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29/09/2009 00:00:00

Municípios


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Foi na cidade de Penedo que o imperador Dom Pedro II sentiu-se mais à vontade. Deixou registrado em seu diário: “O local é muito bonito e creio que devera estar aqui a capital da província”. Naquela época, em 1859, o lugar era um centro movimentado, porto de muitas riquezas. O São Francisco enchia de prosperidade os moradores da localidade.

O imperador assumiu o trono pouco antes dos 15 anos, um menino, ainda em 1840. Na ocasião, jurou manter a religião católica apostólica romana. Foi fiel. Somente em Penedo, esteve em seis igrejas. A primeira foi a do Convento dos Franciscanos, de 1739. A obra ainda é uma das mais bonitas da cidade. Guarda um belíssimo altar e o silêncio dos monges.

Foi bem detalhada pelo monarca: “A igreja é toda dourada com pinturas no teto e capela funda, à esquerda antes de chegar à capela-mor, pertencente à Ordem Terceira”. Falou dos morcegos que viu e também do junco, que parece capim, e cobria o chão em dias de festa.

Sobre o rio, Pedro de Alcântara mostrou-se preocupado. Não admitia as barragens de terra. “Já chamei a atenção do presidente das Alagoas, como nocivas (as tapagens) à pobreza e à procriação do peixe”, escreveu. É bom frisar que esse “desabafo” foi há 150 anos.

Houve críticas também ao cemitério. “Tem uma vista muito bonita, precisando de muralha que o cerque, para a qual deu à Assembleia Provincial 4 contos, e já se tem gasto 2 com os materiais, não vendo a obra começada”, registrou.

Ainda no dia de sua chegada, 14 de outubro, foi à Câmara, onde viu retratos do pai, do avô e de si mesmo. Hoje o prédio é o Paço Imperial, museu pertencente à Fundação Raimundo Marinho, que guarda muitas das imagens da família real. O lugar, bem preservado, foi a casa do imperador, enquanto ele esteve em Penedo. É imprescindível uma visita.

Lá, encontramos uma peça que fazia parte do mobiliário, durante aqueles dias áureos. Trata-se de um relógio, dourado e de formas rebuscadas. A viagem no Paço é acompanhada pelo guia Jânio Matos, que trabalha no espaço há oito anos.

Ele nos mostrou o lugar onde teria ficado o imperador. Batia com a descrição do diário. “Atrás da casa onde moro, do comendador Araújo, há um terraço com bela vista para o rio, parte superior ao Penedo, e porto de desembarque, onde vejo as embarcações do rio”, revelou. Mas esse vai-e-vem de barcos ficou no passado.

Passagens em igrejas e fábricas de uma terra reveladora

Lar dos Franciscanos, em Penedo, possui teto todo pintado
Na expedição que refaz a viagem do imperador, tivemos a companhia da professora e agente de turismo Lúcia Regueira. Ela, inclusive, é uma das idealizadoras do projeto Rota do Imperador, que visa fazer da viagem de Dom Pedro um produto turístico.

Essa proposta é uma iniciativa do Arranjo Produtivo Local (APL) Caminhos do São Francisco e tem o apoio do governo do Estado. O projeto vai envolver 14 municípios, incluindo Propriá, em Sergipe, e Paulo Afonso, na Bahia.

No rastro do monarca, fomos à pedra que dá nome à localidade. Assim estava escrito no diário: “A rocha, o penedo, é de grés que serviu para as calçadas e edifício da cidade e pode ser utilizada noutras obras, tornando-se ramo de comércio”. Hoje o rochedo abriga um dos mais conhecidos restaurantes da região, famoso pela peixada.

De lá, partimos para a Igreja de São Gonçalo Garcia, que existe desde 1758 e abre todos os dias. Sobre ela, Dom Pedro afirmou: “Não deixa de ser elegante e tem relevos em pedras grés, o interior não é feio e pena é que esteja arruinada”. Trata-se de uma construção austera, comparada aos outros templos.

Pequena é a Igreja de Santa Cruz, na Rua Fernando Peixoto. Mas no interior, uma surpresa: a imagem de Bom Jesus dos Navegantes, senhor da festa mais tradicional da cidade, no mês de janeiro. O evento reúne milhares de participantes e toma o São Francisco de devotos e pagãos.

Sobre a festa de Bom Jesus, foi rodado um documentário: O Homem, o Rio e o Penedo (Werner Salles — Núcleo Zero). Essa é mais uma iniciativa da Casa do Penedo, sob a batuta de Francisco Salles.

Passo Imperial guarda lembranças da passagem de Dom Pedro II por Alagoas
Interessante que foi também na Casa do Penedo que encontramos uma das personagens do diário de Pedro de Alcântara: a piranha. Ele ficou tão encantado com o peixe que o reproduziu de próprio punho. A tal piranha permanece lá, preservadíssima.

Observe o namoro: “Tem 12 dentes em cima e outros tantos em baixo, se não me enganei na conta, e estes últimos maiores, sendo todos muito agudos e de base larga; as escamas parecem douradas em muitos pontos; hei de vê-la de dia”. Hoje, pode ser vista por qualquer um. Basta estar na cidade e visitar a fundação.

A visita a Penedo, em dois dias apenas, foi de muitas descobertas. O imperador esteve ainda em quatro fábricas. Destas, não existe quase nada, a não ser ruínas. E pensar que, no empreendimento do comendador Araújo, preparava-se arroz e algodão para o comércio. Produziam-se caixas para charutos, biscoitos e óleo de mamona.

O rei esteve ainda na feira, onde comprou apenas “três pucarinhos (vasos)”. Considerou os gêneros da terra muito baratos. Mas para ele, “o espetáculo mais curioso na feira é o dos barcos”.

Compareceu à matriz, que atualmente está interditada, por conta de obras; e à Igreja das Correntes — um capítulo à parte (templo riquíssimo e de proteção dos escravos), levantado pela família Lemos, com recursos próprios.

Foi à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, erguida no século 17 pelos negros. Esse, de acordo com Lúcia Regueira, é um templo de adoração perpétua. Abre de domingo a domingo, das 8h às 18h.

por Agência Alagoas

 



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