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Economia
15/06/2020 12:00:00

Analistas apostam em corte de 0,75 e aumentam expectativa de Selic a 2,25%


Analistas apostam em corte de 0,75 e aumentam expectativa de Selic a 2,25%
O Brasil deve passar a conviver com a menor taxa de juros da sua história a partir desta semana. É que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) volta a se reunir, terça e quarta-feira, para definir a taxa básica de juros (Selic) da economia brasileira. E a expectativa é de que, para tentar minimizar os estragos econômicos causados pela pandemia do novo coronavírus, o Copom faça um novo corte na Selic, levando a taxa básica de juros dos atuais 3% ao ano para a nova mínima histórica de 2,5% ou até 2,25%.
 
A Selic já sofreu dois cortes consecutivos desde o início da pandemia, passando de 4,25% para 3,75%, em março, e para os atuais 3%, em maio. Porém, o próprio Banco Central já admitiu que mais uma redução de juros é necessária para que a política monetária consiga fazer frente à crise econômica causada pela covid-19.
 
Na ata da última reunião do Copom, a autoridade monetária explicou que a pandemia gerou uma “recessão global com poucos precedentes históricos”, que será especialmente dura para países emergentes como o Brasil. Por isso, avaliou que “a conjuntura econômica prescreve estímulo monetário extraordinariamente elevado” e avisou que mais um corte de até 0,75 ponto deveria ser feito nesta semana.
 
O discurso só ganhou força com o passar do tempo, já que os indicadores começaram a mostrar o real tamanho do tombo econômico causado pelo coronavírus. O mercado financeiro, consequentemente, elevou de -4,11% para -6,48% a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil neste ano. Por isso, na semana passada, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avisou que o Copom, de fato, pretende baixar a Selic novamente para tentar estimular a recuperação da economia brasileira no pós-pandemia.
 
Campos Neto afirmou a investidores que o Copom continua percebendo a necessidade de “uma quantidade extraordinariamente grande de estímulo monetário” e, por isso, considera mais um ajuste monetário para levar a Selic ao patamar adequado para o enfrentamento econômico da covid-19. Ele reconheceu, contudo, que “existem limites potenciais para o espaço restante para o ajuste” e que a “variação de seu balanço de riscos aumentou”. Por isso, avisou que esse corte não será maior do que 0,75 ponto e que deve ser o último desse ciclo de redução da Selic, já que o órgão precisará de mais “informações sobre os efeitos adicionais da pandemia na economia, bem como um declínio da incerteza fiscal” para decidir os seus próximos passos.
 
O mercado especula, portanto, se esse corte será de 0,75 ponto novamente ou de 0,50 ponto. Porém, a maioria dos analistas acredita que a redução de 0,75 deve ser a aposta do Copom. Afinal, a situação econômica se agravou desde a última reunião do Comitê e até depois dessa última fala de Roberto Campos Neto, e justifica a redução da Selic para a nova mínima histórica de 2,25% ao ano.
 
Na semana passada, o IBGE revelou que a pandemia da covid-19 provocou dois meses consecutivos de deflação no Brasil, o que não ocorria há 22 anos. A deflação foi de 0,31% em abril e de mais 0,38% em maio. Por isso, a inflação acumulada nos últimos 12 meses caiu de 2,4% para 1,88%, ficando ainda mais longe da meta estipulada pelo Copom, que é de uma inflação de 4% em 2020, com um intervalo de tolerância que vai de 2,5% a 5,5%. E a tendência é de que esse índice caia ainda mais, já que, como reconheceu o BC, o Brasil ainda deve passar mais alguns meses com baixo consumo e baixa pressão de preços.
 
Por isso, o mercado financeiro já projeta uma inflação de 1,53% ao fim do ano, segundo o último Boletim Focus, e algumas casas dizem que esse índice pode até ficar abaixo de 1%. A XP é uma delas e aposta que o Copom usará todo o limite de 0,75 ponto de corte estipulado para esta reunião, com a Selic a 2,25%, para tentar estimular a economia e levar a inflação para mais perto da meta.
 
