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Atualidade
26/07/2020 21:00:00

Cancelamento pode antecipar adeus de Interlagos à Fórmula 1

Por causa da pandemia, categoria máxima do automobilismo abre mão de corridas na América, incluindo o GP de São Paulo, que ainda não tem contrato para o ano que vem


Cancelamento pode antecipar adeus de Interlagos à Fórmula 1

Um dos circuitos mais tradicionais do automobilismo mundial, Interlagos entrou na rota de cancelamentos da Fórmula 1 devido à pandemia de coronavírus. Além de São Paulo, o grupo Liberty, que controla a categoria, anunciou que as outras corridas previstas para a América (Canadá, Estados Unidos e México) também não serão realizadas este ano em função das medidas restritivas que afetam a logística de deslocamento de pilotos e equipes. Pela primeira vez desde 1973, o Brasil deixa de sediar uma prova válida pelo campeonato mundial.

“Dada a natureza fluida da atual pandemia de covid-19, restrições locais e a importância de manter as comunidades e os nossos profissionais seguros, não será possível correr no Brasil, México, EUA e Canadá nesta temporada”, justificou em nota o Liberty, que realocou provas em três circuitos da Europa: Imola, Nürburgring e Portimão, em Portugal. “Embora seja decepcionante não poder competir nas Américas este ano, estamos ansiosos para voltar na próxima temporada e sabemos que as corridas em nosso calendário revisado continuarão empolgando nossos fãs e oferecendo novos desafios para as equipes e pilotos.”

O cancelamento do Grande Prêmio do Brasil, inicialmente previsto para 15 de novembro, pega de surpresa organizadores e, sobretudo, o Governo de São Paulo, que ainda contava com a manutenção da corrida. Há duas semanas, o governador João Doria (PSDB) afirmou que a prova seria realizada em cumprimento do contrato que vence no fim deste ano, garantindo que o Estado teria condições sanitárias de receber o evento. Na última quarta-feira, São Paulo bateu recorde de registros de novos casos de coronavírus, contabilizando quase 17.000 infectados em 24 horas. “A projeção mostra que em novembro estaríamos em uma situação bem melhor do que estavam países europeus que já tiveram a realização de GPs”, disse o prefeito Bruno Covas (PSDB) ao lamentar a decisão do Liberty.

Embora Doria siga reafirmando que o Estado tenha conversas avançadas para renovar o contrato com a Fórmula 1, o corte de Interlagos do restante da temporada pode significar o adeus definitivo do circuito ao calendário da categoria. Para tentar desbancar o já consagrado GP de São Paulo, o Rio de Janeiro, que foi sede de corridas em 1978 e de 1981 a 1989 com a pista de Jacarepaguá, ingressou novamente na jogada apoiado pelo lobby do presidente Jair Bolsonaro. No ano passado, o chefe do Governo brasileiro chegou a declarar que há “99% de chances” da Fórmula 1 voltar ao Rio. Antes de romperem politicamente, ele e o governador Wilson Witzel (PSC) se reuniram com executivos do Liberty a fim de encaminhar um acordo para receber corridas pelos próximos 10 anos.

No entanto, pesa contra o Rio de Janeiro o fato de as obras do novo autódromo ainda não terem começado. Entidades ambientais questionam os impactos da construção em uma área de floresta em Deodoro, na zona oeste da cidade. Idealizadora do projeto, a Rio Motorsports tenta agilizar a remarcação de uma audiência pública, adiada por causa da pandemia, responsável por aprovar o estudo ambiental da obra, última pendência para a celebração de contrato entre a empresa e a Prefeitura. Com custo estimado em 1 bilhão de reais, sendo 300 milhões captados via incentivos fiscais para pagamento de taxas à Liberty por duas temporadas da Fórmula 1, o empreendimento de parceria público-privada (PPP) espera seduzir a categoria a partir de uma garantia de lucros três vezes maior que a oferta de São Paulo.

Celebrado pelo mercado como um dos mais rentáveis eventos esportivos, o Grande Prêmio do Brasil atrai mais de 150.000 pessoas em seus três dias de provas. De acordo com o Governo paulista, no fim de semana da corrida, os hotéis da capital registram quase 100% de ocupação, sendo 77% de turistas estrangeiros, que gastam em média 3.000 reais e fazem com que o turismo da cidade movimente cerca de 330 milhões de reais, uma cifra superior ao montante gerado por eventos como o Carnaval e a Parada do Orgulho LGBT.

Além do impacto econômico, a perda do GP de Interlagos impõe um revés afetivo aos fãs do automobilismo no país, que acostumaram-se a ver triunfos históricos de pilotos brasileiros no circuito, como os de Emerson Fittipaldi (1973 e 1975), José Carlos Pace (1975), que hoje dá nome ao autódromo, Ayrton Senna (1991 e 1993) e Felipe Massa (2006 e 2008), último piloto a representar o Brasil no grid da Fórmula 1. Por ser realizado na reta final da temporada desde 2004, a prova também já consagrou seis campeões mundiais, entre eles Lewis Hamilton, maior piloto da atualidade. Com alterações anunciadas nesta sexta-feira, a etapa de desfecho da temporada será disputada em Imola, na Itália, em 1º de novembro.

El País

 



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