"Saio de casa no fim da tarde, por volta das 17 horas, para ir em busca do alimento. Nem sempre conseguimos mistura, consigo pouco para manter os meus filhos, principalmente o pequeno de um ano e dez meses". Este é o relato de dona Luciene da Silva, de 38 anos, da comunidade Favelinha, mãe de 10 filhos, sendo dois adotados.
“Às vezes eu consigo pegar sopa e também trazer um pouco para os meus filhos que ficam em casa, porque não tem como todos irem comigo. E tem vezes que não consigo trazer pra casa”, conta a moradora.
A situação vivida por Luciene é o retrato da insegurança alimentar que, nos últimos anos, se tornou a realidade para as populações mais pobres do país, sendo a situação agravada pela pandemia da Covid-19.
“Vou pedindo ajuda e pegando doação onde consigo. Tem mês que ganho cesta básica, mas tem mês que é difícil. Sempre preciso de fraldas, de leite em pó, nem me preocupo muito com a mistura, mas só de ter o básico já engana a fome”, retrata Luciene. Milhares de brasileiros vivem igual a Luciene e seus filhos, sem perspectivas de um amanhã diferente e tendo que conviver com a disparada nos preços dos alimentos básicos e a incerteza de receber doação para ter o mínimo de dignidade. “Mistura é artigo de luxo. A gente come quando consegue, quando não, agradece por ter, pelo menos, algo para comer”, lamenta Luciene.
Nos últimos meses, histórias como a de Luciene, além da substituição da mistura ou exemplos do que comprar com R$ 5 reais têm sido notícias amplamente divulgadas através de notícias publicadas em jornais ao redor do mundo. A alta dos alimentos tem sido normalizada e já virou parte da rotina; a “mistura virou artigo de luxo”.
Em Maceió, no Mercado da Produção, localizado na Levada, a substituição tem sido sentida por permissionários e por consumidores. A feirante Valderez Maria Franca, de 34 anos, conta que, antes da pandemia, comprava o frango a R$ 6,50 até R$ 7. “Hoje a gente está comprando a R$ 9,50, e vendendo a R$ 12 o quilo. Antes você pagava até R$ 17 em um frango todo e, agora, um frango chega a R$ 40. Os clientes reclamam, né, mas está tudo caro”, conta Valderez Maria França.