Para as mulheres transexuais de Alagoas, não conseguir empregos formais e precisar recorrer a medidas drásticas para sobreviver, não é nenhuma novidade, afinal essa é uma história compartilhada pela maioria delas. Sabendo disso, muitas precisam se tornar profissionais do sexo para conseguir o seu sustento.
A história de vida de Gabryella Flor da Silva, de 28 anos, não é nem um pouco diferente. Tendo iniciado a sua vida na prostituição ainda aos 14 anos de idade, a jovem nos contou um pouco a respeito da suas vivências enquanto mulher trans, em Maceió.
“Não é fácil, são várias lutas todos os dias, humilhação, desprezo, gente falando de você o tempo todo. Às vezes somos atacadas com pedras , ovos e xingamentos horríveis sem nem sequer saber o porquê. Estamos lá trabalhando e tentando sobreviver”, contou.
Ganhando de 70 à 80 reais por programa, Gabryella contou que precisa trabalhar para se sustentar e ajudar a sua mãe doente, contudo a pandemia e um acidente de moto vem dificultando o exercício do seu ofício. Apesar de ter tentado mudar de emprego, a jovem relata não ser aceita quando descobrem se tratar de uma pessoa transexual.
COVID-19 E SOCIEDADE
Além de se preocupar com a ameaça de ser possivelmente assassinada enquanto tenta sobreviver em Maceió, Jady nos conta temer também a Covid-19. O risco de adoecer é constante e não afeta somente as garotas de programa. Jady diz ter tido uma queda no número de clientes atendidos, prejudicando a sua renda mensal adquirida.
“O coronavírus me assusta muito, não só a mim, mas também a todas. Eu sempre tô com álcool e gel máscara. Mas mesmo assim assusta. A pandemia reduziu muito antes eu atendia de quatro a seis clientes por dia. Agora se você atende um já é muito”, revelou.
Apesar de muitas pessoas romantizarem histórias de sobrevivência como as relatadas nesta reportagem, as mulheres aqui ouvidas deixam claro como é difícil tentar sobreviver em um mundo onde fecham as portas e não te dão oportunidade apenas por ser quem você é.
“Minha maior dificuldade é a sociedade que ainda nos exclui e acha que nós não somos capazes de executar qualquer função. Então não dá oportunidade para que nós possamos mostrar que também somos cidadãs, que merecemos oportunidade como quaisquer outros, não é por falta de qualificação, é de oportunidade, porque qualificação nós temos e muito”, desabafou Jady.
Questionada se recebia assistência social por parte do Governo Estadual ou da Prefeitura, a resposta foi negativa.
"Não teve nem uma assistência social, agora mesmo tá tendo aqui na grota do Rafael o programa Vidas Nova nas Grotas. Eu pedi uma oportunidade de serviço e me foi negada, o motivo eu não sei. Foi que nem eu falei anteriormente, qualificação temos, mas não dão oportunidade pra nós, trans”, protestou.
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