo usado pelo governo de Jango para hipotecar as propriedades rurais
através de empréstimos contraídos junto ao Banco do Brasil. O Exercito assistiu
tudo de longe como se consentisse o ato’.
Nas suas memórias, o lúcido
advogado afirmou que ‘O governador do Estado era o Major do Exercito Brasileiro
conhecido como ‘Major Luiz Cavalcante’. O chefe de Gabinete era o Coronel
Gerson Argolo e o prefeito de União dos Palmares era o senhor Antenor de
Mendonça Uchoa. O governador de Pernambuco era Miguel Arraes. Os vereadores da
época não recebiam salário o que diminuía a chance de acumular acusações. Mesmo
assim suas vidas foram vasculhadas pelos serviços de inteligência das Forças
Armadas que eram comandadas na região pela 7ª Região Militar sediada em Recife cujo
comandante era o General Antonio Carlos Murici’.
‘Uma recordação que
gostaria de esquecer – continua Dr. Elaine – foi à prisão na final da tarde, do
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais conhecido como ‘seo’ Cazuza ou
‘Galego do Sindicato’ que nunca foi subversivo, mas mesmo assim foi preso,
torturado e teve as unhas dos pés e das mãos arrancadas por um alicate. Quando
nada foi comprovado em seu desfavor, foi solto, mas já com a saúde abalada e
traumatizado, pouco depois morreu. ‘Seu Cazuza’ era dono daquele sitio de
coqueiros defronte aos lava-carros na margem do rio Mundaú. Sua prisão foi a
única no município que politicamente era comandado pelo pacato Dr. Antonio
Gomes de Barros’.
Após alguns segundos de
reflexão, o bacharel visivelmente emocionado desabafou: ‘Mesmo assim, diante de
tudo que vi e senti, me candidatei pela oposição a vereador. A liderança
estudantil que exerci me rendeu uma votação surpreendente, pois quando jovem
era um orador eloqüente e identificado com os problemas de nossa terra. Não
demorou muito para me decepcionar e renunciar ao cargo. Não nascei para os
bastidores políticos. Hoje, meu voto já é facultativo, por isso penso não votar
mais em ninguém’ concluiu Dr. Elaine que é considerado um patrimônio histórico vivo
de União dos Palmares e que anunciou para breve o lançamento de um escrito (versando
sobre um tema jurídico) seu após anos de estudos e que deve se intitular ‘O
Julgamento de Jesus Cristo. O Maior Erro Jurídico de Todos os Tempos’.
redação //