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Especial
11/10/2021 11:00:00

Eduardo Tavares por Eduardo Tavares

Eduardo Tavares, Promotor Público de Alagoas, ex-prefeito de Traipu, e amante do Rio São Francisco, fala sobre a atualidade, e suas impressões sobre o momento ético-político que estamos vivendo.


Eduardo Tavares por Eduardo Tavares
  1. Quem é Eduardo Tavares?
  • Eduardo Tavares é um homem apaixonado pela vida e por tudo de bom que ela nos oferece. Sobretudo é um homem de fé (dizem que a fé é a justiça em ação). Falando na primeira pessoa, gosto de cultivar as coisas simples e acho que o homem precisa de muito pouco para ser feliz. Sou desapegado de cousas como poder e riqueza, acho que já dei prova disso. Tenho raízes no interior. Sou beiradeiro e talvez por isso eu tenha tanta paixão pelas coisas do campo e das águas. Não vivo longe do rio ou do mar. Vivo em sintonia com a natureza, influência da minha infância no leito do “Velho Chico”. Enfim sou um homem esperançoso e de fé. Sou devoto de Nossa Senhora do Ó, minha Padroeira. Tenho fé em Deus, tenho fé nos amigos. Tenho fé na vida.
  1. E o Velho Chico está na UTI?
  • O Rio São Francisco, ou o “Velho Chico”, como carinhosamente o chamamos, está na UTI, sim. Não adianta esconder o sol com a peneira. Veja, o rio vem morrendo aos poucos desde o seu descobrimento, em 04 de outubro de 1501, pelo navegador florentino, Américo Vespúcio. De lá para cá, o grande rio, o “Opará” na linguagem indígena, começou a ser agredido. Foi principalmente através do rio que os bandeirantes procuraram chegar ao Brasil Central. Logo teve início a maior fase de desmatamento do referido curso d’água; as matas ciliares deram lugar ao pasto para criação de bovinos, isso praticamente ao longo das duas margens, tanto que durante cerca de 200 anos, o São Francisco era muito mais conhecido como rio dos currais, pois, tamanha era a quantidade de gado existente em seu entorno para exportação da carne e do couro para a Europa. Depois surgiu a era do plantio de eucalipto, em seguida veio a fase do garimpo. Grandes captações clandestinas de água foram e são, até hoje, feitas em seu leito, sem falar nas transposições de suas águas e nas grandes hidrelétricas. São 9 ao todo (Três Marias, Moxotó, Itaparica, Sobradinho, Paulo Afonso I, II, III e IV e a mais moderna, a de Xingó, aqui entre nós). Lógico que essas hidrelétricas mexeram muito com todo ecossistema. Diferentemente da China, da Índia, de Israel e de tantos outros países, cujas civilizações são denominadas de hídricas, nós não temos conhecimento profundo sobre o manejo de águas. É possível, logicamente, se construir barragens, hidrelétricas e tudo mais, com o mínimo absoluto de agressão ao meio ambiente. Ou seja, precisamos cuidar de nossas terras, de nossos mananciais, de nossos biomas, tirando o proveito necessário, mas com sustentabilidade. Com responsabilidade. Para se ter uma ideia, de todas as cidades situadas na calha do São Francisco, apenas uma, Lagoa da Prata, em Minas Gerais, tem saneamento básico. É brincadeira? O rio sofre e muito com a estupida deposição de dejetos em seu leito. O chamado Rio da Integração Nacional se encontra em estado senil, nomenclatura utilizada sobre um rio que está prestes a secar. Como os rios morrem pela foz, no caso do São Francisco, os estados mais prejudicados serão justamente Alagoas e Sergipe, onde ele desemboca.
    É bom lembrar que nos 2.880 quilômetros de extensão do rio que se arrasta da canastra, nas Gerais até a sua foz, existem 4 estirões, 3 navegáveis, um dos quais o baixo São Francisco, com apenas 205 quilômetros de extensão. O rio São Francisco recebe agua de mais de 50 afluentes, dentre os quais o Rio das Velhas, o Rio Grande, o Rio Paraopeba, o rio Jequitibá, dentre tantos outros, todos eles alimentados pelo grande aquífero de Urucuia, que, entretanto, já perdeu grande parte do seu volume de água. E necessário que as populações da Terra e os governantes entendam que os nossos recursos naturais não são inesgotáveis. A verdade é que a cada dia a água (doce) fica mais escassa. E daqui a 50 anos, o que será da humanidade e dos demais seres vivos?
