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Atualidade
13/06/2020 18:00:00

Novo biossensor detecta marcadores sanguíneos do mal de Alzheimer


Novo biossensor detecta marcadores sanguíneos do mal de Alzheimer

Pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP criaram um novo biossensor para determinação simultânea e rápida de biomarcadores sanguíneos do mal de Alzheimer. O novo método permite a quantificação simultânea de duas proteínas conhecidas na literatura médica (Fetuína-B e Clusterina) que, ao se encontrarem em concentrações alteradas no sangue, indicam o possível diagnóstico do mal de Alzheimer. Combinado a outras ferramentas, o sensor desenvolvido deve trazer, com baixo custo, maior confiança no diagnóstico da doença.

Os resultados do estudo foram publicados em artigo na revista de nanotecnologia ACSNANO. O método foi desenvolvido durante o doutorado da pesquisadora Laís Canniatti Brazaca no Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia do IFSC (GNano), sob a coordenação do professor Valtencir Zucolotto, e aperfeiçoado durante um estágio sanduíche realizado pela estudante na Universidade da Califórnia, em San Diego (Estados Unidos), sob supervisão do professor Joseph Wang.

Laís Brazaca: proteínas podem ser indício de diferentes estágios da doença – Imagem: Divulgação/IFSC

O biossensor é um dispositivo simples baseado em papel, no qual se encontram nanopartículas de ouro complexadas a anticorpos seletivos para os biomarcadores. A ideia é que, ao depositar uma simples gota de sangue no papel, em poucos segundos o biofluido escorre em direção aos anticorpos, permitindo que as proteínas Fetuína-B e Clusterina se liguem às nanopartículas de ouro e se concentrem em uma determinada região, uma ação que causa uma mudança de cor no papel de branco para rosa. O dispositivo, porém, ainda não foi testado com sangue, tendo sido somente avaliado em amostras ideais, contendo as proteínas estudadas.

Com uma simples câmera fotográfica, ou com a câmera de um celular, ambas ligadas a um software específico, será possível ver o resultado desse teste rápido e extremamente eficiente. Com esse resultado, os médicos poderão dar a melhor sequência no acompanhamento e tratamento precoce de seus pacientes. Com a propriedade de detectar os biomarcadores de forma rápida e eficiente, espera-se que o dispositivo auxilie no diagnóstico precoce do mal de Alzheimer a baixos custos. Espera-se, assim, que um número maior de pacientes seja diagnosticado e que o novo biossensor criado no IFSC auxiliará em estudos que visem a elucidar os mecanismos que provocam o desenvolvimento da doença.

Proteínas

Quando questionada sobre em que estágio da doença as proteínas Fetuína B e Clusterina têm suas concentrações alteradas, Laís sublinha que existem ainda poucos estudos disponíveis para que se possa responder com precisão. “Cada uma das proteínas apresenta comportamentos distintos frente à evolução da doença. A proteína Clusterina está mais associada a taxa de declínio cognitivo e pode ser encontrada em concentrações significativamente alteradas principalmente em casos mais avançados da doença. A proteína Fetuína B, por outro lado, pode ser um indicativo para o desenvolvimento da doença alguns anos antes do aparecimento de sintomas”, pontua a pesquisadora.

Professor Valtencir Zucolotto: Biossensor será capaz de realizar análise a custos reduzidos na área onde paciente reside – Imagem: Divulgação/IFSC

Em relação ao custo dos dispositivos desenvolvidos, durante as pesquisas os testes custaram, em média, R$ 50,00. Porém, com a ampliação da escala de produção e com a adaptação de algumas técnicas utilizadas no desenvolvimento do sistema, é possível que cada teste venha a ter um custo médio de R$ 10,00. Além disso, a expectativa dos pesquisadores é que testes com amostras de sangue possam ser realizados nos próximos meses, esperando-se que eles forneçam evidências sólidas relacionadas ao funcionamento prático do dispositivo.

Laís justifica o motivo de realizar a detecção simultânea de duas proteínas diferentes, destacando que o uso de dois biomarcadores, ao invés de um, faz com que a confiabilidade dos testes seja aumentada. “Em indivíduos de idade mais avançada, é possível que alguma das proteínas estudadas esteja em concentrações alteradas devido a outra condição que não o mal de Alzheimer. Utilizando dois biomarcadores, diminui-se a chance de realizar diagnósticos errôneos.”

O professor Zucolotto, coordenador do GNano, aponta as vantagens dos dispositivos frente aos métodos de diagnóstico atuais. “Atualmente, o diagnóstico da doença é realizado principalmente pela avaliação clínica, e exames complementares podem incluir a análise do líquido cefalorraquidiano, ou de técnicas de neuroimagem”, aponta. “Esses métodos são eficientes, mas apresentam várias desvantagens. O uso do líquido cefalorraquidiano, por exemplo, exige a realização de uma punção extremamente dolorosa e invasiva, especialmente em idosos.”

O dispositivo desenvolvido na pesquisa supera essa dificuldade a partir do uso de sangue, biofluido que apresenta coleta mais simples, menos invasiva e de menor custo do que o método anterior. “As técnicas de neuroimagem, por sua vez, necessitam de equipamentos e pessoal técnico altamente especializado, apresentando, por isso, custos elevados”, ressalta Zucolotto. “Além disso, essas técnicas dependem da locomoção do paciente aos centros de análise. O biossensor será capaz de realizar a análise a custos reduzidos na área onde o paciente reside.”

(Com informações de Rui Sintra, da Assessoria de Comunicação do IFSC)

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