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Saúde
25/05/2022 16:00:00

Varíola dos macacos: como se transmite e quais são os sintomas da doença


Varíola dos macacos: como se transmite e quais são os sintomas da doença

A varíola dos macacos foi confirmada, até o momento, em mais de 100 pacientes em ao menos 16 países.

Outras dezenas de casos estão sob investigação em países que não têm histórico da doença. A Organização Mundial da Saúde (OMS) acredita que novas notificações devem surgir nos próximos dias.

O Brasil não tem registro da doença ainda, mas o vírus foi identificado em um brasileiro de 26 anos na Alemanha, vindo de Portugal, após passar pela Espanha.

Trata-se de uma rara infecção viral que geralmente se manifesta de forma leve — e a maioria dos pacientes se recupera em algumas semanas, segundo dados do NHS, o sistema de saúde britânico.

Até o momento, a varíola dos macacos não causa motivo para um alarme semelhante ao que foi dado com a chegada do novo coronavírus, no início de 2020 — até porque não se espalha tão facilmente e o risco de contaminação geral é apontado, por enquanto, como baixo.

Além disso, embora não haja uma vacina específica para esse vírus, a vacina contra a varíola tem alta eficácia, de 85%, porque os dois vírus são bastante parecidos. Mas chama atenção o fato de a doença estar aparecendo em países onde não ocorria até agora.

Em comunicado, a organização afirmou que o quadro atual é "atípico, porque (a doença) está ocorrendo em países onde ela não é endêmica", e que vai ajudar os países afetados no monitoramento dos casos.

O que é a varíola dos macacos?

É uma doença causada por um vírus monkeypox da mesma família do vírus da varíola humana, mas com consequências muito menos sérias aos infectados.

A doença é geralmente encontrada na África Central e na África Ocidental e, mais especificamente, em áreas de floresta tropical.

Na República Democrática do Congo, onde há densas florestas, mais de 1,2 mil casos foram relatados somente este ano e 57 mortes registradas (até 1º de maio de 2022), segundo a OMS.

Como a varíola dos macacos é transmitida?

A varíola dos macacos é transmitida quando alguém tem contato próximo com uma pessoa infectada. O vírus pode entrar no corpo por lesões da pele, pelo sistema respiratório ou pelos olhos, nariz e boca.

Não é uma doença que se espalhe tão facilmente, mas pode infectar da seguinte forma:

- Ao se encostar em roupas, lençóis e toalhas usadas por alguém com lesões de pele causadas pela doença;

- Ao se encostar em bolhas ou casquinhas na pele de pessoas com essas lesões;

- Pela tosse ou espirro de pessoas com a varíola dos macacos.

Até agora, o vírus não foi descrito como uma doença sexualmente transmissível, mas pode ser passado durante a relação sexual pela proximidade entre as pessoas envolvidas.

E os casos mais recentes no Reino Unido foram observados em homens gays ou bissexuais, algo que levou a Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido a pedir que homens prestem atenção a coceiras ou lesões de pele que lhes pareçam incomuns.

Eles foram orientados a contactar seus serviços locais de saúde sexual no caso de algum sintoma ou preocupação. Mas autoridades ressaltam que qualquer pessoa, independentemente de sua orientação sexual, pode ser contaminada.

Animais infectados, como macacos, ratos e esquilos, também podem transmitir o vírus.

Quais são os sintomas da varíola dos macacos?

Depois da infecção, leva-se geralmente de 5 a 21 dias para os primeiros sintomas surgirem.

Esses sintomas incluem febre, dor de cabeça, dor nas costas ou musculares, inflamações nos nódulos linfáticos, calafrio e exaustão.

E nesse processo pode surgir a coceira, geralmente começando no rosto e depois se espalhando por outras partes do corpo, principalmente nas mãos e sola do pé.

A coceira, que costuma ser bastante irritante e dolorida, muda e passa por diferentes estágios - de modo parecido à varicela - antes de formar uma casquinha, que depois cai.

A infecção costuma terminar depois de 14 a 21 dias.

No Reino Unido, a maioria das infecções até agora são leves. Mas a doença pode ganhar formas mais severas, especialmente em crianças pequenas, mulheres grávidas e pessoas com sistema imune frágil. Na África Ocidental, já houve casos de mortes pela doença.

