O medo mundial do novo coronavírus pode ser grande. Mas, para o Brasil, pelo menos neste momento, muito maior é a ameaça de velhas doenças. A dengue, a zika, a chicungunha, a febre amarela e o sarampo são doenças virais que o brasileiro realmente deveria temer e procurar se proteger, afirmam especialistas.
— Vejo com pessimismo o cenário para dengue e chicungunha, apesar dos esforços do Ministério da Saúde. Enquanto o Brasil não tiver saneamento básico, as doenças do Aedes aegypti vão nos acometer. Haverá um ano com mais casos, outros com menos, mas a tendência de crescimento será mantida. Para combater essas doenças, é preciso investir em saneamento e educação — destaca o virologista Pedro Vasconcelos, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.
Marzia Puccioni-Sohler, professora da UFRJ e da UniRio, lembra que o mosquito prefere água suja, mas se encontrar uma oportunidade dentro das casas, vai infestá-las também. Porém, não adianta ter cuidado com a casa e viver com um esgoto a céu aberto na porta.
A chicungunha é uma doença incapacitante, causa limitações físicas e impede a pessoa de trabalhar. Embora cause menos vítimas, tem uma taxa de adoecimento muito maior que a da dengue, por exemplo. Estima-se que 70% dos infectados desenvolvam sintomas que nunca são brandos e podem se prolongar por meses, às vezes por anos. E 16% dos doentes podem apresentar complicações neurológicas. Já a dengue pode levar a uma doença autoimune.
— Falamos de doenças graves. Como toda coisa nova, o coronavírus desperta atenção. Para o Brasil, agora, problema mesmo são essas doenças — afirma Marzia.
Para a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especialista em saúde pública e articulista do jornal O Globo, Ligia Bahia, o coronavírus é “um desafio que se soma e as estruturas da saúde já estão fragilizadas”.
Segundo ela, para combater a dengue, por exemplo, seria necessário fazer um conjunto de ações, incluindo inquéritos sorológicos (pesquisa com uma amostra da população para saber se já teve dengue e qual tipo), além de desenvolver uma vacina.
— Claro que o coronavírus vai fazer sombra (às outras doenças) porque o mundo está apavorado e carrega consigo uma ameaça do estrangeiro, enquanto a dengue é familiar.
Vacinação é importante
Apesar das campanhas dos últimos três anos, o Brasil ainda não atingiu a cobertura vacinal adequada contra a febre amarela. Vasconcelos observa que enquanto não tivermos a cobertura superior a 90% da população existirá o risco do vírus voltar a ser urbanizar. O sarampo também é um problema que não precisaria mais existir se as pessoas se vacinassem, acrescenta ele.
— Quem não se vacinou e tem medo de coronavírus deveria tomar a vacina e se livrar de um perigo bem mais imediato — salienta Vasconcelos.
No Rio, o risco de duas epidemias este ano, de dengue e sarampo, assombra as autoridades. O secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, fez um alerta: se as metas de vacinação contra o sarampo não forem atingidas, o estado pode ultrapassar os 10 mil casos da doença. Em 2019, a cobertura vacinal foi de 74%, quando a meta precisa ultrapassar os 95%.
Já o enfrentamento da dengue este ano é evitar uma epidemia tão grave como a de 2008, quando foram registrados 235.064 casos e 271 mortes.
Da AGÊNCIA O GLOBO
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