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Opinião
26/04/2020 09:00:00

Uma breve análise da crise mundial e o Brasil de Bolsonaro.


Uma breve análise da crise mundial e o Brasil de Bolsonaro.

O mundo vive uma de suas maiores crises, devido à pandemia do novo coronavírus. Associada à pandemia, outra grave crise: a econômica, de dimensão universal. E, de tão grave, potencializada pela pandemia, dela nenhum regime político escapou.Independentemente da pandemia, se, por um lado, o capitalismo selvagem não tem sido capaz de promover as mudanças imprescindíveis ao bem-estar da sociedade, por outro, o comunismo ruiu.
Para não falar da China e, aqui próximo, da Ilha dos Castros (regimes fechados. totalitários); basta observar que, nos países onde partidos socialistas chegaram ao poder, mas se abstiveram da violência e do derramamento de sangue, como na Grã-Bretanha, em Israel ou na Suécia, além de outros, não foram implementadas medidas essencialmente socialistas. Nesses países, conservou-se a denominada economia mista, sob o pálio da democracia representativa.


Socialismo, no meu entender, nem pensar, porque sabemos que um dos resultados inevitáveis, mesmo tendo havido eleições democráticas para a chegada ao poder, seria a extinção da propriedade privada, contra a vontade dos legítimos proprietários, porque, no caso, a relação dominial estaria legitimada pelo ato jurídico perfeito à época de sua constituição. O que batizo de legítima é a propriedade adquirida sem vício, pura na sua origem.
Vamos focar este diálogo no Brasil, um País com grande potencial de riquezas, mas corroído por tantos males, sobretudo pela corrupção e pela improbidade administrativa, além do crime organizado. Não posso deixar de lembrar também a iníqua desigualdade social, que tem produzido tantas vítimas ao longo da História.


Aqui entre nós, a situação atual é bem pior do que a de alguns países africanos. Tem petróleo? Tem, mas não para fazer melhorar a situação da população. Tem ouro, tem uma agricultura pujante? Tem, mas o que rende o ouro, o "ouro negro" ou os grãos - que este ano bateram record de produção - para tantos brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza? Pois é.
A riqueza na mão de um punhado, e a pobreza esparramada, tal qual uma epidemia, de canto a canto. Vivemos hoje quatro grandes crises. A maior delas, evidentemente, é decorrente da pandemia do novo Coronavírus. Outra advém desse grande fosso que separa a Nação do Estado; outra mais é a desorganização da economia. O governo está mais perdido do que cego em tiroteio. Paulo Guedes não é aquele mago das finanças que o País esperava (se é que alguma magia teria o poder de colocar o Brasil nos trilhos). Por fim, a crise política, que se arrasta há décadas - e põe décadas nisso. Seguramente os socialistas teriam acabado com esse pedaço de terra tão promissor. Na história mais recente, entre nós, de esquerda mesmo, do meu ponto de vista, somente os governos Lula e Dilma. Esquerdistas, mas não socialistas. Vigeu, no período petista, um sistema de livre produçao com forte interferência do Estado. Quem ruiu não foi o sistema, foi o Brasil. O governo Bolsonaro não acertou os passos e, desde o início, tem tomado decisões erráticas, ou seja, sem prumo, sem direção, sem controle e sem lógica.

Só "Deus na causa".


Para piorar tudo, vem a crise política atual (a crise exasperada pelos últimos acontecimentos). Sinceramente, mesmo tosco e despreparado, acho que o Bolsonaro quer acertar, parece ser um sujeito honesto. Digo isso sem deixar de observar as notícias da ocorrência de "rachadinhas" no gabinete parlamentar dele e dos filhos, e sem esquecer dos depósitos na conta de sua esposa, efetuados pelo lendário Queiroz, que o Moro, com todo poder que tinha, não conseguiu localizar. Essas coisas precisam ser esclarecidas. Bolsonaro necessita parecer e, sobretudo, ser honesto, como a mulher de César. A franqueza tem sido seu maior atributo, reconheço. Ele é previsível. Eu mesmo imaginava que Moro não chegaria ao meio da gestão.


Com seu temperamento, o problema do Bolsonaro é o Bolsonaro.
Quanto ao ex-ministro Moro, o que dizer? Juiz mediano, ao receber no colo a condução da operação "lava jato", se projetou nacionalmente e, na minha modesta forma de enxergar os fatos, cometeu o maior erro de sua vida, deixando a magistratura federal para ser ministro de Bolsonaro. Primeiro, me perdoem os que gostam do Moro (eu sou um deles), faltou um pouquinho de ética na conduta do ex-juiz, justamente em razão de haver se tornado ministro de Estado depois de conduzir a grande operação de combate à corrupção e de condenar o ex-presidente Lula.


E mais: Moro não era político e aceitou ser ministro de alguém com quem não tinha afinidade e que, como disse, devido à sua previsibilidade, logo, logo, com ele entraria em choque. Não deu outra.


Não é o caso, aqui, de se falar em quebra de confiança ou de traição. Bolsonaro é assim. Ele só não desapega dos filhos, o resto...é resto. Acho pouco provável que Bolsonaro caia. Acho impossível o Brasil retomar o desenvolvimento nessa quadra pós-coronavírus. E haveremos de aguentar muita fome, muita dificuldade, muita quebradeira e muita asneira produzida pelo presidente, que vem se mostrando a cada dia, infelizmente, acuado e até desesperado.


A população brasileira precisa aprender a fazer suas escolhas, levando em conta alguns requisitos necessários à elevação de qualquer cidadão ao poder, requisitos que vão além da imprescindível honestidade, tais como programa de gestão e a construção dos princípios norteadores da chefia da Nação. E isso não pode ser feito apenas durante a campanha política. Nos países mais desenvolvidos, os postulantes a cargos importantes preparam-se para eles anos antes do pleito. Fortalecem seus conhecimentos de gestão e das leis do país.


Cumpre que o postulante ao maior cargo de qualquer País conheça a fundo os problemas orçamentários, estruturais, conjunturais, sociais e políticos da nação.


E Moro? logo, logo, será passado. Tudo é passageiro, tudo é fugaz, e o brasileiro tem memória curta. Moro, lá na frente, terá sido apenas mais um incauto que, por razões que ele bem sabe, deixou sua carreira na Justiça federal para passar vexame. Vexame, frise -se, previsível.


Moro não é nenhuma sumidade jurídica.Nunca foi. Seu valor está atrelado a seu histórico de honestidade e de coragem cívica. E isso é muito, em nosso meio, em nossos dias. Moro, merece, sim, os nossos aplausos, e como merece. Bolsonaro ainda pode reerguer-se.


Mas o Brasil precisa de muito mais. Precisa de um líder habilidoso, inteligente, determinado e que tenha a capacidade de promover a necessária união e acertar nas escolhas de homens e mulheres que possam, de fato, mudar o rumo das coisas em terras tupiniquins. Um líder com talento para construir pontes, e não para erguer muros.


Volto a dizer o que tenho dito sempre: tudo passa. E passa mesmo. Mas, às vezes, demora.

Eduardo Tavares

Procurador de Justiça – MPE-Al



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