“A retomada vai ser muito gradual. A economia vai andar de lado por um tempo. Então, o cenário é de inflação baixa pela frente”, concorda o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Oliveira, que, por isso, também projeta um corte de 0,75 ponto na Selic e diz que essa nova taxa de juros de 2,25% pode perdurar por um bom tempo. “A situação está muito complicada. A recessão vai vir forte, com uma queda de até 8% do PIB, desemprego algo, demanda reprimida e inflação bem baixa. E o corte de juros pode ajudar a suavizar esse tombo, porque vai deixar a decisão de investir mais barata”, afirmou Oliveira.
 
“O mercado converge para um corte de 0,75 ponto porque as condições permitem essa movimentação. E reduzir os juros é importante para que, no momento em que o choque da pandemia começar a se dissipar, a retomada seja mais acelerada e isso permita alcançar a meta de inflação”, acrescentou o estrategista-chefe do banco digital modalmais, Felipe Sichel. Segundo ele, esse entendimento ganhou força por conta dos novos indicadores da economia mundial.
 
Previsão do Fed

O Federal Reserve (Fed), por exemplo, decidiu manter a taxa de juros dos Estados Unidos entre 0% e 0,25% na semana passada e disse que essa taxa pode perdurar ao longo de todo o próximo ano, já que a recuperação mundial também será lenta. Outros bancos centrais também reduziram seus juros para quase zero na pandemia. Por isso, os analistas brasileiros consideram que, mesmo cortando a Selic para 2,25% ao ano, o Brasil ainda poderá oferecer algum prêmio aos investidores. E ressaltam que, apesar de ter tido dias de mau-humor na semana passada, o mercado financeiro está bem menos estressado agora do que em maio, o que deixa o BC mais confortável em mexer na Selic.
 
O economista-chefe da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo, chegou a defender um corte de 0,50 ponto, por entender que seria precavido para o BC manter uma carta na manga caso seja preciso ajustar novamente a Selic mais à frente. Mas, agora, é a favor do 0,75 ponto de corte. “Parece que é um consenso. A dúvida, agora, é se o Copom vai interromper esse ciclo ou se vai deixar a porta aberta para um novo corte”, afirmou Espírito Santo, que, neste caso, prefere uma pausa nos ajustes da Selic até que o efeito econômico da pandemia fique claro, como defendeu Campos Neto.
 
Parte dos analistas, contudo, acha que o Comitê ainda pode voltar a fazer ajustes na Selic neste ano, mesmo que não indique isso agora. Até porque a covid-19 ainda pode causar mais estragos na economia mundial e não é comum, no histórico do Copom, que um ciclo de ajuste da Selic termine com um corte ou uma alta de 0,75 ponto. “Quando vai chegando ao fim de cada ciclo, é interessante ir testando o melhor patamar e isso condiz com um ajuste fino de 0,25. Mas o BC não deve se comprometer com isso agora. O comunicado deve ser bem cauteloso sobre os próximos movimentos, porque nós estamos em tempos de muita incerteza e o ritmo da retomada vai ser importante para o BC analisar o cenário à frente e avaliar movimentos adicionais na Selic”, explicou Sichel.
 
Diretor de política econômica do BC, Fábio Kanczuk reconheceu que, em momentos de incerteza econômica como esse, os membros do Copom mostram diferentes apetites ao risco e, por isso, também fazem contas diferentes na hora de decidir o limite da Selic. Assim, segundo Kanczuk, o órgão irá ponderar bastante nesta reunião sobre o tombo da economia brasileira e sobre o risco que o aspecto fiscal oferece, já que o aumento do endividamento público preocupa os investidores e tem deixado a curva longa de juros descolada da Selic.
 
Correio Braziliense
 
 


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