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Coronavirus
30/08/2020 01:00:00

Covid-19 continua presente em Alagoas

Relaxamento das medidas de isolamento social contribui para que a população cause aglomerações e ignore medidas protetivas


Covid-19 continua presente em Alagoas

Muita gente tem questionado se as recentes medidas governamentais que relaxaram, por assim dizer, as medidas de isolamento social em Alagoas foram tomadas com base em critérios científicos ou apenas pela necessidade de acalmar os ânimos de setores com influência na economia e de parte da população, ainda mais tendo em vista que 2020 é ano eleitoral. Na avaliação da infectologista, e gerente médica do Hospital Helvio Auto, Luciana Pacheco, não.

“O governo conseguiu ampliar o número de leitos hospitalares e de UTI tanto na capital quanto no interior e junto com as prefeituras abriram pontos de atendimento aos pacientes facilitando o acesso da população, reorganizou o Lacen, agilizando o resultado de exames, distribui testes sorológicos. Lidou bem com a pressão econômica no início da pandemia, mantendo o isolamento social enquanto foi absolutamente necessário e fez um protocolo de reabertura sempre baseado nos dados epidemiológicos”, diz a especialista.

Contudo, a infectologista ressalta ainda haver a necessidade de manter o alerta e as medidas protetivas, mesmo diante da redução de internamentos nos hospitais.

“Hoje temos redução significativa de pacientes internados e principalmente redução de óbitos em todo o Estado e principalmente na capital. Mas ainda temos muitos casos novos diariamente para nos sentirmos tranquilos. Pelo contrário, mostram que o vírus continua presente entre nós”, pontua.

“Inicialmente, o isolamento social empurrou o pico da epidemia para julho, dando condições para organização da rede de atendimento, as orientações de prevenção também colaboraram para isso e depois a população se infectou muito, principalmente entre maio e junho, fazendo agora cair a taxa de transmissibilidade. No entanto, haver notificação de cerca de 400 casos novos diários ainda é um número muito expressivo. Por isso, as recomendações para proteção à covid seguem as mesmas, não podemos nem um minuto. É no relaxamento que as pessoas se infectam”, completa.

‘SEGUNDA ONDA E REINFECÇÃO’

Luciana Pacheco também comenta sobre as aglomerações e que elas podem manter a circulação do novo coronavírus. Contudo, em sua avaliação, uma segunda onda da pandemia ainda não está e é preciso mais estudos sobre os casos “pontuais” de reinfecção.

“A preocupação é a atitude das pessoas de acharem que isso significa imunidade, que a pandemia é passado e os casos voltarem a acontecer em número mais elevado do que vemos agora. Nosso normal não será como antes até que tenhamos uma vacina eficaz e as pessoas sejam imunizadas adequadamente”, diz.

“Ainda estamos na primeira onda e vamos demorar um pouco a sair dela com segurança. Quanto à reinfecção, são casos pontuais que precisam ser bem analisados. É um vírus novo que não sabemos ainda tudo sobre ele. E mostram que a prevenção precisa continuar”, completa.

VACINA

Ainda de acordo com ela, exceto quando uma vacina estiver testada, aprovada e pronta para ser aplicada, a qual ela crê estar viável só em 2021, não há medidas novas a serem adotadas, mas é preciso o fortalecimento do SUS “na ampliação dos programas de saúde da família porque é bem provável que o vírus vá persistir endemicamente entre nós. Então é necessário ampliar esse olhar do cuidado. É importante também garantir a regulação de leitos no Estado que sempre foi muito difícil”.

Fortalecer a fiscalização e testagem em massa precisam de rigor

A cientista política Luciana Santana participa de um estudo que analisa as ações governamentais no combate à pandemia de covid-19. À Tribuna, ela analisa a postura do governador Renan Filho (MDB) até o momento e reforça a necessidade de fortalecimento na fiscalização das medidas protetivas.

