A ofensiva contra a Lava Jato que 'une' esquerdistas, bolsonaristas e Augusto Aras
Pressão sobre o 'lavajatismo' acontece em momento de mudanças na estrutura do Ministério Público e de julgamentos sobre a operação no Supremo Tribunal Federal
Augusto Aras
Nos últimos dias, a operação Lava Jato tem sofrido críticas vindas todos os lados, inclusive de atores políticos que são adversários entre si.
ubiram o tom desde políticos de esquerda e advogados de réus da operação até aliados do presidente da República, Jair Bolsonaro, passando pelo próprio chefe do Ministério Público Federal (MPF), o procurador-geral da República, Augusto Aras.
A ofensiva também acontece enquanto o MPF começa a discutir mudanças profundas em sua organização, com a possível criação da Unidade Nacional Anticorrupção (Unac).
Procurador-geral da República, Augusto Aras, é um dos críticos da operação
Internamente, o momento é de fragilidade de Augusto Aras: na próxima segunda-feira (10), toma posse a nova composição do Conselho Superior do Ministério Público (CNMP), no qual o PGR deixará de ter maioria.
A saraivada de críticas coincide ainda com julgamentos que afetam a Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF)
Na terça-feira (04/08), a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), foi ao Twitter para comemorar decisões tomadas pela Corte.
"O STF acaba de reconhecer, em julgamento de HC da defesa de Lula, q Sergio Moro atuou politicamente em 2018 ao vazar ilegalmente delação de Palocci às vésperas da eleição. É oficial: Moro atuou para eleger Bolsonaro", afirmou.
No dia seguinte, quem partiu para o ataque contra a operação foi o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Em entrevista ao jornal O Globo, Flávio defendeu Aras nos embates com a Lava Jato, e disse que alguns dos investigadores têm "interesse político ou financeiro"
"(Augusto) Aras tem feito um trabalho de fazer com que a lei valha para todos. Embora não ache que a Lava Jato seja esse corpo homogêneo, considero que pontualmente algumas pessoas ali têm interesse político ou financeiro. Se tivesse desmonte das investigações no Brasil, não íamos estar presenciando essa quantidade toda de operações", disse Flávio.
Filho do presidente, o senador é alvo de investigações do MPF por conta de um suposto esquema de "rachadinhas" no seu antigo gabinete parlamentar na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Flávio também aproveitou a entrevista para cutucar o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e ex-juiz responsável pela Lava Jato no Paraná, Sergio Moro.
Segundo o filho do presidente, Moro deixou o governo porque "percebeu que não havia um alinhamento ideológico, no tocante às armas (ampliação do acesso a armas), por exemplo". Sem apresentar dados, disse ainda que a "produção" do Ministério da Justiça e Segurança Pública cresceu após a saída de Moro.
"Há de passar"
A nova fase das altercações de Augusto Aras com a Lava Jato começou na semana passada, quando o procurador-geral da República participou de uma transmissão ao vivo promovida pelo grupo de advogados Prerrogativas - do qual fazem parte profissionais do direito conhecidos por criticar a operação.
Aras diz aos advogados que é preciso "corrigir rumos" no MPF, de modo que o "lavajatismo" deixe de existir. "Lavajatismo há de passar", disse o PGR.
"A correção de rumos não significa redução do empenho no combate à corrupção. Contrariamente a isso, o que nós temos aqui na casa é o pensamento de buscar fortalecer a investigação científica e, acima de tudo, visando respeitar direitos e garantias fundamentais", disse Aras.