Gráfico sobre sintomas da varíola dos macacos

Qual é o tratamento?

A melhor forma de prevenir surtos é com a vacinação: a vacina da varíola é capaz de prevenir a ampla maioria dos casos de varíola dos macacos.

Drogas antivirais também podem ajudar.

De modo geral, nos casos leves, a infecção passa por conta própria.

Devo me preocupar com a varíola dos macacos?

Especialistas no Reino Unido, onde há algumas dezenas de casos confirmados, dizem que não há neste momento risco de uma epidemia nacional.

"É importante enfatizar que a varíola não se espalha facilmente entre e o risco para as pessoas em geral é bastante baixo", disse Nick Phin, vice-diretor do Serviço Nacional de Infecção do departamento de Saúde Pública do Reino Unido.

Jonathan Ball, professor de virologia molecular da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, lembrou que, de 50 pessoas que tiveram contato com o primeiro paciente infectado no país, apenas uma apresentou sintomas.

Isso, segundo Ball, mostra como o vírus não é bastante eficiente em se alastrar.

No entanto, especialistas reforçam que pessoas infectadas precisam se isolar para não correr o risco de passar a doença adiante.

O que faz o vírus avançar neste momento?

O vírus da varíola dos macacos é da mesma família da varíola comum, mas menos grave e prevalente, e por isso as chances de infecção de grandes populações é considerado baixo.

O vírus foi identificado inicialmente em um macaco em cativeiro nos anos 1970, e desde então houve surtos esporádicos em países centro e oeste-africanos.

Já houve um surto nos EUA em 2003 - a primeira vez que o vírus foi visto fora da África -, com 81 casos registrados, mas nenhuma morte.

O maior surto já registrado foi em 2017, na Nigéria: houve 172 casos suspeitos.

No momento atual, não está claro o motivo por trás do avanço da varíola dos macacos na Europa, América do Norte e Austrália.

Uma possibilidade é que o vírus tenha mudado de alguma forma, mas até o momento não há evidências de que esteja em circulação uma nova variante.

Clínica de saúde sexual no Reino Unido

CRÉDITO,GETTY IMAGES

 
 

Outra possibilidade é de que, com a redução da cobertura vacinal para a varíola (que é considerada erradicada no mundo desde 1980), o vírus tenha encontrado condições propícias para se propagar mais do que antes.

O diretor regional de Europa da OMS, Hans Kluge, se disse preocupado com a possibilidade de o vírus avançar nos meses de verão no continente, quando há mais festas e aglomerações.

Peter Horby, diretor do Instituto de Ciências Pandêmicas da Universidade de Oxford, disse à Radio 4, da BBC, que está em curso uma "situação incomum, em que parece que o vírus foi introduzido (do exterior) mas agora está sendo transmitido dentro de certas comunidades".

A mensagem principal, agregou Horby, é de que pessoas com sintomas devem "procurar assistência, obter um diagnóstico e daí se isolar".

O vírus da varíola dos macacos sofreu mutação?

Nós ainda não sabemos isso, diz Rosamund Lewis, chefe do secretariado de varíola da OMS.

"Ele é um vírus muito estável", diz ela, explicando que a varíola é um vírus de DNA e a taxa de mutação é muito menor do que a dos vírus de RNA, que incluem o coronavírus.

Ainda não há evidências de mutação no próprio vírus, diz ela, mas os especialistas estão começando a coletar mais informações sobre isso.

Em breve, os virologistas começarão a discutir se o vírus mudou com base na sequência do genoma de alguns dos casos que estão sendo detectados, diz ela.

Pessoas gays estão mais expostas à infecção?

Muitos casos no atual surto na Europa foram identificados em homens que tiveram relação sexual com outros homens, mas a varíola dos macacos não é considerada uma infecção sexualmente transmissível.

O especialista da OMS Andy Seale disse: "Embora estejamos vendo alguns casos em homens, esta não é uma 'doença gay', como algumas pessoas e as mídias sociais a rotularam. Qualquer pessoa pode contrair esta doença através do contato próximo."

