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Coronavirus
27/09/2020 03:00:00

Governo planeja "Dia D" contra a covid-19 na semana que vem

Saúde prepara ação para a próxima semana com orientações sobre "tratamento precoce", além de possível pronunciamento do presidente


Governo planeja

O anúncio de uma campanha nacional voltada à conscientização do cuidado precoce da covid-19 tem provocado ruídos na gestão do Ministério da Saúde, que andava se esquivando das polêmicas envolvendo falas do presidente Jair Bolsonaro relacionadas à pandemia nas últimas semanas. Um documento que, segundo o ministro Eduardo Pazuello, vazou para a imprensa, detalha a realização de um “Dia D”, com ações como a distribuição de um chamado kit covid-19, incluindo medicamentos como cloroquina, ivermectina, azitromicina, zinco, AAs e ibuprofeno. A pasta, contudo, nega a intenção de repassar os remédios, que não têm eficácia cientificamente comprovada para tratar a doença; especialistas avaliam a medida como uma tentativa de liberar os estoques.

“Cabe ressaltar que as ações não preveem a distribuição de medicamentos por nenhum órgão envolvido na iniciativa. Os repasses de insumos, remédios, equipamentos e recursos financeiros da pasta são viabilizados mediante solicitação formal de estados e municípios, de acordo com critérios estabelecidos em portarias específicas”, afirmou a pasta, em nota. Segundo o ministério, o objetivo é garantir o direito e acesso da população ao tratamento precoce e evitar o agravamento da doença, reduzindo complicações, internações e óbitos.

No entanto, a discussão inicial previa a distribuição dos kits, o que, segundo o general Pazuello afirmou a secretários de Saúde, está descartado. Esta não seria a primeira vez que o assunto é estudado pelo ministro que, em discurso de posse para efetivação do cargo, disse estudar a implementação dos medicamentos na Farmácia Popular. “Não só cloroquina. Todos os medicamentos do kit covid estão sendo discutidos para distribuição, também, na Farmácia Popular”, afirmou à época.

A realização do “Dia D” é esperada para 3 de outubro, com previsão de pronunciamento do presidente Bolsonaro para divulgar a ação. O anúncio do Dia do Atendimento Precoce, como chamou Pazuello, foi feito na 7ª Reunião Ordinária Da Comissão Intergestores Tripartite 2020 pelo próprio ministro. “Uma rápida chamada quanto ao dia do atendimento precoce, da conduta precoce, que é o dia 3 de outubro. (...) É o esforço nacional que o SUS está fazendo para divulgar as melhores práticas para que possamos salvar mais vidas”, anunciou durante o discurso inicial.

Pazuello ainda disse que a divulgação será feita em duas vertentes: “uma do paciente que tem que entender o que nós estamos falando com relação ao atendimento precoce e outra para o profissional de saúde, que tem que se sentir confortável na hora que prescreve uma medicação para poder fazer frente a uma doença tão inédita como a covid-19”. O general não citou o nome de nenhuma medicação.

A necessidade de diagnóstico e tratamento precoce é um consenso entre os gestores de saúde e médicos, que concordam que um atendimento no início da doença reduz as chances de complicações, internações e mortes pela doença. No entanto, Bolsonaro constantemente associa o termo “tratamento precoce” ao uso de medicamentos que não possuem comprovação científica de eficácia e defende a ministração da cloroquina sempre que tem chance. “Aqui (Palácio do Planalto), aproximadamente 200 pessoas foram acometidas pelo vírus. Não tive informação de nenhuma que foi sequer hospitalizada, porque, em grande parte, tomaram, não o 'remédio do Bolsonaro', mas o remédio que tinham”, discursou o presidente, com uma caixa da cloroquina na mão, durante posse do ministro Pazuello.

Críticas

A atitude propagandista do presidente ao passo do negacionismo da gravidade do cenário brasileiro frente à pandemia é rechaçada por especialistas da área. “Qualquer recomendação desses remédios é baseada em recomendações políticas e não científicas”, criticou a pneumologista e pesquisadora clínica da Fiocruz-RJ, Margareth Dalcolmo. Para ela, a campanha para que as pessoas não esperem a evolução dos sintomas é “útil, mas extemporânea”. “O alerta, que cabe em qualquer dia e não em um dia específico, é que se mantenham as medidas não farmacológicas recomendadas por todos os médicos, considerando que não há nenhum tratamento validado para a doença”, indica.

