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Política
11/02/2020 22:00:00

PT chega aos 40 anos com desafio de recuperar terreno perdido


PT chega aos 40 anos com desafio de recuperar terreno perdido

Fundado em 1980, na transição da ditadura para a democracia, o PT completa 40 anos nesta segunda-feira (10/02), avaliando como recuperar o terreno perdido com o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão e posterior soltura de Luiz Inácio Lula da Silva, e discutindo qual a melhor estratégia para fazer frente ao governo de Jair Bolsonaro.

Hoje com 1,5 milhão de filiados e a maior bancada na Câmara dos Deputados – empatado com o PSL – o PT surgiu como uma plataforma de movimentos e setores variados que lutavam pela redemocratização. Sob a liderança carismática de Lula, tornou-se um dos maiores partidos de centro-esquerda do mundo, em um país de território extenso, herança colonial e escravocrata e campeão de desigualdade.

Socialista democrático em sua origem, o PT fez ajustes de rumo após a derrota para Fernando Henrique Cardoso, em 1994, para ficar cada vez mais pragmático, conciliador e aberto a alianças com partidos de centro e de direita, em busca de melhorar a vida dos mais pobres sem ameaçar elites. Um processo que culminou na vitória do Lula "paz e amor" em 2002.

No Planalto, Lula foi hábil em reduzir a pobreza, promover crescimento via expansão do mercado interno e ampliar o acesso à educação superior, ajudado por um ciclo internacional favorável de commodities. Também viu o partido se tornar alvo do seu primeiro grande escândalo de corrupção, o mensalão, que mostrou a legenda eleita com forte discurso ético adotando práticas ilícitas.

A combinação de crescimento, redução da pobreza e articulação política eficaz fez Lula deixar o governo com 87% de aprovação, um recorde brasileiro. Dilma manteve ritmo semelhante até 2013, quando o esgotamento do modelo econômico, manobras contábeis, desonerações fiscais e má articulação política colocaram o país na rota rumo à maior recessão de sua história.

Lula (centro) e membros do PT em protesto contra privatizações em setembro de 1989© picture alliance/dpa Fotografia Lula (centro) e membros do PT em protesto contra privatizações em setembro de 1989

A recessão foi agravada pelo impacto da Operação Lava Jato, que mostrou um grande esquema de corrupção ligado ao PT e outros partidos e afetou a indústria da construção civil.

Dilma foi reeleita em 2014 por margem estreita, mas sofreu impeachment em 2016. Dois anos depois, Lula foi preso, condenado em segunda instância e solto apenas em novembro de 2019. É nesse momento de tentativa de superação de sua pior fase que o PT entra em sua quarta década de história.

A força atual da legenda

O cientista político Pedro Floriano Ribeiro, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) que estudou o PT por vários anos, afirma à DW Brasil que a legenda nasceu "muito diferente" de outros partidos, e que essa diferença foi diminuindo ao longo do tempo.

No entanto, segundo Ribeiro, o PT ainda se distingue de outras legendas por ter uma identidade forte, cultivada por uma militância ativa, e uma organização partidária funcional.

"O PT tem a marca partidária mais forte do país e é estruturador do nosso sistema político. Tanto que se fala muito do petismo e do antipetismo, e nunca do tucanismo e antitucanismo", diz.

Essa dimensão estruturadora da política é revelada por pesquisas de opinião que medem o percentual de eleitores que se consideram petistas e antipetistas. Uma compilação feita pelo cientista político Cesar Zucco, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a partir de diversas pesquisas, mostra que o percentual que hoje se coloca em um desses polos superou a metade do eleitorado em 2019, com 15,9% no polo petista e 34,9% no polo antipetista. O auge do petismo, por sua vez, se deu em 2012, quando alcançou 27,7% do eleitorado.

Entre todas as legendas, o PT também é a que tem o maior grau de identificação partidária da população: em abril de 2019, 14% elencavam o PT como seu partido de preferência, enquanto o PSL, na segunda colocação, tinha 3%, e o PSDB, 2% – 65% não tinham nenhuma preferência, segundo pesquisa Datafolha.

Essa marca forte pode ter efeitos positivos ou negativos, diz Ribeiro. Quando um líder do PT vai bem, o partido colhe os frutos, como na era Lula. Quando vai mal, como no segundo governo Dilma, é punido com força. Segundo ele, esse impacto não se observa com a mesma intensidade no caso de políticos com ligação partidária fraca, como é o caso de Bolsonaro e do PSL, pelo qual o presidente foi eleito.

A 'problemática' ascendência de Lula

Um dos dilemas do PT é sua relação com Lula, de quem o partido depende do aval em decisões fundamentais. O petista é desde a fundação do partido um ponto de referência para as diversas tendências que compõem a legenda, e seu grupo político, o mais influente.

Para Ribeiro, a relação entre o PT e Lula mostra uma "confiança cega, praticamente religiosa" em seu maior líder. "Ele é uma figura genial, mas comete seus erros", comenta, citando a escolha de Dilma como candidata à sua sucessão – figura de pouca vida partidária e sem experiência em cargos eletivos – e o atraso na definição da candidatura presidencial em 2018, usado pela fortalecer a campanha "Lula livre".

Contudo, diz Ribeiro, Lula foi a figura capaz de criar uma conexão mais próxima entre a camada mais pobre da população e o PT. Até 2002, "o eleitor mais pobre não votava no PT": era um partido de classes médias, como trabalhadores sindicalizados, parcelas urbanas universitárias, jovens engajados. "O eleitorado de menor renda votou no Collor [em 1989] e duas vezes no FHC [em 1994 e 1998]", diz.

Esse cenário mudou na campanha vitoriosa de 2002 e se repetiu nas eleições seguintes, quando a base popular atraída por Lula foi transferida para o partido. Esse vínculo com os mais pobres perdeu força durante a crise do segundo governo Dilma, e parte dessa parcela migrou para Bolsonaro em 2018.

"O PT depende do Lula para se manter como partido viável para a Presidência, mas, ao mesmo tempo, fica preso nessa relação e à mercê dele para ver que caminho tomar", diz.

Envolvimento com a corrupção

Os escândalos que atingiram governos do PT e seus líderes foram um dos principais flancos explorados pela oposição para desgastar o partido, simbolizado nos bonecos infláveis de Lula vestido como presidiário.

A Lava Jato revelou uma corrupção sistêmica, entranhada em diversas esferas de governo, ligada aos modos de financiamento de campanha e que beneficiava todas as principais legendas. Mas também mostrou como o PT aderiu a esses modelos de relacionamento com a coisa pública e como "diversas lideranças petistas abusaram" ao chegarem ao poder, diz Ribeiro.

Bonecos infláveis de Lula vestido como presidiário viraram símbolo do desgaste do partido

Msn



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