As doenças sexualmente transmissíveis exigem contato sexual para serem transmitidas, enquanto "você não precisa ter contato sexual para transmitir a varíola dos macacos", disse Seale.

O número relativamente alto de homens homossexuais que relataram a doença pode ser explicado pelo fato de que esse grupo está sendo mais proativo ao perceber os sintomas.

"Esse grupo demográfico geralmente é aquele que monitora sua saúde quando se trata de potenciais DSTs (infecções sexualmente transmissíveis)", disse Seale. "Sabemos que [homens que fazem sexo com homens] quando detectam uma ferida incomum na pele, provavelmente são os que buscam tratamento mais rapidamente".

Algumas pessoas também criticaram os meios de comunicação por usarem predominantemente imagens de crianças com pele negra e escura para ilustrar notícias sobre varíola.

A seção da África da Associação de Imprensa Estrangeira expressou indignação, dizendo que essa prática reforça "estereótipos negativos" sobre africanos e negros.

"[A varíola dos macacos] pode ocorrer em qualquer região do mundo e afligir qualquer pessoa, independentemente de raça e etnia. Acreditamos que nenhuma raça ou pele deve ser o rosto desta doença."

Crianças podem pegar varicela?

Sim. As crianças são mais propensas a ter sintomas graves do que adolescentes e adultos, de acordo com a OMS. O vírus também pode ser transmitido a um feto ou a um recém-nascido.

A varíola dos macacos mata?

Casos de varíola dos macacos

CRÉDITO,UKHSA

 
 

A varíola dos macacos é geralmente uma doença branda, de acordo com a OMS, mas casos graves podem ocorrer.

Nos últimos tempos, a taxa de letalidade tem sido em torno de 3% a 6%, mas a explicação para esse número é complexa.

"Às vezes você vê taxas de mortalidade de até 10%. Mas esses casos são difíceis de entender porque muitos deles têm a ver com estar em áreas com poucos recursos, onde podem não ter acesso a cuidados", disse Adalja.

Existem duas variantes da doença, conhecidas como África Ocidental e África Central — o atual surto de varíola dos macacos tem sido associado à primeira.

"A boa notícia é que a versão da África Ocidental desse vírus da varíola dos macacos é menos grave do que a da África Central. Portanto, é uma boa notícia, pois espera-se que menos pessoas desenvolvam doenças graves com essa variante", disse à BBC a professora Catherine Bennett, epidemiologista da Universidade Deakin, em Melbourne.

Pressão sobre sistemas de saúde

Uma preocupação de alguns especialistas é com a pressão adicional que a varíola dos macacos pode ter sobre sistemas de saúde e clínicas já no limite da capacidade de atendimento, já que pode forçar profissionais de saúde a se afastar temporariamente de suas atividades.

No Reino Unido, clínicas que atenderam pacientes tiveram de isolar seus profissionais de saúde, deixando-as desguarnecidas.

Em Londres, onde estão a maioria dos 20 casos de varíola dos macacos identificados no Reino Unido até agora, clínicas de saúde sexual já interromperam o atendimento a visitantes.

A Associação Britânica de Saúde Sexual e HIV se disse preocupada com o efeito disso no tratamento de outras infecções relacionadas à saúde sexual.

A médica Claire Dewsnap, presidente da Associação Britânica de Saúde Sexual, diz que equipes de clínicas de saúde sexual já estavam "sob pressão significativa", e a varíola dos macacos tende a tornar a situação pior.

"Isso (a doença) já está exigindo muito da força de trabalho e haverá um enorme impacto se as equipes tiverem de se isolar no caso de entrarem em contato com pessoas infectadas", diz Dewsnap.

"Me preocupa o potencial impacto disso no acesso a (medidas de) saúde sexual em geral."

Em Londres, clínicas estão pedindo que pacientes liguem antes de ir ao local e notifiquem os sintomas antes da consulta.

Assim, pacientes com suspeita de varíola dos macacos podem ser colocados em salas de espera ou locais de atendimento separados dos demais pacientes.

No Brasil, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações anunciou a criação de uma câmara técnica para acompanhar os desdobramentos do vírus.

bbc n ews brasil



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