O especialista em Gestão da Saúde da Fundação Getulio Vargas (FGV) Adriano Massuda vê com preocupação a defesa do medicamento feita pelo presidente. “Isso é um absurdo completo porque não há evidência científica que indica o uso da cloroquina como medicamento para o tratamento da covid. O que está acontecendo é que os médicos, de maneira individual, podem indicar conforme a sua consciência. Transformar isso em uma ação de saúde pública, que remete ao histórico e à tradição dos programas de vacinação, é transformar essa iniciativa em uma ação coletiva e que pode trazer inúmeros riscos para população”, avalia.

O médico sanitarista e membro da FGV Walter Cintra preocupa-se com a veracidade dos fatos. “Se isso, de fato, é verdade e for acontecer a distribuição de kit com essa composição, deve haver uma judicialização porque, na minha interpretação, trata-se de um crime de responsabilidade do governo. Distribuir para cidadãos e cidadãs brasileiras, dizendo que é tratamento precoce, é uma mentira, é enganar o povo e jogar recurso público no lixo”, completa.

 

Estoques

Por divergências com Bolsonaro sobre prescrição desses medicamentos, dois ministros da Saúde deixaram o governo: Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Na gestão Pazuello, o ministério passou a orientar o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina, associado ao antibiótico azitromicina, desde o primeiro dia da doença. Os estoques de cloroquina feitos pelo Laboratório do Exército e Fiocruz para a covid-19 já se esgotaram. O ministério, agora, tenta distribuir os 2 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina que recebeu de doação do governo dos Estados Unidos. O produto, no entanto, foi enviado em embalagens com cem unidades e precisa ser fracionado. Essa operação tem sido bancada por estados e municípios que pedem para receber a droga.

Garoto-propaganda

Para bombar o evento, o Ministério da Saúde espera que o presidente Jair Bolsonaro trate do tema durante sua live semanal nas redes sociais, no próximo dia 1º. Na sexta-feira, dia 2, véspera do “Dia D”, o presidente ainda faria um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e tevê para divulgar o evento. O Palácio do Planalto declarou que não há previsão de pronunciamento de Bolsonaro em rede nacional.

Brasil bate marca de 140 mil mortes

Brasil rompeu a triste barreira das 140 mil mortes por covid-19, ontem, ao acrescentar 729 óbitos ao balanço do Ministério da Saúde. Apesar do alto número, esta é a primeira vez, desde maio, que o país não registra mais de mil mortes em pelo menos um dos dias úteis da semana. Os números, no entanto, continuam altos e devem levar o Brasil a ultrapassar a Bolívia em índice de mortalidade nos próximos dias. Em relação ao número de casos, foram somadas 31.911 infecções nas últimas 24 horas. Com isso, o país totaliza 4.689.613 de diagnósticos positivos.

A taxa de mortalidade brasileira, de 3%, coloca o Brasil na quinta pior posição do mundo entre os países com mais de um milhão de habitantes, com 660 vidas perdidas. Mesmo com a queda da média móvel, a atualização de mortes na casa de 700 por dia indica que o país está cada vez mais perto de ultrapassar os números da Espanha (668) e da Bolívia (663), países que ocupam o terceiro e quarto lugares do ranking negativo, respectivamente.

Por outro lado, a expectativa é de que a semana epidemiológica 39, que se encerra hoje, registre queda em relação à semana anterior. Para ultrapassar os números anteriores, as atualizações deste sábado teriam que superar os 51 mil casos e 1,3 mil mortes.

No entanto, a média móvel dos últimos sete dias, de acordo com o levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), está em 27.776 infecções e 678 óbitos.

Estados

Com elevados números de mortes, o país tem 23 das 27 unidades federativas contabilizando mais de mil mortes cada. Somente quatro estados ficam de fora da lista: Tocantins (910), Amapá (699), Acre (654) e Roraima (637).

Do lado oposto, no topo da tabela, estão São Paulo e Rio de Janeiro, com 34.877 e 18.166 vidas perdidas respectivamente.

Em seguida figuram Ceará (8.891), Pernambuco (8.129), Minas Gerais (7.056), Pará (6.427), Bahia (6.503), Rio Grande do Sul (4.574), Goiás (4.436), Paraná (4.318), Amazonas (4.000), Maranhão (3.703), Espírito Santo (3.485), Mato Grosso (3.325), Distrito Federal (3.175), Paraíba (2.778), Santa Catarina (2.723), Rio Grande do Norte (2.368), Piauí (2.085), Alagoas (2.046), Sergipe (2.010), Rondônia (1.328) e Mato Grosso do Sul (1.234).

Correio Braziliense



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