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14/09/2009 00:00:00

Polícia


Polícia
com cadaminuto // emanuelle oliveira

O potencial turístico da Região Nordeste tem trazido problemas que já começam a ser percebidos em Maceió. Assim como Natal e Fortaleza, a capital alagoana já faz parte do circuito do turismo sexual no país, embora em menor escala.

As belas praias, o calor intenso e o baixo custo de vida também favorecem a chegada, principalmente, de italianos, que devido à valorização do Euro – que custa aproximadamente três vezes mais que o real - desfrutam de restaurantes e bares da parte nobre da cidade.

Junto com o desenvolvimento proporcionado pelo turismo internacional, vem a prostituição, uma vez que algumas agências de viagens européias oferecem pacotes para o Brasil que incluem o serviço. O perfil desses turistas já pode ser especificado: Solteiro ou divorciado, com faixa etária entre 20 e 40 anos, classe média, mas considerados ricos para os padrões locais. Alguns estão acima do peso ou são carecas e procuram sexo pago e fácil.

Para a lei brasileira a atividade não é considerada crime, pois toda pessoa é dona de seu corpo e pode usá-lo como quiser. Porém, o crime está em manter casas de prostituição, viver às custas de prostitutas ou induzir alguém a esse tipo de trabalho. O turismo sexual tem sido reconhecido como uma das atrações turísticas de vários países do Sudeste asiático e da América Latina, inclusive no Brasil.

Assim como na prostituição doméstica, as mulheres que se envolvem com o turismo sexual geralmente têm pouca escolaridade, são de classe baixa, moram na periferia da cidade, usam algum tipo de droga e têm no mínimo um filho, fruto de relacionamentos que viveram na adolescência.

Em Maceió elas são agenciadas por taxistas e até italianos, que possuem pousadas, inclusive em outros municípios, como a Barra de São Miguel. Na alta temporada – janeiro e agosto, quando os europeus vêm de férias - bares e restaurantes oferecem festas específicas para esses turistas e acabam atraindo também prostitutas.

A reportagem do Cadaminuto investigou, durante três semanas, a movimentação em alguns desses locais. Ainda no aeroporto, os italianos são abordados pelas garotas e seus agenciadores, que sabem o dia em que vôos da Europa chegam a Maceió.

Lá, os serviços são oferecidos e os turistas ficam sabendo sobre os locais onde as festas são realizadas. Alguns vão para pousadas no bairro da Jatiúca, onde mulheres e também drogas passam a ser comercializadas.

Ás quartas-feiras e aos domingos, o restaurante Maravilha, localizado na praia da Sereia,promove uma festa, onde apenas italianos e prostitutas entram. Os homens pagam R$ 20,00 e para as mulheres a entrada é gratuita. Enquanto elas dançam no salão ao som do dj, eles escolhem a parceira e ali mesmo começam a trocar carícias, chegando a fazer sexo no local.

A segunda-feira Maluca do Orákulo já é conhecida pelos turistas e também pelas garotas de programa, embora a festa não seja específica para elas, que assim como os demais freqüentadores precisam pagar para entrar.

Já no Maikai e no restaurante Lampião, as prostitutas ficam do lado de fora do estabelecimento, abordando os turistas. Elas falam italiano fluente e algumas, já foram para a Itália com seus clientes, que em alguns casos, acabam virando namorados ou maridos.

O submundo do turismo sexual em Maceió

De acordo com um italiano, que se identificou como Enrico, um taxista conhecido como Cobra, com quem ele chegou a ir a alguns bares, costumava levar as garotas de programa até seu apartamento, no bairro de Ponta Verde. “Ele dizia que ia trazer ‘carne fresca’, se referindo a meninas jovens”, relatou.

 O Hotel Village Pratagy, administrado por italianos, também costumava promover festas para seus hóspedes e embora a maioria deles fosse casais italianos, o turismo sexual acontecia com discrição. O hotel fica a 17 km do centro de Maceió e a praia é praticamente exclusiva do empreendimento.

Segundo uma fonte, que preferiu ser chamada de Rose Araújo e que costuma freqüentar, principalmente, as festas do Orákulo e do restaurante Maravilha, no hotel também existia prostituição, embora houvesse mais critério para a entrada de mulheres.

“Nessa época não há turistas estrangeiros, por isso o hotel está fechado. Tem meninas que dançam e eu já consegui dormir lá com um italiano, também tem prostituição, só que por baixo dos panos e assim como nos outros locais, o programa custa em média R$ 150,00, mas tem meninas que fazem por menos”, relatou Rose.

Já uma fonte, que preferiu não se identificar, informou que algumas prostitutas eram recrutadas no hotel, onde faziam, inclusive, cursos para aprender a falar italiano. “Uma amiga minha frequentava o Pratagy.Ela conseguiu ir para a Itália, mas ultrapassou os três meses como turista e quando voltou, conseguiu um passaporte novo, sem carimbos do aeroporto".

Ela também contou que alguns italianos têm vindo a Maceió com o objetivo de levar garotas para trabalhar em Nápoles, no sul da Itália e que algumas chegam a ir para fazer testes em boates. “A maioria vai apenas dançar mesmo e outras para se prostituir. Da última vez que eles vieram, levaram três meninas de Maceió e duas de Salvador. Dão dinheiro para elas passarem pela fiscalização do aeroporto italiano ou pedem para dizer que vão estudar”, informou a fonte.

Um guardador de carro, conhecido como Cláudio, contou que só nos dias de segunda-feira as prostitutas freqüentam o Orákulo. “É só nesse dia que tem essas meninas, elas e os turistas já conhecem a festa. Provavelmente a direção do bar não sabe disso, acho que não tem menor de idade, porque pedem identidade”.

Turismo sexual x Autoridades policiais

O delegado Políbio Brandão, da Polícia Federal (PF) informou que a Polícia Civil é responsável por investigações desse tipo e que os crimes específicos envolvendo estrangeiros, como o tráfico de pessoas é que fazem parte das atribuições da PF.

“Se houver indícios de que estrangeiros estão levando brasileiras para fora do país para serem exploradas nós temos que coibir isso. Algumas sabem que vão se prostituir e outras são iludidas, com promessas de emprego e casamento. Eles apreendem os documentos dessas mulheres e elas já chegam lá com um dívida alta, entre passagem aérea e alimentação e acabam sendo escravizadas. Temos alguns inquéritos contra estrangeiros, a exemplo do caso de uma alagoana que morreu na Espanha”, explicou o delegado.

Brandão explicou ainda, que é difícil fraudar o passaporte, que é emitido apenas pela PF, devido aos elementos de segurança presentes nele. “De três anos para cá isso é quase impossível. Países que exigem o visto, como os Estados Unidos, favorecem menos a prostituição”, afirmou.



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