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Educação
16/10/2021 18:00:00

Efeitos da pandemia devem repercutir pelos próximos anos entre professores

Organizações ligadas à categoria afirmam enfrentar cenário de adoecimento, instabilidade trabalhista e evasão dos alunos


Efeitos da pandemia devem repercutir pelos próximos anos entre professores

Da educação infantil ao ensino superior. A pandemia acertou em cheio uma categoria que enfrenta historicamente a falta de políticas públicas. Neste Dia do Professor, a Tribuna Independente ouviu entidades que representam estes profissionais no estado e a avaliação é uníssona: pandemia agravou problemas existentes e os reflexos vão repercutir pelos próximos anos.

O presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Alagoas (Adufal), Jailton Lira, avalia que os desafios enfrentados pela categoria atualmente “são gigantes”.

“Apesar da falta de apoio completa do poder público nas redes de ensino, o ensino acabou acontecendo e grande parte dessas aulas remotas dependeu da iniciativa individual do docente, a estrutura de trabalho que deveria ser de responsabilidade do poder público e da iniciativa privada acabou sendo do próprio docente.  Os desafios que temos hoje são gigantes. Temos uma categoria com carreira precarizada, trabalha em estrutura física inadequada. Pode pegar qualquer exemplo, do ensino infantil até o superior”, detalha.

Já o presidente do Sindicato dos Professores de Alagoas (Sinpro/AL), Eduardo Vasconcelos, detalha que há muitas dificuldades financeiras, trabalhistas e de saúde dos educadores.

“Temos problemas de pagamento de salários, atrasos de FGTS, dificuldade de implantação do reajuste ainda do ano passado. Temos emitido muitos Comunicados de Acidentes de Trabalho principalmente para questão de saúde mental. Aumentando muitos casos de rescisão indireta na Justiça do Trabalho, pressão no ambiente de trabalho. A situação está melhorando, mas ainda há muitos problemas e temos medo de algum rebote da pandemia na questão econômica com muitos alunos da rede privada indo para a rede pública. No ensino superior muitos alunos deixando de estudar. Outros alunos que não querem voltar ao ensino presencial e é uma equação que as faculdades vão ter que resolver. Melhorou no sentido da tensão, do medo em voltar para a sala de aula, depois dos professores vacinados e agora os estudantes. Mas problemas trabalhistas e de saúde vêm acontecendo sim”, diz Eduardo.

O representante do Sindicato dos Trabalhadores da Educação em Alagoas (Sinteal), Lucas Soares, explica que apesar da maior parte dos professores estarem satisfeitos com a volta as aulas, ainda há uma tensão em torno do não cumprimento de protocolos.

“A dinâmica de retornar muitas vezes com insegurança, pelos problemas provocados pelo tempo, na questão objetiva é o estresse diário de voltar para a escola sem saber as reais condições de trabalho ou mesmo dentro da sala de aula quando alunos se negam a usar máscara, por exemplo. Existem dificuldades culturais, alunos que retiram a máscara, a própria questão do negacionismo formado nesse período. É uma problemática bem complexa. Na rede pública enfrentamos aulas aos sábados, é uma situação bem complexa”, pontua Soares.

Problemas da categoria já existentes foram potencializados

O presidente da Adufal acrescenta que principalmente nas classes mais baixas da sociedade, a privação do espaço presencial influenciou drasticamente e deve continuar influenciando. “Porque se você pegar um estudante da periferia você tem um aluno que participou com muita dificuldade das aulas remotas, devido ao computador, falta de celular, acesso à internet, dificuldades materiais, esses problemas já aconteciam e a pandemia enalteceu, potencializou esses problemas, da própria rede pública em comparação aos estudantes da classe média. Esses problemas vão se manter nos próximos anos. Com a pandemia passamos a utilizar muito mais a tecnologia e a própria internet. Se pensarmos que isso veio para ficar e ser mais presente, não havendo a contrapartida em material didático, pedagógico que possa dar conta, certamente teremos uma situação ainda mais difícil para os próximos anos. Os prejuízos não são apenas pelas interrupções de ano letivo, são maiores que isso, porque ano letivo se consegue recuperar com calendários mais próximos. O problema é a falta de estrutura que impede que se tenha uma educação de qualidade tanto no setor público quanto no privado. Presencial ou à distância, o problema é estrutural, é questão de recurso”, enfatiza Lira.

A avaliação de Lucas Soares é que os problemas desencadeados durante o pico da doença devem continuar repercutindo na categoria.

“Existem as questões do próprio adoecimento da categoria e agora o adoecimento emocional, porque tivemos que avançar pelo menos uma década na questão tecnológica e ninguém estava preparado para isso. Se reinventar foi a palavra-chave, não basta apenas se reinventar, mas ter que se reinventar o local de trabalho, criar aulas online que nunca tinha feito, foi tudo muito desgastante. E outros problemas vão surgir porque não há um acompanhamento do poder público, não há um protocolo para os alunos que estão doentes. Se não quiserem fazer teste não fazem. Enfim há um desgaste emocional que continua aumentando”, aponta.

O presidente do Sinpro salienta que outra situação que preocupa é a evasão principalmente na educação infantil e no ensino superior. Além da migração de alunos da rede privada para a pública devido a crise econômica.

“Isso vai refletir muito e principalmente na educação infantil. Porque constitucionalmente os pais não são obrigados e aí foi onde a coisa pegou no caso de demissão, infelizmente. A gente só vai saber o reflexo real na situação física e mental daqui a algum tempo porque muita coisa pode estar sendo somatizada e a gente não tem ainda como mensurar o real impacto, mas o financeiro realmente a gente começa a se preocupar. Principalmente no ensino superior porque houve um esvaziamento muito grande”, finaliza Eduardo Vasconcelos.

Tribuna Hoje



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