“A decisão do governador por acompanhar prognósticos diferentes para cada região do estado para definir a mudança na classificação de risco na doença nos municípios parece acertada, requer cautela e muita vigilância”, diz.

“É preciso que governos estadual e municipais façam acompanhamento rigoroso da situação epidemiológica em todo o território, amplie a testagem dos suspeitos por covid, adotem estratégias de rastreamento dos casos, mantenham as medidas de distanciamento e que a população colabore com o cumprimento das recomendações sanitárias, especialmente evitando aglomerações, usando máscaras e higienizando as mãos com frequência”, completa.

Ainda segundo ela, “a análise dos registros diários de contaminados e mortos por covid-19 no estado nos últimos 31 dias nos permite apontar para uma relativa redução dos números no estado. Analisando a média móvel dos últimos 30 dias, é possível verificar uma redução na tendência de casos e óbitos, mas esta ainda é uma redução lenta”.

TESTAGEM EM MASSA

Os avanços na flexibilização das medidas de isolamento social têm sido adotados sob o argumento de que os índices de contaminação e mortes por covid-19 em Alagoas têm diminuído. Contudo, para Jonas Silveira, Observatório Alagoano de Políticas Públicas para o Enfrentamento da Covid-19, vinculado à Universidade Federal de Alagoas (Ufal), sem testagem em massa, os números oficiais podem ser artificializados.

“Essas tendências podem ser produzidas de maneira artificial por causa da testagem. Mas quero deixar claro que não estou afirmando haver manipulação dos dados. Não é isso! Os dados disponíveis é que são insuficientes para monitorar a pandemia. Pode ser que ela esteja caindo? Pode. Pode ser que não? Também pode”, comenta. “Existe uma incerteza tão grande com esses dados, que a tomada de decisão em cima deles não é informada, pois não dá para confiar nesses dados. Do jeito que as coisas estão sendo realizadas hoje, não dá para saber se os dados estão, efetivamente, diminuindo ou aumentando. Existe uma diferença entre tendência e magnitude. A gente pode até notar uma tendência suave de redução, mas isso não implica em dizer que situação está controlada ou estabilizando num nível baixo”, completa o pesquisador.

Para exemplificar seu ponto de vista, Jonas Silveira lembra que o Observatório apontou Arapiraca como novo epicentro da pandemia no estado, mas os últimos dados oficiais do Governo do Estado seguem em outra direção.

“Há 15 dias tinham cerca de 2.300 novos casos, no último boletim, tinham 350 casos, ou algo em torno disso. Nem que se tivesse feito lockdown seria possível uma redução dessa em tão pouco tempo. Esse tipo de informação começa a ser vinculada como se fossem verdades inquestionáveis, como se estivéssemos falando do melhor dado disponível, o que não é verdade. Não é possível que em quatro dias a gente tenha o ápice e depois uma queda desse jeito. Não há explicação que tenha plausibilidade biológica”, diz.

“Obviamente, isso foi por conta da testagem e não porque as pessoas estavam se contaminando menos. Foram feitos menos testes. Temos percebido isso, que a quantidade de testes é muito pequena no estado. Seu ápice foi em meados de maio, depois disso ela não aumentou. Fora que o tempo de resposta do RT-PCR, que é relativamente alto. Falam que os testes vão aumentar, mas entre as declarações e isso ocorrer, de fato, há um universo”, completa Jonas Silveira.

Ele também reclama de distorção de dados apresentados pelo Observatório.

“Em relação ao enfraquecimento do contágio, não dá para saber, pois a testagem é insuficiente. Isolaram uma parte do nosso boletim e espalharam que nossos dados estivessem sugerindo que em Alagoas já está tudo normalizado e que as coisas já podem voltar em 100%. Pegaram uma parte do boletim e desconectaram do contexto em que a gente fala, por exemplo, de testagem, das taxas de incidência em relação a outras regiões. Embora a gente coloque uma situação de regularização, não apontamos que as coisas estão caindo por duas semanas e está tudo bem no estado”, pontua Jonas Silveira.

Tribuna Hoje



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