    Quero lembrar aqui que a ação antrópica, ou seja, a ação do homem fez o Mar de Aral na Ásia, perder mais de 80% de suas águas, fez o rio Eufrates, na região mesopotâmica, praticamente secar, juntamente com o Jardim do Edém. Temos que amar, respeitar a natureza, porque ela reage quando agredida. O homem é o seu grande e único predador. Voltando ao São Francisco, há, felizmente, esperança para o nosso rio; haveremos todos de evitar que ele continue sofrendo, sangrando e chorando. É hora dos engenheiros hídricos, como João Suassuna, trabalharem.
  1. Que experiência você traz do pouco tempo de gestor de um
    município, e o que foi feito, na sua rápida passagem pela
    Prefeitura de Traipu?
  • Apesar do pouco tempo à frente da prefeitura da minha cidade, acho que a experiência foi muito boa. Como homem do Ministério Público, queria conhecer esse outro lado da administração. Creio que fiz algumas coisas importantes e destaco aqui a mudança de toda rede de abastecimento de água, que estava obsoleta, em convênio com a Casal, calçamos várias artérias, proporcionamos meios para o estudante fazer cursinho preparatório para o vestibular, construímos logradouros, pagamos estritamente em dia os servidores municipais, inclusive com 13o salário e adicionais, recolhíamos, sagradamente, o INSS dos servidores e o imposto de renda, cuidamos da iluminação e da segurança, e tudo mais. Acredito que o jovem prefeito que se acha à frente da municipalidade fará um ótimo trabalho. Sempre acreditei na juventude.
  1. Não temos como falar de atualidades sem mencionar a pandemia
    que vivemos. Seremos os mesmos depois dessa covid-19?
  • Jamais seremos os mesmos depois dessa pandemia. Apesar da experiência com a gripe espanhola, durante a primeira guerra mundial, a Covid-19 serviu para nos mostrar, de vez, o quanto somos frágeis como seres humanos. Acho que a humanidade se tornou melhor e mais solidária. Agora é esperarmos o fim desse mal e iniciarmos uma nova era, suplantando a crise econômica, evitando crises sanitárias e valorizando sempre a ciência.
  1. Como anda Alagoas, na avaliação de Eduardo Tavares?
  • É claro que a pobreza extrema existe em todo o Brasil. É muito grande o fosso que separa a Nação do País. Enxergo, contudo, o descortinar de um novo e melhor horizonte para Alagoas e para o Brasil.
  1. Da justiça e das eleições?
  • Sem justiça, sobretudo a justiça social, não haverá a tão sonhada paz. É preciso que haja uma melhor distribuição de justiça social, com mais educação, com a erradicação da fome e da miséria extrema, coisas que não existem nos chamados países do primeiro mundo.
  1. Das notícias falsas nas redes sociais (fake
    News)?
  • As Fake News, que vem a ser a disseminação da mentira, da “moca”, da “lorota” da “peta” ou da “mentira deslavada” através das redes sociais, é um mal que precisa ser combatido com rigor. Trata-se de um mal tão grande que certas fakes deixam o homem morto em vida. Muitas vezes essas calúnias e infâmias midiáticas propiciam o desentendimento, a inimizade, o terror e por aí vai. Como um sujeito caluniado através desse artifício vai conseguir desmentir ou provar que tudo não passou de uma mentira?
    Isso me faz lembrar da teoria das “plumas ao vento”.
    Suba o sujeito, com um saco cheio de plumas, até o alto de um edifício. Do alto despeje ele todas essas plumas e desça em seguida com o intuito de recolher essas plumas! Ele conseguirá resgatar todas essas plumas? Jamais! Ele recuperará uma parte. A outra ficará espalhada mundo afora.
    A mesma coisa vai acontecer com as Fake News. A honra da vítima dessa conduta estará aviltada, às vezes para sempre.
    Temos que adotar punição rigorosa para esse tipo de gente que se vale desse mecanismo espúrio para atingir pessoas que às vezes nem conhece.
  1. Eduardo e a política partidária?
  • No momento estou 100% concentrado em minhas atividades no Ministério Público, onde exerço o cargo de primeiro Procurador de Justiça Criminal. Mas não me tem faltado convite para que eu me candidate aos mais variados cargos eletivos. Fico até assustado, mas feliz por saber que o povo de Alagoas, meu Estado, me respeita e gosta de mim.

Fonte: Carlo Bandeira

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